Da proporção entre as coisas,
pouco sabemos; assim,
erramos ora por excesso,
ora por falta de agir e de exprimir.
Mas aquilo sim, que era falta de senso,
pois, na ânsia de construir um transporte
para as suas ilusões de criança,
ele usou pregos de mata-burros
para firmar uma caixeta de goiabada!
Sob o peso e o impacto de tais cravos,
o frágil carrinho das ilusões desmantelou-se,
seus cacos ficaram espalhados na varanda,
e o menino, vário como toda criança,
pensou então num modo laçar estrelas,
queria, agora, ter um carro de fogo!
Logo viu: quis muito, pôde pouco...
De tanta falta de senso de proporção,
de tanto sonhar impossibilidades,
só lhe restou mesmo ir contemplar
os trens que partiam da cidade:
ali, sem ter de exercer vontades,
viu que o entardecer faz crescer o vazio,
e impõe esperas, ou adormece ilusões...
[Que sei eu de construir ilusões...
usando cravos de mata-burros?!
De esperas e vazios, sei alguma coisa...]
[Penas do Desterro, 13 de fevereiro de 2011]