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UM NOVO PROMETEU

 
 
O Teatro clássico era feito em versos, principalmente em alexandrinos. este formato de um drama ao qual chamei UM NOVO PROMETEU, confeccionado em sonetos, creio ser o primeiro da história da literatura, espero que gostem e se tiverem notícias de outras peças desta forma me digam por favor.
abraços marcos





UM NOVO PROMETEU


PERSONAGEM

RICARDO – HOMEM DE MAIS OU MENOS 50 ANOS

ATO I

CENÁRIO – A sala de uma casa em fraca luz, década de 80 com pouquíssimos móveis.
Um sofá puído e uma estante desarrumada.
O que se vê é a janela sempre fechada não dando para discernir direito se é noite ou dia, como se fosse num eterno crepúsculo.

Durante o tempo todo o personagem fala como se alguém o escutasse, olhando vez em quando para a platéia.
















CENA 1



A vida se traduz aonde nada resta
Somente o que buscara em leda e frágil fresta
Restando a voz sofrida embalde sonhadora
De quem tanto se fez e quando além já fora

Mergulha no que possa e tenta alguma festa
Do medo quando a luz encontra a mais infesta
Vontade de vencer a sorte sofredora
E nisto se deslinda a luta tentadora,

Não pude ser feliz e nada mais traria
Sequer o que buscasse em luz e fantasia
E o verso adentra a noite embalde e sem proveito,

E mesmo quando audaz o passo se desfaz
Gerando o que inda busca e deixa para trás
Apenas o que tento e nem sequer aceito.


-

Já nada caberia ao passo mais veloz
De quem de uma alegria expressa a louca voz
Marcada pelo incêndio em dores mais sutis
Deixando para trás o que deveras quis,

No corte que se vê o mundo segue após
E tenta sem sentido o mesmo canto, algoz
Do marco que pudera em atos mais gentis
Seguindo sem defesa apenas por um triz.

O prazo determina o fim de cada verso
E nisto se pudesse ainda quando imerso
Nas tramas deste engano apenas contumaz.

Vestindo o que me coube, apenas um bufão,
Olhando para trás sem rumo e dimensão,
O pouco que inda sobra o tempo ora desfaz.


-

Amigo me perdoe, estúpido poeta
Que tanto falastrão gerara a mais completa
Insensatez e atroz bebesse este vazio
Aonde o que inda possa espúrio desafio

Marcando o que inda tenho e nada mais repleta
Nos ermos da esperança apenas mera seta,
E nisto o que pudera atravessando o rio
Imerso neste passo ainda que sombrio,

Reveste cada engano em ledas farsas, sonho.
E no final do dia o que trago e decomponho
Gerasse tão somente a ausência de outro porto;

Embora sem saber dos dias que virão
O todo se desnuda e sem a dimensão
Do quanto imaginei, prossigo semimorto.



-


Não pude acreditar e nem mesmo o quisera
Sabendo desta vida em luta amarga e fera
Galgando imprecisões e nada mais se vendo
Somente o que se fez apenas o remendo,

O mundo se pudesse em voz clara e sincera
Marcando o quanto vejo em noite mais austera,
Depois de caminhar em rumo tão horrendo
O verso sem sentido aos poucos recorrendo

Do infausto sonhador em leda temperança
A vida sem sentido invade e já me alcança
Brumosa noite escusa em meio aos temporais

As rosas que busquei, mortalha em duro estio,
O tempo se anuncia e nele o corte espio
E vejo tão somente o mesmo tom: jamais.


-


Angustiadamente o quanto se percebe
Sem nexo ou sem proveito em cada dura sebe
Vestindo a hipocrisia e nada mais tramando
Somente o mesmo passo atroz enquanto infando,

E o vento em minha face, amor teima e recebe.
Mas quando da ilusão sem nexo agora bebe
O verso se presume e tenta anunciando
Um rumo em desvario e sempre desabando

Depois do mero caos em noite tenebrosa
Ousando em duro espinho adivinhar a rosa
Ecoas sem saber o quanto dói em mim

Viver o que inda possa e ter além do fim
O mundo mais sutil ou mesmo em plena paz.
Sabendo o que me espera: a mão de Satanás...


