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AS PERIPÉCIAS DE UM AMOR

 
 
AS PERIPÉCIAS DE UM AMOR

DRAMA EM 2 ATOS

PERSONAGENS

ROGÉRIO – MÉDICO 40 ANOS MAIS OU MENOS
SOLANGE – ESTUDANTE DE JORNALISMO 20 ANOS
RENATO – AMIGO DE RICARDO TAMBÉM COM 40 ANOS
O ESPECTRO DE LARA – SOMENTE UMA VOZ
CLARA – 50 ANOS, MAS EXTREMAMENTE ENVELHECIDA


Cena 1

Cenário casa de Rogério – um apartamento funcional no Leblon, tipo um flat.

Pudesse tanto amor traduzida esperança
Viver o quanto quero e sei que agora alcança
Depois da tempestade algum momento em paz
Verdade não se cala e novo passo traz

Quem procura decerto aos poucos já se cansa
Só sei que do que sei a vida ao não me lança
Pudera após a queda um dia ser capaz
De sentir finalmente o quanto satisfaz

Deixando para trás os enganos comuns
Momentos de alegria, eu sei que tive alguns
A sorte traiçoeira expressando o vazio

Tanto quanto eu pudera ainda desafio
Bebendo mais um gole esta aguardente dita
Lembrança do que a vida ainda diz, aflita.

Se eu feliz um dia, agora me cansei
Depois de procurar a luz em cada grei
O amor já nada vale e sei quanto pudera
Trazer sem serventia a solidão, quimera

Até que na verdade; algum momento; ousei
E desta sensação ainda o que cantei
Explode sem saber se resta primavera
Depois de estar calado o mundo traça a fera

Atocaiada sorte em tom quase venal
Matando o que me resta em ritmo desigual
De Lara nem notícia, a vida segue assim,

Do filho que ela espera à sombra no jardim,
O medo desarvora e traça sem sentido
O quanto desejei e agora dilapido.

Ricardo há tanto tempo eu sei que se escondeu
Nem atendendo mais algum chamado meu
A noite se aproxima, o dia recomeça
Amor já não passara ao menos da promessa

Inebriadamente o todo se perdeu
Num passo sem sentido e nisto se perdeu
O rumo desta vida enquanto além tropeça
Vivendo sem saber o quanto se confessa

Do sonho mais agudo ou mesmo pesadelo,
E quantas vezes tento enfim poder vivê-lo,
Amor que sem juízo invade outro planeta,

E mesmo quando possa em vão já se arremeta
A porta já fechada; o tempo nega tudo
Querendo ao menos paz, ao fim me desiludo.


Perdendo alguma chance ou mesmo acreditando
Transito no não ser e vejo em contrabando
Singrando este oceano em plena fantasia
E quanto mais anseio eu sei não poderia

Viver a plenitude e mesmo desabando
Castelo de ilusões cabeça já rodando
Imagem misturada em torno do que um dia
Gerasse algo maior, em luz ou alegria.

Inútil caminhar em meio aos pedregulhos
O todo não traria ainda tais mergulhos
E envolto na saudade, um gole ou outro além

Apenas o não ser ainda me convém
Depois da tempestade ausência de bonança
E neste tempo escuro, o passo enfim me lança.



Recomeçar a vida é tudo o que resta
Quarenta anos de sonho, aberta nova fresta
Viver cada momento e que se dane tudo,
Assim sem ter mais pejo, aos poucos me transmudo,

A noite nos convida e traz em cada festa
Nova oportunidade e assim a sorte atesta
E mesmo que talvez em tom audaz e agudo
Ficar aqui parado? Um ancião sisudo?

Partir para a balada e ver o que virá
Vibrando em novo amor, e começando já
Passado sem proveito? Aproveito o futuro

E tudo o quanto quero amigo eu asseguro
Que vale sempre a pena o beijo sensual
No que deixei atrás a velha pá de cal.

A noite fervilhando e nela se apresenta
A sorte desejada e venço esta tormenta,
Uma boate e basta. A noite nos convida
E dela se refaz o que perdera em vida,

A solidão só traz a dor que sempre aumenta
Ligar para Renato, e o todo se incrementa
Deixando esta saudade há muito amortecida
Vivendo o que interessa encontro em tal saída,

O brilho dos neons em noite e fantasia
Ainda quanto possa encarar a alegria
Que dane-se a vadia e seja então feliz,

E ter o mais queira além do que já fiz,
Quem vive do passado, eu sei vira museu
E o mundo se renova e sei que é todo meu.


Cena 2

Num bar, sentado com Renato numa mesa enquanto a música rola em ritmo de dance com belas mulheres à volta. Olha fixamente para uma com seus vinte anos e convida-a para sentar. Ela se aproxima e se apresenta.

“Tudo bem? O meu nome é Solange, e o teu?”
Rogério; e que prazer. Em ti se percebeu
A gata mais bonita, e posso até dizer
Bem mais do que eu mereço e nisso passo a crer

Na sorte sem medida, e assim me convenceu
Que existe na verdade além do imenso breu
A vida em tal clarão e nele passo a ver
A estrela mais bonita que pude conhecer.

Renato, meu amigo; e sente-se querida,
Renascendo em Solange, eu sei, a minha vida
Depois de tanto tempo, enfim a claridade

Tomando este cenário enquanto agora invade
Mudando a direção do imenso vendaval,
Quem sabe a sorte trace um rumo desigual?


Perdoe se pareço um tanto complicado,
Meu mundo eu te confesso, está meio virado,
A solidão me trouxe o medo de sonhar,
E quando te encontrei revejo devagar

O todo que pensei há muito abandonado
E a vida anunciando em seu claro recado
Um mundo aonde eu possa até imaginar
Que a sorte se apresenta em novo clarear.

( Renato se levanta e se despede)

“ O quê que você faz, Rogério? Não esconda.”
Sou médico, querida e adoro pegar onda,
Agora num plantão eu levo a minha vida,

A idade vai chegando e você, pois querida?
“Eu faço jornalismo e busco com certeza
Somente ser feliz, em vida sem surpresa.”


Também é o que preciso e nisto já se vão
Quarenta anos querida e sei da dimensão
Da vida sem sentido e quando se aproxima
Uma esperança o tempo explode em novo clima,

Mas vivo com certeza em busca da emoção
Que possa traduzir além da direção
Do barco onde se quer e nisto na auto-estima
O tanto desejado enquanto a vida prima

Por ter após a queda outro momento e sei
Do privilegiado anseio onde busquei
Viver cada momento até que se perdendo

Traçar deste cenário um novo, e sem remendo
Das cinzas renascer e ser bem mais audaz,
E nisto com certeza o amor deveras traz.


Jogado sobre o quanto ainda imaginara
A luta se transforma em noite imensa e clara
A lua adentra a fresta e gera novo estilo
Enquanto sem temor, assim tento e desfilo,

Vagando aonde possa imaginar seara
Tão bela que se veja a vida imensa e rara,
Os erros do passado? Agora mal perfilo
E vivo em plenitude e nisto sem vacilo

Seguindo cada raio e nele outro momento
O sonho desejado em paz eu alimento,
Quem dera se pudesse em expressão suave

Viver o quanto tenha e nada mais agrave
O canto de um poeta há tanto sem surpresa
Jogando cada carta exposta sobre a mesa.

“Embora seja nova, a vida me transforma
E bebo uma cerveja, e sei do que se forma
A cada geração a mesma e velha história
A solidão explode e busco uma vitória,

A luta se desenha e nisto o que me informa
Explicação que tento atenta em velha norma,
Juntando cada caco, ainda quero a glória
Do amor que já se foi e nele a merencória

Vontade anunciando o tanto que se quer,
Sem ter uma certeza e nem mesmo sequer
O rastro do cometa aonde se desenha

A luta sem igual, e nada mais contenha
O coração que queira após a tempestade
Apenas a bonança e a luz que agora invade.”

Deixemos para lá o sofrimento e a dor,
Vivendo este momento e seja como for,
Tu tens esteja certa a boca mais bonita
E um beijo tão somente esta alma necessita

E sei do que talvez ainda irei propor
Um colibri quem sabe encontra em ti a flor
Minha alma dolorida, às vezes mais aflita
Explode em alegria ao vê-la e quer e fita,

Olhar como horizonte aonde possa então
Viver cada momento em paz ou sensação
Diversa da que tanto outrora conheci,

Beijar a tua boca, e ver o mundo em ti,
Uma esperança a mais, e dela me alimento,
Depois de tanto tempo, à luz deste momento.

