Eu olho, enquanto sigo, a antiga sombra
que andeja no meu passo,
a sombra minha -
projeção de ser volante,
coisa entre as coisas que o tempo espezinha.
Arte a amoldar-se no fumo nas furnas,
crença a evolar-se do sangue na arena,
foge entre as pernas que dançam na noite,
mergulha nas águas que a guerra envenena.
Perdida no tropel dos séculos que avançam,
ressurge aqui e ali, num ou noutro país.
Ergue-se da estrada de Damasco.
Treme entre os lampiões de Auschwitz.
Acorre ao átrio do Templo de Delphos.
Queda ao pé da esfinge milenária.
Em tudo a encontro, me segue,
como se necessária.
Segue-me, inevitável.
Vara comigo a neblina.
Até que a noite em minh’alma
ao sol descerre a cortina.
Porque não projeta a sombra
o ser quando enxerga em círculo
e, por sua vez, ilumina.
Poema de Sersank (Do livro "Estado de Espírito")