-


O verso sem juízo invade a tempestade
E bebe o que inda resta, ao menos liberdade
E nada do que possa ainda se apresenta
Vencendo a vaga noite imersa em tal tormenta,

Voando muito além do quanto queira e agrade
O mundo se anuncia e nele a ansiedade
Enquanto se decifra o todo que alimenta
A morte noutro passo e nisto me apascenta.

O prazo terminando e o canto sem proveito
Toando dentro da alma o quanto não aceito
E mesmo redimisse enganos costumeiros,

Apresso cada passo e busco os derradeiros
Momentos onde eu possa agora ser feliz
Deixando para trás o quanto o contradiz.


-

Nascendo nas Gerais em meio ao desafeto
Prenunciando a vida aonde me depleto
Nos ermos mais banais desta alma solitária
Viceja outro jardim na noite imaginária.

E quando noutro rumo o passo ora completo
O sonho determina o prazo em ledo veto,
E nada mais pudesse a sorte solidária
Sabendo do que resta em noite amarga e vária.

Mas tendo na esperança além da mera sombra
Que tanto quanto ajuda às vezes nos assombra
Encontro o meu caminho imerso noutro engano,

E sei do que pudera e quando assim me dano
No pranto sem sentido e o tempo sem provento
Esqueço o que sofri; ao menos isto eu tento...


-

A vida em sortilégio expressa o que inda tento
E brindo com meu sonho ao claro provimento
De quem se fez além de mero desencanto
E tramo novo dia embora em vão quebranto,

E quando me aproximo e nisto agora invento
O prazo se extermina e sigo contra o vento
Depois do que viria e nada além do canto
Regendo o pensamento e o fim ora garanto.

Não tendo o que pudesse ainda me acalmar
O medo se apresenta após raro luar
Deixando como herança um raio mais sutil,

Porém inutilmente o todo se prevendo
Ousando ser bem mais que mero e vão remendo
Do quanto desejara e nada mais se viu...

-

Deixando para trás as tantas inclemências
Porquanto acreditar além das penitências
Gerasse no meu sonho a rubra fantasia
E nela o que pudesse e mesmo até teria

Erguendo sem temor a vida em ingerências
Diversas do que trago em lutas, consciências
Matando o quanto vejo em leda alegoria
E nada mais se vê; apenas a agonia.

Pudesse até voar e fosse bem distante
Do quanto se desenha e nada mais garante
Na imensa liberdade em canto ou esperança;

Porém quem tanto quis e nada conseguira
Expressa a realidade enquanto a vida gira
E tanto que quisera, ao fim pára e se cansa.


-



No prólogo da vida a peça se encenando
Em rumos mais sutis e nisto desde quando
O todo não pudera em expressão diversa
Falar do que em verdade o tempo desconversa

Castelo de ilusões? Percebo-o desabando
E o vento noutro rumo aos poucos entornando
O quanto se quisera e agora se dispersa
Enquanto em pesadelo a sorte nega e versa.

Resulto deste vão e nada mais teria
Senão este caminho em busca da alegria
Utópica senhora, em luz ou na penumbra

E o quanto se quisera a sorte mal vislumbra
Deixando para trás a luta sem final,
Vestindo esta esperança em rústico sinal...


-

Acordo e nada vendo além desta geleira
Que tomando a janela expressa a derradeira
Vontade do que fora e nunca mais voltara
Deixando eterno inverno em toda esta seara

Matando o quanto pôde a sorte verdadeira
E nem sequer presumo ainda uma lareira,
Somente a solidão e nela se prepara
A morte a cada ausência e a luta não prepara

Apenas diminui a chance de quem sonha
Numa expressão mordaz, atroz quanto medonha
Vestindo na medida a justa sensação

Do fim que se aproxima em clima dolorido
E o quanto inda me resta, ao fim de tudo olvido
E bebo sem sentido, a viva podridão...