- beijando-a levemente é logo correspondido.


A noite ora me exige um complemento e quero
Deveras depois disso, e sendo mais sincero
Aqui já não comporta o quanto que se quis
Vivendo imensamente o ser e além feliz,

A vida nos convida e quanto tempo espero
Singrar este oceano etéreo após o fero
Sentido em solidão e sei e peço bis,
No palco da emoção o ator deseja atriz,

Sigamos noite afora e sem nada que impeça
Façamos da esperança a nossa imensa peça
Sabendo nem que seja apenas um segundo

Em ti querida eu tento e sei quanto me inundo
Sem nada além de nós um tempo em esperança
E nele o que se quer agora a sorte alcança.

Saindo os dois do bar, em direção ao prazer...


Cena 3,

Um motel Solange e Rogério abraçados, conversando calmamente após...

Há quanto tempo não tinha uma noite dessas...
E quando se imagina o fim tu recomeças.
Porém querida eu sinto às vezes tão distante
O olhar que me envolvera; um tanto provocante.

As noites divinais e nelas sem ter pressas,
Mas vejo que pra além os sonhos endereças
Talvez até me engane, ou mesmo se garante
Defesas tão sutis, e a cada novo instante...

A vida me ensinou, perdoe minha amiga
Que quanto a sorte muda e a gente não consiga
Vencer cada temor; aumentam-se defesas

As cartas não se vêm expostas sobre as mesas
E assim talvez por medo ou mesmo noutra face,
O quanto se procura a gente não mostrasse.

“Depois de tanto tempo envolta no vazio,
Decerto algum momento eu tento e desafio,
Mas é tão complicado agir escancarando
O olhar sem horizonte? O trago desde quando

O mundo desenhara além do desvario
A imensidão de um não, exposto em ar sombrio,
Eu tento e até consigo, um dia disfarçando,
Porém vejo o castelo em mim já desabando.

A dor que se apresenta explica o meu passado,
O amor que nunca veio, o passo abandonado,
A mãe louca e doente, o fim sem ter começo,

Talvez alguma escusa, enfim eu sei mereço,
Mas tento de tal forma esconder o que sinto,
Vulcão de meu desejo eu sei, jamais extinto.”

Perdoe se te falo, ou mesmo se inda tento
Trazer o que em verdade explode em sofrimento,
Apenas não consigo e nunca mentiria
O sonho vale a pena; e viva a fantasia,

Mas quando se observando e estando mais atento,
Percebo que se foge além o pensamento,
E o quanto fosse bom às vezes perderia
Por um detalhe ou outro a força em sincronia,

E quando isso acontece, eu sinto e sei diverso
Do quanto desejei e neste encanto imerso
Traduz alguma fonte e nela em horizonte

Disperso do ideal, ainda já desponte
A bruma de um passado, ou mesmo do presente
E o olhar que ensimesmado às vezes se apresente.


“A vida tem em si detalhes dolorosos
E quanto mais se pensa em temas pavorosos
A gente se afastando aos poucos do real
Expressa o que se sente, às vezes bem ou mal.

Caminhos que procuro enquanto caprichosos
Escondem na verdade os sonhos majestosos,
E ao fim o quanto resta em ar tão desigual,
Impede que se tente algum novo degrau.

Aprendi muito cedo a coordenar os passos
Envoltos pela noite em raios tão escassos,
E assim ao desnudar minha alma sem cuidado,

Bebendo bar em bar, um tempo desenhado
Na adolescência morta envolta nos mistérios
Do amor que se fez frio, em falsos vãos critérios.”

“Crisálida abortada, a larva continua
E segue sem sentido, envolta em noite nua,
E um gole de cerveja ou mesmo de aguardente
Presume que se possa ousar e ser contente,

A senda mais atroz, andando em cada rua
Bebendo da esperança em nova e clara lua,
A filha tão amada, o nada que aparente
Em frágil estrutura agora se arrebente,

Talvez já pouco importe o quanto eu sinta ou não,
O sol extraviando enfim a direção
Levando para além o que tu viste aqui,

O medo sem encanto, amor que nunca vi,
Desejo que se mata, a marca da pantera
Apodrecida e morta, apenas numa espera.”


Solange, por favor, não sou o que tu pensas,
As horas do teu lado em doces recompensas
Fizeram deste caos um novo ser, garanto,
E o todo que se erguendo em novo e belo encanto

Permite-me que tente além do que convenças
Ousar em ser bem mais que noites vagas tensas
Gerando dentro em ti, quem sabe um novo canto,
Ou mesmo aliviar algum torpe quebranto,

Não temas minha voz e nem sequer meu sonho,
Apesar do sofrido um tempo ora componho,
Preciso estar contigo e tenho o que falar,

Além de na verdade estar e te escutar
Unindo a caminhada em busca da manhã
Talvez a nossa voz não seja tão malsã.


O sol está nascendo e a vida deve além
Tu tens a faculdade e o meu trabalho vem
Já nada mais agora eu posso aprofundar,
Porém a nossa história ainda há o que falar,

E quando se aproxima e sente o quanto bem
Transmite cada frase, o todo nos provém
E sinto que talvez à noite, o mesmo bar,
Encontre do teu lado, aonde navegar,

Espero-te decerto e sei que tu virás
Há tanto por dizer e sinto em ti a paz
Que um dia procurei e nunca imaginara

Poder já renascer em mim após a escara,
Assim querida amiga, as oito lá te espero,
Eu sei do quanto quero e sabes, sou sincero.

“As oito eu estarei e não irei fugir,
Preciso te encontrar e sei que meu porvir
Talvez eu possa crer estar ao lado teu,
Depois do que em verdade a vida não me deu

Um sonho pra sonhar, e não irei fingir,
O tanto que se vendo expressa este elixir
E nele o quanto sinto em nós se concebeu
Amigo, amado amante, o encanto todo teu

Explode mansamente e toma dentro da alma
A sensação divina agora que me acalma,
E possa estar bem certo, o tempo não se nega

Durante tanto tempo andando amarga e cega,
Quem sabe eu possa enfim saber felicidade?
Ou mesmo o que me aplaque um pouco a crueldade”.


Despedem-se.


Cena 4

No mesmo bar da noite anterior, agora sem músicas e dança, apenas um som suave e ambiente.

A minha história, amada é feita de ilusões,
De amores que perdi, ou mesmo decepções
Durante certo tempo acreditei na vida
E quanto mais pensara encontrar a saída,

Apenas encontrara as frágeis emoções,
E nelas o vazio em tantas dimensões,
Um erro costumeiro, a sorte em despedida
A senda imaginada agora já perdida,

Um caso em desamor, a senda mais cruel
Vestida num anseio o mundo em carrossel
E quem se fez amada, amante e companheira

Além de qualquer sonho, agora já se esgueira
E leva ora consigo o filho em incerteza
Fazendo da esperança apenas sua presa.

A culpa fora minha? Eu sei também errei
Amar quem não podia e crer no que sonhei,
Somente não pensava ao fim na traição
E tenho como herança apenas solidão,

O passo no vazio aonde mergulhei,
A sorte sem destino, a velha e dura lei
E nela o que viria encontra a explicação
Na sórdida presença explícita do não.

Porém o tempo pune e no final da história
O quanto inda restara amortalha esta inglória
Vontade de talvez um dia ser feliz,

O tempo nega o passo e tudo contradiz
O sonho de quem fora ao menos num segundo
O dono da esperança em tom audaz, profundo.

E Lara na partida, a carta em despedida
Deixando para trás o quanto fora vida
E após a desventura o mundo se negando
Somente o mesmo quadro atroz e mesmo infando,

A nostalgia ronda e gera sem saída
A luta que tentei e nunca se decida
Teatro de uma sorte e nele se encenando
O prazo determina o fim de um sonho brando,

E o corte na raiz matando o quanto sobra,
Eu sei que na verdade o mundo tanto cobra
E nada por fazer, somente o desespero,

A dor que ronda o sonho, o velho destempero,
Até quando cansado espero algum relance
Apenas o vazio que toma e sempre avance.


