A Igreja católica dos séculos XV e XVI
Martinho Lutero – apologista: a Igreja provedora das necessidades espirituais
Calvino e sua doutrina capitalista
INTRODUÇÃO
A obra mais importante de Max Weber, escolhida e listada, entre os cem melhores livros de não - ficção ou ensaios do século, intitulada: “A Ética e o Espírito do Capitalismo,” foi publicada em 1904, século XX. Essa obra trata de um movimento religioso – o protestantismo – que teve por precursor, Martinho Lutero. Weber após exaustivos estudos conclui que, há vínculos de extrema relevância entre o protestantismo e o capitalismo. Contrariando a convicção de Weber concernente a visão protestante – de forma abrangente, subtendemos que o precursor do luterismo, antes de tudo, foi um apologista da fé genuína, cujo objetivo maior, centraliza – em todas as eras – a salvação da alma, deixando-nos o exemplo em forma de ação. O seu objetivo: o exercício do maior de todos os mandamentos – o amor – demonstrado através do seu zelo e luta pela assistência espiritual aos fiéis, contrariamente ao acúmulo de riquezas. Em contrasenso, o calvinismo através de sua doutrina, de forma peculiar – eleição –, dá-nos mostra de haver uma conotação entre o conceito capitalista, segundo Weber, e o protestantismo de Calvino.
A IGREJA DA IDADE MÉDIA
Durante a Idade Média a Igreja Católica era reconhecida como única autoridade espiritual existente, não havendo salvação da alma fora dela. Ao longo dos anos, a Igreja concentrou poder, não apenas espiritual, mas material e político. Os seus altos mandatários estavam mais preocupados em exercer esse poder e em aumentar os seus domínios, do que se preocupar com as necessidades espirituais do seu povo. Os papas viviam em conflito com os imperadores, todos desejosos de obter mais poder político e econômico.
A situação se agravou no final da Idade Média, quando uma série de acontecimentos catastróficos – guerras, fome e peste – levou a população a total desesperança. Na Europa do século XVI, havia a necessidade de se encontrar apoio, em qualquer coisa, parecia que o mundo estava prestes a se acabar.
A venda de indulgências promovida pela Igreja Católica acalmou a situação. Entretanto, isso se revelou uma prática vergonhosa. Além disso, se comercializava qualquer objeto, com suposto valor religioso – troca pela salvação da alma.
Destarte, o Império Alemão se encontrava descentralizado, dominado por inúmeros príncipes e com grande parte de seu território pertencente à Igreja.
O membro da Igreja Católica de Roma – Martinho Lutero – preocupado e inconformado com o vil comércio das coisas espirituais; angustiado com a própria salvação, deu início ao conflito que dividiu a unidade cristã que prevalecera por toda a Idade Média – A Reforma, da qual originou-se o protestantismo.
Quatrocentos anos após, surge o conceito de capitalismo – segundo Max Weber:
(...) chamaremos de ação econômica “capitalista” aquela que se basear na expectativa de lucro através da
utilização das oportunidades de troca, isto é, nas possibilidades pacíficas de lucro. Em última análise, a apropriação do lucro segue os seus preceitos específicos, e, não convém colocá-la na mesma categoria da ação orientada para a possibilidade de benefício na troca. Onde a apropriação capitalista é racionalmente efetuada, a ação correspondente é racionalmente calculada em termos de capital.
A MOLA PROPULSORA DO ENSAIO HISTÓRICO – SOCIOLÓLICO DE WEBER
A percepção de Weber concernente ao fato de haver uma significativa diferença concernente a filiação religiosa e a estratificação social, entre os filhos de cristãos católicos, face aos filhos dos protestantes, o inclinou à pesquisa.
As transformações sociais e econômicas que aconteceram no cenário europeu, nos séculos XVII e XVIII, motivaram, impulsionaram Max Weber a pesquisar a relevância do notório desenvolvimento intelectual e capitalista da Alemanha que diferia do restante da Europa. Países como França e Itália vivia a revolução industrial, ao passo que, a Alemanha permanecia monárquica e agrária.