-

Ausente juventude e a noite se transborda
E nada do que pude ainda segue à borda
Do sonho mais feliz que nunca fora meu
E o que deveras trago aos poucos se perdeu.

Minha alma solitária estúpida recorda
Do quanto imaginara e nada mais acorda
Somente a dor do vento e nele o imenso breu
Gerando o que tentara e há tanto se escondeu.

Pousando mansamente em sonhos noutro cais,
Esqueço num instante os rudes vendavais
E bebo da esperança, espúria companheira

E o verso sem sentido e mesmo em dor e tédio
A vida se presume e mostra sem remédio
E pelos dedos sinto enquanto além se esgueira...





CENA 2

O mesmo ambiente, o personagem está de pijama, sentado no sofá e se vê jornais jogados pelo chão da sala.


Quem sabe a morte seja a sorte que prometes
As gotas desta chuva atrozes canivetes.
E neste vil cenário o rumo se desenha,
Ainda que eu pudesse em leda brasa e lenha

Tentar seguir o passo; a sorte comprometes
E deixa para trás as dores quais vedetes
Da festa que ilusão ainda que a convenha
Encontra num resumo o quanto não mais tenha.

O tempo não prepara e traz a velha queda
E o pranto noutro pranto aos poucos já se enreda
Deixando no passado apenas a ilusão

Restando dentro em nós a verdade cruel
E dela o que anuncia expressa o seu papel
Matando sem sentir os dias que virão.



Porquanto a vida fora espúria e sem juízo
Na solidão que adentro e sei quanto matizo
Os bares noite afora, um pária e nada mais
Expresso o que buscasse além dos temporais;

Acumulando enfim diverso prejuízo
E nada mais pudera ao ser sempre impreciso
Braseiro da esperança, em dias desiguais
Responde no final, em mesmo tom: jamais...

Um dia a mocidade ou mesmo o sortilégio
Gerasse noutro encanto um tempo em privilégio
E o vago deste sonho encontra o fim de tudo.

Negaceando o passo em volta do vazio
E quando sem sentido algum deveras crio
Apenas se apresenta o quanto desiludo...



Em noite mais bravia a sorte desandara
E quanto mais dorida a vida atroz e amara
Traçando sem proveito o verso mais sutil,
O mundo desabando aonde o vão previu.

E nada do que possa agora se prepara
Vencendo em destemor a sorte que se ampara
No corte mais dorido e sei decerto vil,
Deixando para trás o todo que não viu

Senão a tempestade e nela o que se espera
Apenas o vazio em bote da quimera
E o prazo determina o fim de uma ilusão

Quem dera ser feliz, ou mesmo acreditar
Que em meio à farta bruma ainda algum luar
Trará em turvo olhar, ao menos um clarão.





Perder o que se tem, decerto é dolorido
A vida perde o chão e o tempo dita o olvido
E resta tão somente o fim que não previra
Traçando a tempestade aonde adentre e fira.

Porém o que hoje sinto em passo resumido
Não traz esta verdade e toma este sentido,
O prazo que findara, apenas é mentira
A Terra ora caminha e sei do quanto gira,

Mas quando na verdade o fim fora mostrado
Bem antes do começo e dele não me evado
Vestindo a carapuça em lágrimas, terror.

Aonde não sentira as tramas de um amor
Acordos entre nãos e mortes tão somente
O quanto se anuncia e sei que se apresente.



Cena 3

Uma claridade bruxuleante adentra o mesmo cenário.



Da lua e dos sertões, imagens distorcidas-
A seca de minha alma ainda dita as vidas
E nelas o que penso ou mesmo poderia
Não mais me permitindo o sonho e a fantasia.