Eu sei que era casada e nesta sensação
Do fim da vida a dois, a sorte em negação
A luta em desafio aos poucos se desnuda
E a solidão se torna atroz e mais aguda,

Os dias refletindo o mesmo e eterno não,
O prazo determina o fim deste verão
E quanto mais se quer sequer a luz ajuda
E nada do que possa enfim a vida acuda,

E o resto de uma voz distante e sem sentido,
Meu mundo no não ser; há muito resumido,
O peso sobre mim e o tempo sem proveito,

Enquanto solitário à noite enfim me deito,
A sombra do passado adentra no meu quarto
E para onde eu não sei, só sei que enfim eu parto.


De todos os que outrora um dia frequentara
Renato foi talvez quem sabe e mesmo ampara
O passo dado em vão, a imensa turbulência
A vida se repete e sei sem indulgência,

Apenas no trabalho a sorte se escancara
E bebo em plenitude a vida em luz tão rara,
Quem sabe no futuro ao ver nova ciência
Felicidade enfim encontre a competência

E possa redimir meus erros de quem sonha,
A sorte se anuncia agora vã medonha,
E quando te encontrei, deveras imagino,

Que possa até tentar à sombra do destino
Um novo caminhar em noite mais suave
Sem nada que destroce ou mesmo tanto agrave.


Talvez até pareça uma banalidade
O caso de um amor, cenário de saudade,
Um abandono a mais, ou mesmo sem sentido,
O mundo se transforma a cada dor e olvido,

Ainda quando a luz em sonho agora invade
Expressa tão somente a voz da claridade
Distante de um olhar há tanto já perdido,
Presumo que isto seja um passo desvalido,

Mas nada mais importa, a porta que se abrindo
Promete em teu olhar algum momento lindo,
E sinto em teu perfume a maciez do vento

Mudando a direção do espúrio sofrimento
E nisso o que se vê talvez já me redime
Ousando acreditar num dia mais sublime.




Só sei que depois disso a vida trouxe a face
Amarga aonde eu pude e nisto a sorte trace
Apenas desventura e tente amanhecer
Sem nada que consiga ainda dar prazer,

O mundo se apresenta em velho e tolo impasse
Por mais que a solidão às vezes me trespasse
Depois de novo tempo o todo possa crer
Num dia sem temor, um belo amanhecer

Embora saiba tanto o quanto se perdendo
Não deixa que se veja além deste remendo
E nele este fantoche ainda quase vivo

Trazendo cada sonho enquanto além me privo
Do verso e da esperança ou mesmo quando vem
Do olhar que ronda em volta e nele mais ninguém.


Já não me caberia ousar felicidade,
Mas pelo menos busco enfim tranquilidade
E sei do meu anseio e nada mais viria
Sequer o quanto possa em leda fantasia.

A morte? Isto jamais, eu luto na verdade
Tentando quem me escute ainda quando brade,
E beijo a mais distante e louca alegoria
Talvez inda consiga, embora em poesia

Falar do que ora sinto e crer noutro momento,
É tudo o quanto quero e assim isto eu fomento
Bebendo gole a gole o sonho mais audaz,

E nele o quanto a sorte ainda vem e traz,
Fugaz uma esperança explode o coração,
Depois de tanto tempo, ainda há solução?

E quando enfim te vi, Solange, eu conhecera
Quem tanto na verdade eu sei já padecera
Sabendo em consonância a vida que passei,
Ousando com certeza em dura e leda grei,

A vida se perdendo em frágil, torpe cera
Refaz após o nada e assim ora tecera
No renascer da cinza aonde mergulhei
A glória do que venha e nisto eu estarei

Depois de certo tempo, ou mesmo após a queda
Sentir esta expressão enquanto a vida seda
E ter noutro momento a paz que tanto anseio,

Seguindo uma esperança e mesmo noutro veio
Talvez a foz em ti, ou mesmo algum apoio
Renasça deste estio, a mina e o nobre arroio.




Perdoe se te canso a história é tão banal,
Abandonado e só. É quase natural
E na verdade eu sei o quanto é corriqueiro,
O mundo tem jardins, faltando jardineiro.

E vejo noutro rumo o velho e bom astral,
Mas sei o quanto dói embora sempre igual
Caminho sem certeza, um tanto quanto useiro,
O canto sem resposta, estio no canteiro,

Amor se ter amor a mesa sem valia,
Fartura de esperança ausência de iguaria,
E o verso sem proveito, ou mesmo desvalido,

Apenas o que importa, e nisto mal lapido
O sonho que se vai e nada deixa atrás
Roubando na verdade o quanto quis em paz.

É hora de te ouvir, Solange moça bela
O sonho de uma vida em ti já se revela
E o tanto quanto eu quis agora não importa
Abrindo o coração transponho a tua porta

E o barco que se adentra em mar, abrindo a vela
Talvez possa ancorar ou mesmo rota a cela
Saber libertação aonde a dor aporta
E assim esta lembrança ao fim esteja morta

Num ato em concordância um dia surgirá
E sei que quando o sol em ti renascerá
Quem dera estar contigo e assim também bebê-lo

Deixando no passado o espúrio pesadelo,
Além deste horizonte poder imaginar
Quem sabe, minha amada, imenso e claro mar...


“Entendo esta aflição, amor causa tormento,
Porém quando eu te falo o sonho que lamento
Não diz de algum anseio ou mesmo de outro passo
Somente do vazio aonde agora eu traço

O prazo se esgotara envolta em turvo vento
E neste caminhar exposta ao sofrimento,
Do quanto desejei sequer algum escasso
Caminho aonde pude enfrentar tal devasso

Momento sem proveito em luta desigual,
Vagando sem sentido em turvo e louco astral,
A senda mais cruel, o céu em abandono,

Menina sem apoio, um cão louco e sem dono,
Em rua mais escura, a queda se anuncia
Olhar já se perdendo, aonde quis o dia.”



“ Nasci na classe média, em nome de um amor
Que nunca fora além de mera e tosca flor
Jogada num quintal, abandonada ao vento,
Cerzida pelo vão em pleno sofrimento,

De minha mãe revejo imagem feita em dor
E nisto o que me resta expressa o decompor
De quem se fez atroz e nisto o pensamento
Perdendo qualquer rumo em claro desalento.

Refém de uma esperança aonde nada vinha
Somente a mesma cena em noite mais daninha,
Meu pai? Não conheci, e sei que não soubera

Do nascimento meu e sendo mais sincera
Jamais eu poderia ao menos procurar
A fera que em verdade eu nunca pude amar.”

“Um lobo simplesmente, um traste e nada mais,
Olhando para além em atos tão venais,
Apenas sem sentido e sem razão alguma
Quem tanto nada quis aos poucos já se esfuma

E vejo o seu olhar imerso em brumas tais,
Trazendo tão somente espessos temporais,
Minha alma pouco a pouco ao nada se acostuma
E bebo a solidão, enquanto a vida ruma

De casa em casa fora história sem sentido
O tempo que restara há tanto desvalido,
Sem ter algum sossego ou mesmo uma paragem,

Felicidade e paz? Apenas vã miragem,
E quando adolescente em busca de carinho,
Olhando para o quarto, um ar seco e daninho.”

“Um cão sem dono segue e busca algum afeto,
E quando se aproxima o cheiro predileto
De quem algum momento apenas educado
Brincara com tal cão há tanto abandonado,

Um corpo se anuncia e nisto mais completo
Anseio se permite e o dono vira inseto,
O sexo sem prazer o corpo desarmado,
O sonho sem sentido, o não anunciado,

E tudo o que pensara explode sem razão
E ao cão já nada resta em nova decepção,
E quase escorraçado exposto em tantas ruas

Ainda sem sentido algum segues e atuas
Vacante coração em noite anunciada
Sarjeta após sarjeta em pária madrugada.”




“Sobre o meu coração a vida me trouxera
Apenas a incerteza e sei quanto insincera
A sorte de quem tenta e nada mais teria
Sequer o quanto anseia em leda fantasia,

Ainda quando muito ou pouco o que se espera
Pudesse acreditar em nova primavera,
Rondando o meu caminho em mera alegoria,
Mas nada do que tento ao fim já se veria,

Vencida pelo ocaso em nada pude crer
Somente a mesma face estúpida a trazer
Depois do temporal imensa inundação,

E o mundo que eu quisera encontro em solidão,
O tempo se transforma e torna a refletir
A falta de esperança e nada no porvir.”

