Nunca se lhe viu um sorriso, apenas lágrimas no buço.
Nunca se lhe ouviu um riso, apenas gemido e soluço.
De noite como de dia, banhava na tristeza.
Porquê? Ninguém o sabia; Ninguém tinha a certeza.
Não era pobreza, nem vergonha, nem azia; não tinha apenas um brinquedo, tinha milhares
mas raramente brincava e quando o fazia, fazia-o sozinho e longe dos olhares.
Não tinha nem um amigo, nem um irmão, com quem brincar, com quem falar.
Só, Solitário, solidário da solidão. Sem nada para dizer, preferia se calar.
De dia, a mãe preparava bolos a moda antiga mas o menino não comia.
A noite, a mãe embalava-o com uma cantiga mas o menino não dormia.
Encostava o rosto a almofada e chorava toda a noite até amanhecer.
Via na cabeça uma visão, uma facada, um rosto que ele preferia nem conhecer.
Recordava aquela noite de chuva e de frio em que os pais foram ao teatro
Ficou sozinho em casa com o tio, trancados, no quarto.
O homem pegou no menino nos seus braços e com força atirou-o para a cama.
Tirou prazer com os rins e com abraços; durante horas gozou o sacana.
No fim, o tio fitou o teto com um sorriso estampado no rosto.
O menino ficou quieto, vazio, devastado pelo desgosto.
Nunca falou dessa noite a ninguém. Tinha vergonha, sentia-se culpado
mas não é culpado quem nunca pecou nem tinha pecado.
Nada fez por merecer o sucedido mas desde então ficou preso no passado
O menino estava perdido, o menino estava cansado.
De noite como de dia, banhava na tristeza.
Porquê? Só ele e o tio o sabiam; Só eles tinham a certeza.
Para quem não tem paciência de ler tudo, basta ler a primeira metade de cada verso. Não muda o fundo, só muda a forma.