Perfeita é a minha face
Naquele espelho sombrio
Onde o sangue escorre
De tanto tentar ser perfeito
E um novo alguém nasce
Melhor que eu, repleto de brio
Ele do espelho morre
Sem razão nem direito
E os espíritos descem até mim
Dançam em valsa em meu redor
Espalham mais e mais sangue
E arranjam os cabelos meus
Pintam as paredes de carmim
Criam um misto de terror
Sem mais favores que pague
Entrego o corpo aos céus
E rasgam-se os trajes
As angústias delirantes
Negro fico de penas
Pressinto que a Morte está perto
Esquecendo a forma como ages
Os vidros partem-se depois do antes
Ao espelho me olho e apenas
Morro com um estranho aperto
Morro outra vez
Contra a minha decisão
Sem qualquer outro jeito
Morro de viuvez
Sabendo que no meu coração
Serei sempre perfeito
Pedro Carregal