“A cada nova queda, a sorte se afastando
O quanto se anuncia eu vejo mais infando
E tento sem sucesso alguma luz após,
Já nada me trouxera ainda o sonho e a voz,

Vestida de ilusão, a luta anunciando
O fim da velha história ou mesmo em contrabando
O próprio caminhar agora eu sei algoz
E o canto sem resposta um tanto mais feroz,

Bebendo cada gota ou mais que ainda venha
Perdera deste cofre a chave e mesmo a senha
Não tendo solução que possa ainda ver,

No tanto desejado apenas desprazer
Meu rumo sem sentido, o passo sem razão,
E ao fim de cada engano, a mesma solidão.”



“Há tanto procurei um canto aonde a luta
Depois de tanto tempo invalidez se escuta
E permutando a sorte ou mesmo sem barganha
Partida que sonhara há tanto sendo ganha

Nas tramas mais sutis e quanto mais reluta
O passo noutro engano, a senda audaz e astuta
A imensa cordilheira esta alta e vil montanha
O salto sem proveito, a sorte mais tacanha,

E o preço a se pagar, o vandalismo expõe
O mundo que em verdade eu sei se decompõe
E nada deste encanto ousasse perceber,

A luta se desenha em tons de desprazer
Versando sobre o vão, imensa noite em dor,
Apenas sem saber um canto redentor.”



“As ruas, noites, trago ainda como alento,
Depois do nada ser aguardando um momento
Aonde a sorte mude e trace nova voz,
Deixando mais suave a queda em rude foz,

Apenas vejo amigo o dia em sofrimento,
A faculdade traz um brilho em que alimento
O quanto poderia estar além e após
Depois talvez quem sabe, um dia faça a pós

E veja com clareza alguma expectativa
O que me importa enfim, é que ora sobreviva
E vença a tempestade e veja na bonança

Além de simplesmente a frágil esperança
A fonte que permita o respirar no fim,
Antes que esta loucura invade tudo em mim.”




O quanto me disseste expressa muito além
Do simples desafeto e quanta vida tem
No olhar que extasiado exprime uma vontade
De ter outro caminho em rara liberdade,

O mundo se anuncia em pleno e vão desdém,
Mas sei do que pudesse e nisto me convém
Falar com mansidão do quanto ainda invade
O coração de quem buscou felicidade,

Espero qualquer tempo aonde a luz se faça
Mudando a sensação vazia desta praça
Num ato mais feliz ou mesmo corajoso

Trazendo ao sofrimento algum prazer e gozo
Entendo o olhar alheio e peço que tu venhas
Seguirmos lado a lado até onde convenhas,

Já não suportaria estar sem ter contigo
O mundo em discordância atroz e desabrigo,
Percebo que em nós dois há mais que algum detalhe
Ainda quando o sonho expresse e ora retalhe

Traduzes sem sentir o quanto ora persigo,
Quem sabe na verdade em paz hoje eu consigo
Sentir no teu perfume o tanto que batalhe
A vida num anseio e mesmo quando falhe

O dividir promete além de mera soma,
Multiplicando a luz do sonho que nos doma
E ver após a queda o brilho que orienta

Na voz sempre suave além desta tormenta,
Um manto quando cubra e trague algum calor
Talvez já determine o raro e nobre amor.

Nas ânsias de um caminho em tantas noites vejo
O tempo mais suave e nele o que ora almejo
Vencer a solidão e mesmo quando trace
A vida sem sentido ou turve e leda face,

Um templo se desenha em ar claro e sobejo,
Vestindo a fantasia e nela o que desejo
Decerto outro caminho aos poucos se mostrasse
Limites do vazio, amor ultrapassasse.

Jogados pela vida, em cantos mais diversos
Unindo o quanto resta altares, universos
Em versos e canções, momentos mais felizes

E nisto o quanto quero e sei não contradizes
Talvez já nos permita o amanhecer em paz,
Enquanto o dia a dia o sonho ora nos traz.




Resulto de uma esfera audaciosamente
Em voz tão turbulenta e sei quanto apresente
Dos erros de uma luta há tanto sem proveito
E quando solitário enfim aquém me deito,

O mundo desenhando envolto em minha mente
Buscando quem decerto aos poucos me apascente
Depois de tanto não a vida poderia
Trazer a quem lutara ao menos a alegria,

Que tal seguir comigo em busca do futuro?
Um tempo mais suave eu sei e te asseguro,
Talvez se precipite um novo amanhecer

Bebendo em claridade apenas o prazer,
Um cão abandonado, a noite em vil sarjeta
Dois astros sem cuidado uma união prometa.




Ousando ser feliz ou ter o lenitivo
Que tanto necessito e sei o quanto vivo
Buscando alguma luz depois da tempestade,
E quanto mais vagando à toa na cidade,

Ainda que liberto eu sei que sou cativo,
E tanto quanto possa olhando mais altivo,
Jamais eu beberia em tanta claridade
O sonho onde se veja a imensa liberdade,

Tu não tens nada e sei que nada também tenho
Pousando no jardim, um raro desempenho
Trazendo cada grão e nisto semeando

Um tempo mais feliz e mesmo até mais brando,
Desejos desiguais? Não creio, mesmo assim
E quanto mais sutil te vejo dentro em mim.




Talvez isso te assuste. Eu sei do que ora falo,
Cansei de ser na vida apenas um vassalo,
E embora te pareça um tanto desvairado,
O amor não se pergunta, o vejo desenhado

Rondando cada passo e nele não me calo,
Apenas a certeza de enfim poder traçá-lo
Nas tramas do infinito e nisto acompanhado
Vivendo nosso sonho amada lado a lado,

Unir cada momento e crer no libertário
Anseio que se molde em mesmo itinerário,
E assim de dois sutis caminhos um só passo,

E neste desenhar a imensidão eu traço,
Trazendo a cada instante o quanto desejei
Fazendo da esperança além do que busquei.

E nada impediria o nosso caminhar
Envolto pelo raio imenso de um luar,
Cerzindo e até tecendo um dia mais suave
Sem nada que me impeça ou mesmos nos agrave

Bebendo da alegria e nada perguntar,
Apenas neste encanto em brilhos mergulhar
A liberdade expressa o sonho de alguma ave
O amor por companhia empresta a rara nave

E dela se adentrando o etéreo sideral
Num tempo mais feliz um canto sem igual,
Consensual desenho em noite mais sublime,

E quanto mais se quer, amor tanto se estime
Cansado de lutar inutilmente agora,
Eu vejo em ti o sonho e nele a luz se aflora.




Criando no futuro o sonho do passado
O verso noutro verso em si encadeado,
O prazo não se faz e nada se duvida
Uma alma com outra alma agora não divida

Supera com certeza o medo acumulado
E o peso se alivia e deixa enfim de lado,
Ainda quando a sorte eu sei desprevenida
Ultrapassando além da luz desta avenida

Resumos do que fui e sei também lutaste
Mantendo na esperança a imensidão desta haste
Que nada destruindo expressa a força plena

Do amor quando se quer e à paz já nos condena.
Não tema, estou contigo e assim nós venceremos
Os medos ledos vis, em dias mais extremos.



“Aguarde um pouco mais, mas creio que talvez
Desta loucura imensa a rara sensatez
De quem tanto sofrendo encontra um manso cais
Depois de mergulhar insanos temporais,

E quanto mais te ouvindo, amado também vês
O todo aonde o mundo agora já se fez
E nele novo rumo encontro e sei bem mais
Dos erros do passado em passos desiguais,

Permita que ora pense um pouco antes de dar
Resposta que se anseia e nisto algum lugar
Quem sabe me permita acreditar na sorte,

Após o dia a dia enquanto sem aporte,
Vivera sem sentido apenas por viver,
Em ti talvez encontre enfim algum prazer.”



Decerto minha amada, espero uma resposta,
A porta que se abriu por certo estando exposta
Permite o quanto veja em sol e claridade,
No olhar de quem anseio a imensa liberdade,

Minha alma deste sonho eu sei o quanto gosta,
E nada do que venha impeça a já composta
Vontade sem igual enquanto o sonho invade,
Marcando com ardor esta felicidade,

De quem se fez ausente e mesmo sem futuro,
O quanto te desejo e nisto eu asseguro
Trará não mais duvido a nossa salvação

Amor que se anuncia em tal imensidão
Liberta enquanto traça um novo caminhar
Envolto pela sorte intensa de um luar.

FIM DO PRIMEIRO ATO.