Do quanto em vendaval as horas resumidas
E delas o que vejo em noites consumidas
Na busca pelo cais que nunca mais veria
Felicidade? Eu sei... Apenas utopia.

Mas quando se presume o fim sem qualquer chance
De ter noutro momento a paz que nos alcance
A dor se multiplica e gera o imenso caos.

Os dias sem proveito e neles outros graus
Vicejam no vazio ainda que se tente
Mudar o descaminho, atroz e imprevidente...




O fim se aproximando; e nada mais consigo
Somente o quanto é rude a vida em desabrigo
E tento caminhar lutando contra a fúria
Da vida sem proveito e mesmo em tal lamúria

O canto se apresenta e nele outro perigo
O verso sem segredo o mundo onde persigo
E embora se anuncie ao fim tanta penúria
A luta se aproxima e nisto a velha incúria

De quem se fez poeta e tanto quis o brilho,
Sabendo a solidão que agora em vão palmilho
Expresso o que não veio e nunca mais virá

Tentando descobrir o mundo desde já
Diverso do que a vida apenas me traria
Matando o que restasse ainda em fantasia.





O caos de quem se fez em noite mais brumosa
Enquanto a sorte vem e nisto se antegoza
A morte em solidão e nada mais se visse
Senão a mesma dor e nela esta tolice

Deixando a minha estrada espúria e pedregosa
Matando em tanto espinho a amena e bela rosa,
O prazo determina além de uma crendice
Vagando sem sentido aonde se não revisse

Sequer uma esperança, ou mera juventude,
E tanto que pudera ainda quanto ilude
O velho sonhador sem eira, beira e cais,

Acende-se a fogueira e nesta mansa frágua
O todo que viera, agora em vão deságua
Traçando apenas isso: anseios desiguais.





Meu medo se anuncia após o que não veio
E sei do que pudesse e neste vão receio
Anseio sem saber o quanto ainda resta
Da vida sem sentido ou mesmo atroz, funesta,

O canto que se fez em ledo devaneio
O prazo que termina e nisto outro permeio
Gerando do vazio além do que se empresta
Matando pouco a pouco e sei quanto detesta.

Não tive qualquer sorte e sei do destempero
O mundo sem caminho expressa o desespero
Deste que fora aquém do quanto desejara,

A luta cansa e mata e nada mais se vendo
Senão a mesma face em tom diverso e horrendo
Abrindo no meu peito; imensa e funda escara.






Espectro de um passado ainda me rondando
E o tempo modifica? Apenas duro e infando
Meu mundo se perdera em bares e sarjetas
As sortes mais gentis, somente são cometas,

E quando noutro caos o todo transformando
A luta sem cansaço, o amor em contrabando
E ainda quando em riso o que ora me prometas
Prepara; a vida em dor, somente tais falsetas.

Não posso mais negar o quanto desejei
Tentando adivinhar diversa e calma grei,
Porém mera ilusão e nisto o que se vê

Não deixa que perceba ainda algum por que
Ou mesmo novo rumo em senda confortável,
O todo que sonhei? Alheio e degradável...



(Um ruído seco se escuta ao longe)

Escuto a voz do tempo e nada mais o cala
A morte se aproxima e toma inteira a sala,
O verso sem proveito, o canto desvalido
E quando só me deito, o todo enfim o olvido,

Porém a solidão ao ver alma vassala
Não deixa mais a paz e quanto mais escala
Andaimes da lembrança ausente algum sentido
O corte se aprofunda e ao nada enfim regrido.

Espectros do passado, ou mesmo a mera ausência
De uma esperança toma inteira a consciência
E mata o que pudesse em expressão sutil

Dizer do quanto quis e o tempo repartiu
Vagando sem destino em vida virulenta
Quem sabe esta mortalha, ao fim já me apascenta?






