No nevoeiro da dúvida frio e escuro,
com um receio assustadoramente atroador,
lá se foram vincando algumas (mais atrevidas) questões.
Porquê mundo? Porquê amor?
Porquê tudo suave? Porquê tudo tão duro!?
Veio um e disse-me:
“Amor?
Vale pouco ou mesmo nada.
Agora faz-me lá um favor
e traz-me uma bem gelada.”
Não quisesse eu um esclarecimento
que me iluminasse o pensamento,
Permaneci.
Obstinado e pertinaz na certeza da minha perplexidade.
E outro:
“Numa situação tão atribulada
onde pouco tempo me resta,
(e o que sobra já não presta)
para tratar de tanta papelada,
vens-me tu melgar a cabeça
- a mim, que estou com pressa –
falando-me de um tal de amor,
essa história que já sei de cor?
Pega lá uma esmola
e vê lá se dás à sola!”
Dormente.
Estava dormente.
Dor. Mente. Doía-me a mente.
Procurava quem soubesse o que sente!
Até que veio outro e disse:
“O mundo? Esse é mero
Amor.
Aceite ou não o senhor,
cinquenta cêntimos o seu valor
mais que isso: exagero!”
Rui Gomes