SEGUNDO ATO

CENA 1

Cenário- A casa de Renato, na sala, um apartamento funcional de quarto e sala em Ipanema, com todas as características de um flat.

Sentados num sofá, conversam e se percebe a animação de Rogério.


Amigo e companheiro, a vida tem surpresas
E destas a que trago em novas correntezas
Expressa o quanto possa acreditar em Deus
Depois de tanta dor imerso num adeus,

A sorte se transforma e vira as velhas mesas,
E quem das ilusões tivera as mãos já presas
Agora se liberta e enfrenta tantos breus
Neste luzeiro imerso em sonhos claros, meus.

Recorde aquela noite enquanto solitário
O mundo nos trouxera em mesmo itinerário
Num bar lá do Leblon, aquela maravilha

Em forma de mulher, o olhar ainda trilha
E segue este caminho e nele o que se vê
Traduz em minha vida enfim algum por que.


Depois de tanto tempo imerso no vazio,
O coração calado em duro e ledo estio,
A sensação que trago eterna primavera
Refeita desta mágoa agora em nova esfera

Presume o quanto possa e mesmo desafio,
Bebendo a plenitude e sem tal desvario,
O rumo se anuncia e novo se tempera
Vibrando em luz imensa em voz clara e sincera,

Depois da solidão, um dia mais suave
O canto se anuncia e superando entrave
Explode em alegria em emoção suprema,

E nada do que possa enquanto a vida extrema
Um ato mais sutil e nele me entranhando
Sorvendo da esperança em dia claro e brando.


Após a velha perda, amor que disse Lara
A noite noutro rumo agora se prepara
E vejo com clareza o belo amanhecer
Envolto na certeza enfim de algum prazer,

A sorte se anuncia e toma esta seara
Enquanto a maravilha agora se escancara
E traz ao sonhador o quanto possa ver
Depois do meu anseio e tudo a se perder,

Resumos do passado envolto na sombria
Vontade de lutar e nada mais havia
Somente incerto passo em brumas e temores

Agora se pudesse e nisso recompores
Verás no olhar o brilho imenso de quem ama,
Numa explosão de paz na intensa e nobre chama.


Pois bem, lembra Solange? Aquela divindade
Que em trevas mais sutis trouxera a claridade,
E deste desconforto aonde eu habitava
Agora noutro tempo a luz escancarava,

Jorrando dentro da alma o quanto agora invade,
Bebendo com ternura a intensa liberdade,
Deixando para trás a estupidez da lava
Minha alma não será de novo feito escrava.

Apresentando a sorte e nela o que viria
Traduz a cada passo a nobre poesia
Vibrante mocidade e tudo que apresenta

Tornando mais suave a luta em tal tormenta
Compartilhar o passo em rumo mais feliz,
Vivendo com firmeza o amor que sempre quis.



Já não mais caberia a ausência da esperança
O tempo noutro instante agora em paz avança
E tanto quanto pude outrora em sofrimento
Agora se traduz e nisto busco atento

Vencer o que decerto ainda toma e cansa
Gerando ao sonhador a forte confiança
Depois do quanto ronde a senda em pensamento,
Eu tanto quanto queira a glória enfim eu tento,

Negar este momento e não acreditar
É como se perdesse a luz nobre e solar,
Buscando em céu azul apenas qualquer bruma,

Meu passo com firmeza ao todo enfim já ruma,
Não mais se quer além do quanto a vida traz
E nisto se apresenta, amigo a luz tenaz.

De Lara nem notícia apenas o vazio,
O tempo segue em frente e neste desafio
O rumo em horizonte apresentando além
Do quanto se desenha e a vida sempre vem,

Marcando com ternura a noite deste Rio
E nela o que pudera ainda busco e crio,
Vivendo cada dia e nele sem desdém
O prazo determina o todo que se tem,

Na Lapa, no Leblon, nos ermos de um passado
O sonho há tanto tempo eu vira desbotado
E agora renascendo em plena maravilha

Minha alma em claridade ainda busca e trilha
E sobre as ondas sigo anseios desiguais,
Fazendo eternamente os nobres carnavais.




Amigo, mais um pouco e a vida se explodindo
Em paz e plenitude, um dia bem mais lindo,
Embora te pareça estou além de tudo
Vivendo sem temor e nisto até me iludo,

Mas quando se apresenta o canto ora eclodindo
De todo o sofrimento aos poucos vi saindo
O coração decerto ainda estando mudo,
Tramando o quanto possa e sei que me transmudo

Resulto deste todo imerso na alegria
Da noite delicada invadindo este dia
Em lua mais suave, após tanto temor,

Nas tramas mais sutis, o vivo e raro amor,
Criando neste olhar a luz que me oriente
Depois de tanto tempo estar aquém e ausente.


“Amigo, na verdade, a vida traz diverso
Caminho aonde possa apenas sempre imerso
Viver com sutileza ou mesmo sem razão,
Cuidado companheiro, a tua empolgação

O mundo não se faz apenas nalgum verso,
A névoa de um amor tampando este universo
Talvez impeça sempre a certa direção,
Naufrágio dita o rumo e mata a embarcação,

Apenas vá com calma, e nada precipite,
Até pra ser feliz existe algum limite,
E o peso do passado ainda se anuncia

E traz em claridade a vida em utopia,
Bonança que excessiva expressa a tempestade
O sonho ultrapassando enfim realidade”.

“Não quero ser decerto uma agourenta sorte,
Tampouco retirar dos sonhos o suporte,
Somente ora te peço a mansidão de quem
Vivesse da esperança o tanto que convém,

Eu sei que a solidão, deveras não conforte,
Porém se precavendo, evitando este corte,
Já não descarrilasse ao fim o velho trem,
O mundo em faces tais, a dor também contém,

E o vento que anuncia a calmaria possa
Trazer a ventania e tudo que se apossa
Da luta sem descanso, aonde quis remanso

Ao fim de certo tempo o nada enfim alcanço,
Mas peço a Deus por ti, espero finalmente
Que toda a imensidão agora se apresente.”


“Talvez seja excessivo este cuidado amigo,
Porém quanto maior o sonho, eis o perigo,
No tempo mais atroz a voz não calaria
Bebendo sem sentido a imensa fantasia,

E o corte com certeza além do que persigo
Explodindo dorido e nele o desabrigo
Encontra o tom atroz em tanta vilania,
A vida se transforma em rara hipocrisia,

Do sonho que foi Lara, eu sei quanto restou,
O verso sem sentido, o canto desabou,
Mas sei também no fundo o verso mais audaz,

E sei do quanto a vida ainda teima e traz,
Um manto mais diverso em frios temporais
E espero realmente o barco em manso cais.”




Eu sei que na verdade é bom se ter cuidado,
Ainda quando vejo o tempo desolado
Aonde a minha vida em dores conheci
E sei também amigo o intenso frenesi

Depois de certo tempo o sonho abandonado,
O ressurgir imenso explode e noutro lado
Deixando sem sentido o quanto percebi
E vejo que se mostra esta amizade em ti.

Mas nada impediria o passo que se der
No anseio mais voraz no corpo da mulher
Que delicadamente expõe tal paraíso,

E sinto já perdido, algum ledo juízo
E sem que nada possa ainda procurar
Somente o que desejo invade este lugar.


Imenso este tormento em dura solidão,
As noites sem ninguém o frio num verão,
Ocasionando a queda e nada mais se visse
Senão a mesma dor e nela esta crendice,

Tramando no vazio as sombras que verão
O renascer desta alma após a hibernação,
E quantas vezes sei do todo que desdisse
Vagando sem sentido aquém do que previsse,

Jogado sobre a areia, o barco sabe bem
Da dor deste naufrágio e quando o medo vem,
Transforma cada engodo além numa esperança

Até que no final perdendo a confiança
Nem mesmo Sexta- Feira em ilha vã deserta
Apenas o não ser enfim da morte alerta.




“Não faça melodrama, a vida não promete
Apenas o vazio, e sei quando arremete
Somente o que te peço é ter a prevenção
Sabendo que afinal o tempo nunca é vão,

A mão que acaricia empunha um canivete
Não quero mais te ver só pela bola sete
Quem sabe desta forma em clara mansidão,
Aproveites melhor, o teu nobre verão.

Mas seja como for, eu estarei contigo,
Tu podes ter certeza, aqui há um amigo,
E nada do que venha ainda nos tocar

Impedirá o encanto e quanto a divagar,
Comum, esteja certo, eu também me empolgava
Ainda que ao final sentisse apenas lava.”



