Sim, não quero respostas; mais ainda: todas as respostas me parecem insubsistentes, impermanentes. Procurar algo, alguém durante a vida inteira — faz sentido? Existiria algo, algum bem nesta vida de efemeridades que poderia ser considerado o ser-objeto de tal busca? Descreio... tudo foge, como foge a areia sob os nossos pés quando o mar reflui na rasura...
E tal ser-objeto, uma vez laçado, isto mesmo, laçado para estar em nossa posse, tão logo se visse nesta prisão, não deixaria de ser o que é, para ser apenas uma coisa da qual logo nos cansaríamos? Um ser marcado exatamente pela amargura de "ser posse", um ser sufocado, um pássaro de asas cortadas?
Por que não concordar com Jorge Luis Borges, sobre a posse do Ontem? O Ontem é tudo que possuímos — “Sei que perdi tantas coisas que não poderia contá-las, e que essas perdas, agora, são o que é meu... Só o que morreu é nosso, só é nosso o que perdemos... Todo poema, com o tempo, é uma elegia. São nossas as mulheres que nos deixaram, não mais sujeitos à véspera, que é angústia, e aos alarmes e terrores da esperança. Não há outros paraísos senão os paraísos perdidos”.
Encontrar o quê... nesta vida para sempre incompreensível? Encontrar sim... para logo perder? Nunca sei ao certo para onde voar; mas ainda assim, eu quero voar! E quem me sufoca numa posse ainda que silenciosa, quem me tem preso numa cadeia de deveres ditados pelo meu forte senso de responsabilidade — tem o melhor de mim?
Ah, eu quero, e também não quero ter ninguém, exceto na impermanente duração de um gozo, na vigência do desmoronamento do tempo encetado pelo gozo... Eu quero encontrar alguém disposto ao não-encontro, à não induzir perdas em minha vida.
A fuga da posse — existe, é possível? Essa tem sido a minha fuga...
Eu não disse nada; encerro para não apagar as palavras!
[Penas do Desterro, 02 de março de 2011]