Falar do amor? Mas, como... A vida fora ingrata
E nada do que tento a sorte em paz constata
Invisto o passo quando a luta em tal contenda
Não traz o que inda queira ou mesmo se desvenda

A mão que se anuncia a mesma que maltrata
E traz a imensidão aonde a dor retrata
No prazo que se quis amor conforme lenda
Perdido em descaminho, a sorte sem emenda,

O nada após o nada e o fim ditando o tudo,
O canto que inda venha; imerge enquanto iludo
O coração sombrio e até mesmo patético

Resumo do que outrora ainda quis eclético
E vejo se perdendo em tramas desiguais
Deixando como rastro os dias mais venais.



(levanta-se e dirige à platéia)


Platéia? Para que? A luta se desenha
Sem nada que aproveite e mesmo o que contenha
Expressa a solidão de um vago marinheiro
Num mar onde pensara apenas mensageiro

Do todo sem juízo em clara e mansa ordenha,
Porém a mendicância alcança quem desdenha
Da sorte mais sutil, no verso derradeiro
Matando o que se viu, qual verme em hospedeiro

Rascunho da esperança, o verso sem proveito
E tanto quanto pude ainda ser aceito
No tempo mais fugaz ou mesmo imaginário,

O canto se anuncia e traz feito um corsário
O pânico a quem tenta apenas calmaria
E sabe muito bem, que enfim nunca a veria.





Perdoe se desnudo a face mais vulgar
De quem pudesse além apenas caminhar
Sem tanto vão tropeço em paz e calmamente
Ainda quando muito o sonho ora se ausente

E deixe sem sinal algum o que expressar
No pranto derradeiro aonde sem luar
A luta se moldara e nada mais consente
Quem tanto quis o dia em tom iridescente.

Nas ermas ilusões, apenas o vazio
E quanto mais reluto, em vão, pois desafio
O verso sem proveito, a noite em vaga luz

O quanto que pudera ainda sem descanso
Demonstra este sombrio espaço aonde avanço,
E sei da sorte feita em tédio, medo e cruz...




Quisera ser diverso em verso e dia a dia
No tanto que pudera a vida me traria
Apenas a verdade e nada mais ou menos
Dos dias entre sonho ou passos mais amenos.

Seria no final a amarga fantasia
Que tanto fere atroz e marca em utopia
Fazendo da esperança os duros vãos venenos
Tentando do bem pouco; instantes quase plenos.

Mas sei do quanto é rude a vida de quem ama
E nisto o que pudesse além da mera chama
Viver em fogaréu ou mesmo em clara paz,

Agora no final, apenas não compraz
Quem tanto quis o brilho e nada mais se vira
Somente a luta atroz expressa em vã mentira.


( senta-se novamente)

Durante muito tempo ainda acreditei
No amor como se fosse a sorte imensa, a lei
E o verso se mostrara em tom bem mais gentil,
Castelo de ilusão, aos poucos me traiu

E o que pensara ser quem sabe mesmo um rei
Agora se anuncia aonde não terei
Sequer outro caminho, ainda quando vil,
Vagando sem saber do quanto se previu

Jogado neste mar imerso em solidão,
O verso se aproxima e dele se verão
Ausências mais sutis e o nada dita a voz

Do quanto se queria, ou mesmo logo após
Naufrágio da esperança o canto sem provento,
O medo se anuncia imenso e torpe vento...





Já não pudesse mais vencer os meus enganos
E sei que acumulando a vida em tantos danos
Resumo cada verso em sonho e nada mais,
Ainda quando vejo o quanto vens e trais

Não tento caminhar em ermos desumanos
E nem modificar da sorte os duros planos
Restando apenas crer em dias desiguais
Deixando para sempre os cantos magistrais

Se a carne dilacera e nada mais permite
O verso se anuncia e sem qualquer limite
Embarco no vazio e nada mais possuo

O quanto solitário um dia quis ser duo
E trouxe esta mentira a mais em sofrimento,
Cansado desta luta, agora nada tento...