Há muito que incerteza explode em meu caminho
E sei que no final eu estarei sozinho,
Não faço com certeza alguma vil chantagem,
Assim se adivinhando o fim desta viagem,

O passo que se dera ainda que daninho
Enfrentará decerto estrada em puro espinho,
E quando se apresente a bela paisagem,
Deveras estarei mercê de uma miragem

Cravada no deserto em dura fantasia,
E nada do que eu pude enfim se mostraria
Somente a face escusa e fria da verdade,

Após imaginar a nobre claridade,
Porém desta ilusão, eu bebo cada gota
Até que esta alma esteja amarga, morta ou rota.


Não tento acreditar nas ânsias de um futuro
Sabendo do temor enquanto me asseguro
Do engano mais sutil e sei tão contumaz,
Deixando uma ilusão, decerto aquém e atrás

Semeio e tento até num solo sempre duro
Nesta aridez do sonho, um tempo aonde eu juro
Pudesse imaginar o quanto a vida traz
E ter após o nada, apenas leda paz.

Invado os meus sutis cenários sem proveito
E o que vier, amigo, ao fim eu sempre aceito
A crença se é defeito e sei o quanto se é,

Jamais impediria ainda a rude fé,
Num átimo mergulho e bebo a fantasia,
Que a cada novo engano, eu sei já se recria.




Seguindo a minha vida, espero que te veja
Também apaixonado em sorte benfazeja
E saiba muito bem que eu estarei contigo
Vencendo o quanto venha até em desabrigo,

Mas nada do que eu possa ainda em vão lateja
Deixando para trás o medo que dardeja
E seja a tua vida em pleno sonho e sigo
Tentando acreditar que tenho algum amigo,

Perdoe se em verdade eu sei que no final
O céu de uma esperança em tom tão magistral
Adentre sem defesa o rumo em horizonte,

E quanto mais feliz o dia que desponte
Trazendo tanta inveja e mesmo até descrença
Em quem já não tivera a vida em paz imensa.


SE LEVANTA E SEM OLHAR PRA TRÁS FECHA A PORTA.



Renato sentado no sofá, olhando para a platéia.

“Que Deus já te proteja amigo, pois bem sei
Da vida quando o sonho expressa a rude lei,
E nisto se adivinha o tempo em dor e medo,
Do todo desejado apenas o arremedo,

O canto sem sentido, e nele mergulhei
Cansado de lutar, eu tanto me estrepei,
Vivendo este caminho aonde mal concedo
Alguma luz nesta alma em rude desenredo.

Mas faço a minha prece e espero com certeza
Que tudo se apresente enfim em tal leveza
E a sorte seja além de mera dor e caos

Os dias não serão deveras rudes, maus.
Apenas o que falo, e sei tenho razão,
A vida traz ao fim enorme decepção...”



“Também amei demais, e sei quanto perdi
Do sonho mais audaz ao ver longe daqui
Aquela que se fez a deusa soberana
E ao fim de certo tempo enfim a sorte engana,

E nada do que possa em ledo frenesi
Invade o quanto quis e sei não conheci,
Assim já se aproxima a natureza humana
E nela o que puder no tanto que se ufana

Evade noutro rumo e deixa a solidão,
E nela o que presumo apresentando o não,
Atropelando sempre aquele que se dera

Tentando perceber os tons da primavera
Em pleno inverno da alma, ou mesmo no sombrio,
Amar e ser feliz, é mais que desafio.”





“Mas quando se apresenta a vida sem temor,
A força inusitada expressa num amor
Enfrenta sem saber do rumo ou direção
E tenta imaginar louca navegação

Apenas por seguir sem nada a se propor
Além do quanto tenha em canto alentador,
Já nada mais temesse em pleno furacão
Vencendo o que se faz sem ter a precaução

E neste emaranhado em cores tão diversas
Ainda quando vens e logo desconversas
Versando sobre a sorte e nela se entranhando,

O mundo se desenha em passo mais infando,
E mesmo assim não deixa algum sinal mais claro,
E eterno e imenso amor, estúpido eu declaro.”

“Rogério, eu torço tanto e até anseio, eu juro,
Que o tempo mais sutil jamais se faça escuro,
E nesta cordoalha a vida te permita
Viver a claridade imensa e mais bonita,

Mas sei da solidão e salto sobre o muro
Vencido pelo anseio e quando me asseguro
A queda mais aguda aquela que reflita
A luta sem sentido, a morte mais aflita,

Vestígios de uma vida imersa em sensação
Desta futilidade e tenho esta impressão,
Sequer algum doutor ou mestre que conheço

Evita no final, a queda em tal tropeço,
Sem nada que anuncie o tempo de amanhã
A sorte tão sutil, feliz, atroz, malsã?"


Cena 2

Rogério está sozinho em sua casa quando ouve uma voz, já conhecida e há muito perdida no tempo... É Lara


“Enfim me abandonaste, a vida é sempre assim,
Teu filho, esta mulher e tudo chega ao fim...
Não merecia tanto. Ou mesmo merecia.
O quadro se desenha em tal hipocrisia

Matando o que restara ainda no jardim,
O tempo ora destroça o que restou de mim...
O vento na janela, enquanto ele assobia
Vagando no passado, a noite mais sombria,

E o verso sem sentido, a luta determina
Ocaso deste amor, secando agora a mina,
E o manto que recobre apenas o que fomos,

Exposta sem defesa ao quanto nada somos,
Bebendo a ingratidão de quem amara tanto,
Uma expressão de ausência em luto ora garanto.”

Rogério se assusta e com o olhar em pânico procura a origem da voz, não sabia da morte de Lara e imaginara-a ainda viva, e como surgisse do vazio o deixa apavorado.

Demônio. Onde te encontro? Agora ao fim da dor
Ressurges qual fantasma e traz ao sofredor
Um golpe sem sentido, e mata uma ilusão,
Já nada mais se vendo apenas negação.

Abandonaste quem um dia em raro amor
Pensara ter nas mãos a imensidão da flor,
E nada do que possa ainda em dimensão
Diversa do meu sonho. Exijo explicação!

Enquanto estava só tu nunca mais voltaste
E agora quando a luz invade num contraste
Satânica figura uma maldita sorte,

Trazendo invés do brilho a treva em leda morte,
Aonde tu andaste ausente da esperança,
Que somente decerto ao fim ora me lança.

“Há tanto amortalhada, uma expressão do nada
Não sabes seu canalha? Eu fui assassinada
Ricardo este covarde há tanto me calara
Deixando no vazio a sorte em leda escara,

A porta da esperança há tanto já lacrada
A morte me rondando e sei da desolada
Imagem que reflete escura esta seara
E nada do futuro ainda se prepara,

A carne apodrecida exposta em mil pedaços
Do filho que não veio, o medo em velhos traços
Agora meu espectro há tanto te acompanha

E bebe tua sorte e nela sei da estranha
Verdade que anuncia o fim de cada história,
A sorte quando guia em luta merencória.”

“Terás uma surpresa, e nada mais se fala,
A luta mais ingrata a vida que avassala
Vergastas sobre nós o açoite não se encerra
E tanto quanto possa ainda nesta Terra,

Jogada pelo canto a morte sobre a sala,
Minha alma sem futuro e sei quanto é vassala
Da espúria sensação que tanto me desterra,
Por mais que silencie esta ilusão já berra

E torna sem sentido o quanto ora se fez
E nunca me verás nem mesmo insensatez
Tomando o dia a dia em pútrida ilusão,

Marcando com terror o quanto fora em vão,
Adeus sigo meu rumo e quando perceberes
Verás o quão inúteis serão vagos poderes...”

Responda então demônio, escute a minha voz.
Silenciar não basta, eu quero viva em nós
Esta expressão de luz aonde nada vejo,
Somente este fantasma, ou ser tão malfazejo,

Surgindo como fosse ainda algum algoz
Verdugo da esperança, e nisto busco a foz
Do quanto poderia e sei já não desejo,
Saber por onde segue o corpo que prevejo

Há tanto abandonado ou mesmo sem sentido,
E agora quando possa apenas deste olvido
Falar já não concebo a mera claridade,

E bebo do vazio enquanto se degrade
O sonho sem proveito, a morte me rondando,
O mundo que eu queria, aos poucos desabando.


Cena 3


Rogério e Solange no bar, o mesmo bar de sempre.