Weber aplicou a sua pesquisa a uma determinada região – vale de Ruhr. Constatou que, os filhos dos católicos se inclinavam à escolha de carreiras humanísticas; enquanto que os protestantes se dedicavam às carreiras técnicas. Consequentemente, os protestantes, se sobressaiam nas indústrias; direção empresarial e na tecnologia de alto nível. A constatação dos fatos, o levou às reflexões sobre a sociologia da religião, chegando a concluir que, alguns seguimentos religiosos, por sua fé e ética, contribuíram para a formação do espírito impulsionador da economia ocidental moderna, ou seja, do rigor moral existente nos dogmas calvinistas, surgiu o embrião do capitalismo: vocação - trabalho como religião -, visão ascética monástica capitalista.
FATORES QUE IMPULSIONARAM O CAPITALISMO RESPALDADOS NOS DOGMAS CALVINISTAS
Weber atribui à doutrina da predestinação – peculiar aos calvinistas –, o individualismo na busca do poderio econômico, vez que não havia salvação, sem que houvesse vocação. E, essa, direcionada unicamente ao trabalho como que religião. O fiel, não obteria a salvação sem que fizesse a sua parte, de forma exaustiva – demonstração de total vocação - caminho para a salvação. Esse, não esperava obter o favor de Deus através da Igreja, como mediadora - a salvação seria alcançada individualmente, através do esforço próprio, pela vocação - trabalho.
Destarte, não havendo mediadores entre esses e Deus - meios externos de se obter a salvação – e, buscando-a desesperadamente, tornou-se imprescindível a identificação própria, através dos requisitos necessários, para os escolhidos – eleição. O exercício dessa vocação garantiria a própria salvação – segundo os estudos de Weber –, o êxito profissional, seria distinção na identificação da própria eleição.
Faz-se necessário salientar que, trabalho gera riqueza, e assim, sucessivamente - ascensão econômica.
Para esses seguidores o que objetivava a riqueza, era o dever de estabelecer o Reino de Deus na terra, visando a glória de Deus. O dinheiro não seria empregado em coisas fúteis, tipo: diversão, o seu objetivo seria gerar capital: “riqueza gera riqueza – doutrina da avareza.” Segundo o entendimento de Weber, o dogma central do protestantismo, a salvação, não se encontra na superação moral ascética monástica – no isolamento ou afastamento do mundo em busca de santificação – mas no dever secular, imposição do mundo – o homem vale pelo que produz; por sua posição social – visão capitalista. Acaso, não foi essa a visão da Igreja da Idade Média? A busca pelo acúmulo de bens materiais em detrimento da assistência espiritual?
(...) vocação, nenhuma obra tão ignóbil e vil haverá de ser que diante de Deus não resplandeças e sejas
tida por valiosíssima.
A DESCOBERTA DE WEBER DE ENCONTRO AO EVANGELHO
Weber entendeu que todos os ramos religiosos protestantes, seguiam um dogma central – vocação – e, que esse dogma, era tipo: “a vocação profissional conduz à salvação” – entendimento antagônico ao evangelho segundo Jesus Cristo – explicitando os dons ministeriais:
( Ef 4:1) Rogo-vos, pois, eu, apóstolo de Jesus Cristo, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados.
(Ef 4:2) Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros em amor.
(Ef 4:3) Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
(Ef 4:4) Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação.
(Ef 4:11) E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
(Ef 4:12) Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo;
(Bíblia Sagrada)
Destarte, segundo o entendimento de Weber, o dogma central do protestantismo, a salvação, não se encontra na superação moral ascética monástica – no isolamento ou afastamento do mundo em busca da santificação – mas no dever secular, imposição do mundo – o homem vale pelo que produz; por sua posição social – espírito capitalista. Acaso, não foi essa a visão da Igreja da Idade Média? A busca pelo acúmulo de bens materiais em detrimento da assistência espiritual?
O espírito do capitalismo segundo Weber, deve ser entendido como uma ética de vida – a dedicação ao trabalho e a metodologia de se adquirir riquezas, de forma incansável, contínua, como um dever moral. A riqueza, não deve ser usada em esbanjamento, mas para gerar mais riqueza: (...) “Tempo é dinheiro;” “dinheiro gera mais dinheiro;” “O bom pagador é dono da bolsa alheia,” ( Máximas de Benjamin Franklin).
A ênfase de que a glória de Deus resplandeceria através da ascensão profissional dos seus eleitos, lançava-os ao trabalho, dessa forma tinham a confirmação do chamado ao Reino de Deus e mais ainda, desejavam ver esse Reino estabelecido - a exaltação a Deus estaria em um povo próspero e justo, em todas às áreas.
EstherRogessi, Escritora UBE Mat. 3963 Texto: O capitalismo de Max Weber. Fonte: Web. 10/03/11