Cena 4


Mesmo cenário. O tom se obscurece um pouco mais e se houve o vento assobiando fora da casa, mas a janela continua fechada.




Ah! Noite sem estrela, apenas turbulência
Da vida sem sentido em louca penitência
Vagando noite afora ocasionando a queda
Apenas ao sombrio o passo se envereda

E o quanto se quisera em nova providência
Matando em nascimento ou trazendo a demência
A quem se tanto quis agora a sorte veda
Marcando o quanto trouxe em podre e vil moeda.

Jamais pude entender o sonho em esperança,
Pois sei que a cada dia o fim sempre se avança
E toma plenamente o que quisera crer

Na turva escuridão, buscar o amanhecer?
No olhar de quem sonhasse eu vejo algum farol,
Mas sei quanto é distante o dia em belo sol.





Liberto cada espectro em leda fantasia
E sei do quanto posso e nada mais teria
Senão este vazio aonde me adentrara
Marcando com temor a leda e vã seara,

O corte se apresenta e não mais me traria
Sequer o que procuro e mesmo até queria
No quanto a cada queda a sorte desampara,
Deixando sem sentido a senda que quis clara,

E navegando ao léu no carrossel das dores,
Aonde com certeza eu sei que já propores
Vestir em ilusão meu passo em rutilância,

Porém aumenta assim a imensa discrepância
Do quanto pude e tenho e o todo que busquei
Tornando sem sentido a turva e opaca grei.





Não pude constatar sequer uma esperança
Após a minha vida em meio ao nada
Depois do que tentara apenas a alvorada
O canto sem proveito ao fim ora se lança

E trespassando o peito, a solidão em lança
Deixando para trás a luta desenhada
No quanto se aproveita da sorte emaranhada
Nas tramas do vazio aonde o verso alcança.

Sombrias noites vejo e delas cada verso
Expressa o que em verdade apenas mal disperso
E vendo sem caber o quanto pude crer

No tanto que inda resta ou mesmo conceber
O canto sem proveito e o fim se aproximando
Marcando o que se fez em ar duro e nefando...




Cadenciando a vida, um dia imaginei
Vencer o descaminho embora fosse a lei
Mais costumeira e rude aonde o nada tive
Semente do passado e nela me retive.

E caprichosamente o todo que busquei
Expressa a solidão e nele mergulhei
Ainda quando em dor a sorte mal convive
Trazendo o que somente agora já me prive

Do verso e da alegria, embora nada veja
Somente o que pudera e quando em malfazeja
Verdade sem sentido e mágoa sem razão,

Os dias que puder e neles se verão
Ausência de esperança ou mesmo em amplitude
O quanto desejei e sei que desilude...


( dirige-se à platéia)

Perdoe a persistência em verso sem proveito
Da vida que decerto ainda dita o leito
Do velho sonhador embora sem saber
Do quanto se anuncia ou marca algum prazer,

No vento onde se entranha o rústico que aceito
Talvez a morte seja o derradeiro jeito
E nela o que se cresse ainda possa ver
No caos após a queda o fim em desprazer.

Gerando dentro em pouco apenas tempestade
O mundo em ilusões deveras já se evade
E marca com terror o verso mais sutil,

Ainda quando o quis, o todo não previu
Sequer uma saída ou mesmo em alegria
Senão esta mortalha imensa em agonia...






Apresentado à dor enquanto fosse assim
A vida que pudera esvai e toma o fim
Marcando em nebulosa a noite sem progresso
E nisto o quanto quero ainda em vão confesso

Tentando descobrir as flores de um jardim
Há tanto amortalhado ou morto dentro em mim,
E sei do que percebo em luta e retrocesso
Vestindo o quanto pude e em cada passo meço.