76

Saudades de você, o mundo sem razão
Parece que desaba em mim e desde então
Apenas desconheço algum motivo quando
O todo que eu quisera enfim se destroçando,

Eu sei do quanto quero e vejo em dimensão
Diversa o meu futuro e bebo a solução
E nada do que venha ainda em duro bando
Do sonho feito em luz irá, pois me afastando,

Jorrando como fosse um tempo mais feliz,
Do amor que imaginara o bem que sempre eu quis.
Solange veja só teu brilho iridescente

Traduz o que decerto uma alma traz e sente
Cansado de lutar em noite mais sombria,
Em ti eu reconheço amor em alegria.




Depois de tanto tempo entranho o Paraíso
E vejo quanto possa e nisto me matizo
Na imensidão do céu aonde conheci
O tanto sem limite expresso desde aqui,

O amor quando demais, eu sei claro e preciso,
No templo desenhado além do vão juízo
Acompanhando sempre eu venho e volto a ti,
Reinando sobre tudo o quanto percebi,

Numa expressão divina a sorte que nos leva
Vencendo o que viria ainda em turva treva
Iluminando a noite após a tempestade,

Vivendo sem temor o quanto agora invade,
E gera sem tormenta o dia que virá
E ter-te junto a mim deveras, um maná.




Amada tanta vez a sorte nos engana,
Mas quando a conheci em luz mais soberana
Estava já descrito enfim em constelar
Vontade sem igual imenso e claro mar,

Bebendo em tua boca a noite onde se ufana
Do todo que se quer, mulher além de humana
Deidade aonde pude e quero comprovar
Sobeja magnitude em claro e nobre amar,

Viceja dentro da alma amor primaveril,
Deixando no passado o quanto fora vil,
E vendo esta emoção ao aflorar em nós

Do todo em esperança escuto a plena voz
Rondando o meu caminho e nele me aprofundo
Maior amor não há decerto em todo o mundo!


79

Eu quero ser feliz embora a vida negue
O quanto se desenha e sei jamais sossegue
Restando do passado imensa turbulência
A vida não presume enfim qualquer ciência

E traça sem razão enquanto assim prossegue
Vestindo a imprevisão que tanto nos apegue
Não quero com certeza apenas evidência
O amor não se limita a crer em coincidência

Fulgura sem temor e espalha em plenitude
O quanto se deseja e nada desilude,
Vencendo o sortilégio e tendo em cada olhar

Vontade de saber e sei quanto sonhar
Presume esta certeza de um dia mais feliz,
Vibrando em consonância o quanto já se quis.





Já não discuto mais, apenas vivo a vida,
E sei do quanto possa embora distraída
Vencer a tempestade e crer noutro momento
Sem ter como inimiga a turbulência em vento

O manto da esperança a sorte em vão puída
A luta se desenha há tanto consumida
Nos ermos do que fui e sei tal desalento
Enquanto no não ser buscasse um alimento,

Restauro o meu caminho ainda que se veja
A sombra de uma vida exposta em tal bandeja
Acéfala ilusão eclode. Mesmo assim,

Ainda persistindo o brilho dentro em mim,
Sinais do meu passado aonde me perdi, (refere-se a Lara, obviamente)
E mesmo do que sou (Renato) não me levam daqui.




“Querido é necessário um pouco mais que sonho
A cada novo passo em luz outro eu componho
Embora te pareça até mesmo infantil,
O quanto já sofri e o peito em dor se viu

Vestindo este caminho insólito e medonho
Arrasto o dia a dia e nele me proponho
Viver bem mais que mero anseio juvenil
Traçando em esperança o quanto fora vil,

A sorte se anuncia e nela bebo o encanto
Vestígios do passado? Ou mesmo algum quebranto
Não possam terminar com toda esta emoção

E sei do quanto é rude o rumo desde o chão
Trazendo em fronde imensa a copa da esperança
E nesta sensação amor tocando avança.”

“Jamais imaginara a vida em solitária
Ausência de talvez um dia em alma vária
No fundo o que se vendo expressa a realidade
Ainda quando dita a luta em tal saudade,

Viceja a primavera e bebo a sorte pária,
Mas quando a trama traz a senda solidária
O tanto que busquei agora já me invade
E nada do passado ainda ora degrade

O sonho que se torna aos poucos mais palpável
E a vida tão insossa agora palatável
Em tom manso e sutil em plena caminhada

Promessa do que seja a sorte anunciada
Depois deste vazio em tom atroz e rude,
Vivendo muito além do medo que me ilude...”

“Amado, vamos nessa, e nada mais importa,
O quanto desta vida arromba a velha porta,
Deixando mero escombro aonde houvera dor,
Tramando este caminho em brilho redentor,

Certeira madrugada enquanto não aborta
O sonho mais sutil e nele a vida aporta
Deixando no passado o tom em amargor,
Regendo dia a dia as chamas deste amor,

Crivando em pleno brilho o todo que virá
Rondando a minha estrela o quanto tornará
A vida em tal sentido imensa e destemida,

Cicatrizando na alma enfim esta ferida
Raiando como fosse imenso e nobre sol
Tomando inteiramente enfim este arrebol.”



“Cansada de lutar e ter noutro caminho
Apenas o cenário atroz rude e mesquinho
Vencida pelo anseio e nada mais se vendo,
Somente da esperança o torpe e vão remendo,

Aonde se deseja e sei ali me aninho,
Esquecendo da rosa imersa em vago espinho,
O tempo noutro encanto e nisto o que desvendo
Expressa o quanto pude e sei do mundo horrendo

Jogada desta imensa e dura cordilheira
A vida se anuncia e mostra mais inteira
A senda que busquei em minha adolescência

E quando se aproxima e passo a ter ciência
Do mundo que virá e nele a redenção,
Já nada impedirá o sonho em precisão.”



“ O tanto quanto pude em bares e motéis
Viver sem ter sentido, imensos carrosséis,
Jorrando dentro da alma apenas ilusões,
E agora no final o sol que tu me expões

Tramando ao paladar suaves doces méis
Depois do quanto tive em rudes carretéis
Nas lutas do sombrio em raras emoções
Vibrando com ternura aonde tu propões

Cerzindo em nós a lua em plena claridade,
E deste plenilúnio o quanto nos invade
Encontra em ressonância a sorte benfazeja

Ardendo dentro da alma o quanto se deseja
Num verso mais suave e mesmo mais gentil,
Bebendo em tua boca o que este amor previu.”




Já nada impediria o passo que virá
E sei quanto te quero e mesmo aqui ou lá
O tempo venceria o medo e nada além
Do canto em harmonia ainda quando vem

Na boca delicada e doce moldará
O todo que ansiava e sei que nos trará,
A esplêndida manhã e nisso sem desdém
Ditame do que sinto agora nos convém,

E nunca esqueceria o quanto mais anseio,
Bebendo em tua pele o gozo, o sonho e o seio
Em arrepio e encanto o todo sem temor,

A vida se anuncia e seja como for
Terei a plenitude e nunca mais duvide
Do amor que nos domina e tudo já decide.




“Jamais duvidaria e sei que também queres
E tanto o sei querido, e mesmo que vieres
Com sonhos mais sutis, eu estarei contigo,
E quando mais te quero eu sei e até consigo

Saber desta atração que têm belas mulheres,
Banquete que se faz em diversos talheres
Tramando o quanto pude e tendo em ti o abrigo
Vencendo claramente enfim qualquer perigo,

Já nada mais teria além da plenitude
Do amor que na verdade é mais do que ora pude
Desafiando o tempo e crendo no futuro,

O caso determina e nisto eu te asseguro,
A vida não calasse a voz desta emoção
E nela com certeza amor dita explosão.”




Por isso mal senti o vento noutro rumo,
Da sorte que imagino e bebo sem resumo,
Jamais eu poderia ao menos me perder
Do sonho sem limite entregue a tal prazer,

O passo sem temor, o dia toma o prumo,
E o quanto se anuncia enfim expressa o sumo
Da vida que desejo e posso até saber
Vencendo o desafeto e nisto perceber

O quanto ser feliz só cabendo à nós dois
Mal importando até o quanto vem depois
Somente no momento e nele mergulhando

Meu canto se anuncia e mostra em claro bando
O quanto propicia anseios da paixão,
Vivendo sem temor o sonho desde então.




“As belas almas amo e sei também do fato
Aonde com ternura amor quero e constato,
A doce primavera há tanto maculada,
Porém renasce em ti, amado em alvorada,

E nesta profusão do sonho onde retrato
O amor que se refaz até nalgum recato
Depois de tanto tempo em noite em madrugada
A sorte sem sentido, a luz já desolada,

Imersa em cada abraço eu sei que renascendo
Qual fora mera colcha expressa num remendo
E sei quanto no fim eu possa ter em mim,

Depois da ventania a luz neste jardim,
Bebendo a primavera que tanto procurei,
E tendo-te comigo, em ti senhor e rei.”




Quando escutar eu pude após a dor sem medo
Vivendo muito além do mundo em arremedo,
Trazendo em meu olhar a plena consciência
Do amor que sem limite explode em tal ciência

Vibrando em harmonia apenas me concedo
Vestindo esta ilusão e nela novo enredo
Vencendo do vazio alguma resistência
A sorte se transforma e nela esta ingerência

Produz outro cenário e nele sou capaz
De imaginar a vida e tudo que ela traz
Resultando da luta há tanto em plenitude

Promessa de um momento aonde além eu pude
Crivando em tom suave o mundo que se fez
Além da imensidão em rara sensatez.




“Querido, eu poderia enfim pedir a ti
Apenas uma coisa; o tanto que perdi
Está hoje trancada em um asilo e dela
A minha vida expressa o quanto se revela

Num tempo ultrapassado e nele o que vivi,
Ainda que se trace o mundo em brilho aqui,
O tanto quanto sou ali expressa a cela
Aonde se magoa o corte onde se atrela,

O minha mãe, coitada, há tanto abandonada
Talvez fique feliz ao vê-lo, após o nada
Moldando o novo dia e talvez não perceba,

Mas mesmo assim quem sabe ao fim isto conceba
E seja na verdade ao menos mais feliz,
Depois do sofrimento imenso que não quis.”

É claro minha amada, irei vê-la e afinal
Quem sabe isto transforme e mude todo astral
Gerando uma alegria ou mesmo a mansidão
No peito de quem sofre imenso turbilhão,

E possa noutro instante um canto magistral
Ou mesmo se desenhe a luz consensual
Mudando com certeza em nova dimensão
Trazendo em plenitude o amor qual solução.

Eu estarei contigo e tanto em bom prazer
A tua mãe decerto em paz já conhecer
Quem sabe até consiga enfim trazê-la à nós,

Depois da solidão, a vida em mesma voz,
A casa caberia e com tanta alegria
Tramando no futuro a rara sintonia...


Cena 4

Um asilo em péssimas condições, uma mulher precocemente envelhecida deitada numa cama sórdida.
No corredor escutam-se as vozes de um casal


Fique tranquila amada, irá conforme eu digo
O tempo na verdade expressa um novo abrigo
E sei do quão é duro imaginar aqui
O sonho de um momento aonde percebi

O amor que sem limite adentra o que consigo
E vejo sem temor, e nisto já prossigo
E vivo com certeza o todo que há em ti,
As faces desta vida eu também conheci,

E sei da solidão e também da loucura
A vida se traduz e quando se amargura
Expressa o medo e o caos sem nada que se veja

Além do que pudesse em senda malfazeja
Trazendo no final apenas o que eu possa
Viver em plenitude a sorte toda nossa.


“Deixe eu entrar primeiro, assim logo te chamo,
O mundo é tão diverso e sei o quanto exclamo
Senilidade ali, já não existe mais
Apenas o que possa em ledos vendavais,

Da fronde que inda resta ausentando-se o ramo
É tudo quanto tenho e sei o quanto eu amo
E dela o que visse explica em desiguais
Caminhos onde o todo pudesse sem jamais

Tramar em dor e medo o quanto resta em mim,
A derradeira flor do que sonhei jardim,
E nela o meu futuro ainda se expressasse

Mostrando com ternura a derradeira face
Do quanto me restara após a vida em vão
E nela a sorte traça inteira a dimensão.”



Solange entra no quarto e conversa com a mãe.

“Saudades minha mãe, que bom te ver tão bem,
A vida transformando o quanto ainda tem
Só devo te dizer querida estou feliz
Vivendo o grande amor que tanto um dia eu quis,

Irei te apresentar e saiba que este alguém
Trazendo com certeza a vida onde contém
O brilho de um futuro e nele o que mais fiz
Deixando para trás a amarga cicatriz,

Um dia tu irás viver conosco e vejo
Futuro mais brilhante e sei tão benfazejo
Não temas o que venha estou junto contigo,

E neste caminhar além sempre prossigo
Vivendo com ternura a vida em tal encanto
Vencendo qualquer dor, temor, mesmo quebranto.”

O olhar vazio da anciã precoce se concentra na filha.




“Estás me ouvindo mãe? Balance esta cabeça
Confirme; por favor, e toda a dor esqueça
A sorte se aproxima e muda o meu destino,
E neste caminhar à paz eu me alucino,

E num emaranhado a vida sempre teça
O quanto se deseja e mais do que eu mereça
O canto em harmonia agora em raro tino
Traduz o meu cenário em brilho esmeraldino,

Adentro em tal vergel e bebo a imensidão,
Trazendo dentro da alma a luz em tal clarão
Vencendo alguma dor e tendo em plenitude

O tanto quanto quero e sei que agora mude,
Afirmativamente espero uma resposta,
Entendes o que falo? Entendes tal proposta?”

A mãe balança a cabeça afirmativamente.




“Desejas conhecer quem tanto trouxe a luz?
Este homem desejado ao patamar conduz
E deixo para trás o ledo sofrimento,
E bebo em cada gole o sonho onde fomento,

Espere mais um pouco e o quanto te propus
Transcende ao que eu buscara e quando além me pus
Tomando com ternura o claro e manso alento
Vencendo com firmeza o duro e forte vento.

Estar junto contigo é tudo o que desejo,
E sei do quanto possa em passo mais sobejo
Ousar e ser feliz, minha mãe tão querida,

Razão do quanto resta enfim em minha vida
( olhando para fora)
Mamãe eu te apresento o amor que tanto falo,
O sonho que ultrapasse enfim qualquer abalo.”





“Amado venha logo, estou a te esperar,
Verás a criatura aonde o verbo amar
Expressa com firmeza o tanto que se anseia
O sangue que ali pulsa explode em cada veia

Desta mulher que tanto agora traz no olhar
A sorte bem maior do quanto a se mostrar
Já nada nesta vida agora, pois receia,
E tem no coração a lua sempre cheia,

Vencendo a tempestade encara algum tufão
Vivendo em pleno sonho amor em eclosão
Na dimensão exata aonde se fez tanto,

Vibrando em consonância aonde já garanto
O amor que não coubera enorme dentro em mim,
E sei do quanto traz caminho ora sem fim.”




Rogério entra e o olhar da velha se torna angustiado e aterrorizado.

“Que foi querida mãe? Aqui está decerto
Amor da minha vida, e nisto o sonho aberto
Traduz a claridade e nela sou inteira
A vida de tal forma expressa a verdadeira

Razão por onde o mundo em dor ora deserto
E vivo a claridade e nela o descoberto
Caminho em plenitude ainda que se queira
Vencer a solidão, deveras mensageira,

Das tramas do passado, gerando um novo dia,
E nele o quanto quero ou mesmo poderia
Viver sem ter sequer o medo que tanto

Trouxesse noutro passo o quanto ora me espanto,
O amor que no meu peito instala seu império
Mamãe traduz um nome, atende por Rogério.”

Neste instante a velha salta sobre Rogério e grita desesperadamente.

Seu cão verme safado, agora me lembrei,
Amigo de Ricardo a quem eu me entreguei
O pai desta infeliz, e vendo-te em meu quarto,
Aborto em pesadelo um verme espúrio e farto,

Desapareça agora ou eu vomitarei,
Amigos do passado? A podridão que sei
Fugiste zombador, bem antes do meu parto,
E o canalha se esconde. Demônio, não reparto

Meu mundo com teu mundo, ó infeliz Satã
A vida não seria assim turva e malsã
Não fosses tu seu merda, e seu amigo Cão,

Filhinha me perdoe a minha indignação,
Tu não reconheceste ( se dirigindo a Rogério que olha assustado) esta que se declara?
Pois bem seu verme imundo, aqui tu vês a CLARA!

FECHA O PANO

FIM DO SEGUNDO ATO E DA PEÇA
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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