O rumo desta história apenas se perdendo
No tétrico caminho e nele em dividendo
Potencialmente a queda e dela sei do nada

Invisto cada sonho e tento a caminhada
Em meio ao que inda vejo e sei do final quando
Meu mundo sem sentido; o vejo desabando.





Insisto, mas sei bem do quanto nada resta
Sabendo aproveitar a mera e leda fresta
Por onde poderia ao menos ver a sorte
Diversa da que trago e tanto desconforte.

Ainda que pudesse a vida já não gesta
Sequer a fantasia audaz e mesmo honesta
Marcando com ternura alguma o duro norte
Prepara a cada instante apenas para a morte.

Nefasta imagem vejo e nada mais me abriga
Somente a solidão, embora turva amiga
Esqueço o que vivi apenas por instantes

Sabendo desde já o quanto mal garantes
Vencido caminheiro em busca da esperança
Quem tanto procurava agora enfim se cansa...


( o barulho do vento aumenta paulatinamente e o personagem retorna o seu olhar para o vazio)

O vento explode e traz consigo o sofrimento
Um náufrago somente ainda busco e tento
Sentir os pés no chão e sei que não terei
A sorte de seguir em paz a mansa grei,

Meu verso se completa em puro desalento
E sei do que pudera enquanto esteja atento,
Mas nada do que entranha a vida moldarei
Quisera a sensação que nunca mais verei

Do tempo em plena paz ou mesmo mais suave
E quando na verdade o verso em dor agrave
O pranto, busco aonde o templo em raro altar

Trazendo o quanto pude apenas desenhar
Na sórdida expressão sem rumo e sem sentido
Enquanto o verso atroz somente o que lapido.




Através da janela a imagem do meu sonho
Morrendo pouco a pouco, em passo que medonho
Expressa tão somente o quanto me restasse
Mostrando sem sentido a dura e amarga face

Do preço que se paga enquanto mal componho
O tempo sem destino e sei quanto enfadonho
Ainda que decerto o prazo não findasse
Regresso do vazio e bebo o que marcasse

Em carne viva a vida, apenas sem sentido
E o todo sem destino enquanto mal olvido
O verso em tom cruel atroz realidade,

E o prazo determina o quanto ora se evade
Do manto já rasgado e mesmo inutilmente
O que mais desejara ao nada se apresente.





Pergunto a quem quiser ou mesmo por clemência
Ainda me escutasse à luz da coincidência
O quanto se desenha em tom surdo e venal
Deixando como herança apenas temporal,

O medo se transcende e gera a imprevidência
A luta se anuncia e dela a consciência
Rasgando o quanto pude em tom consensual
Vestir da hipocrisia um gesto mais banal,

E sei do que decerto a vida não prepara
Deixando a cada passo apenas esta apara
E quando penetrando a pele de quem sonha

A chaga que anuncia embora tão medonha
Talvez seja o que reste a quem se fez aquém
Da luta sem sentido enquanto a morte vem.


( De novo se dirigindo à platéia)


Convido-te a brindar, um gole ou pouco mais
Embora no final; eu sei quanto me trais,
E canto sem razão a luta onde se avança
Deixando no passado a mera temperança

E quando se anuncia a vida em ermos tais
Os dias que se vêm decerto são mortais
E trespassando o sonho, apenas esta lança
Tentando acreditar no fim numa mudança.

Mas todo o meu anseio expressa a solidão
E dela novos cais deveras não verão
Saveiro mansamente após a tempestade,

Naufrágios que conheço e sei do que degrade
Matando sem defesa o sonho que me deste
E agora o que me resta expressa a dor e a peste.





Já não me caberia ousar em novo canto
E sei que se aproxima apenas desencanto
Depois do novo dia em luz turva e diversa
Meu passo sem sentido ao teu teimando versa.

E quantas vezes fui apenas o quebranto
O fim do sofrimento? Eu sei que não garanto.
A vida se renega e nisto desconversa
Ainda quando muito ao fim já se dispersa.

Semeio a tempestade e bebo o vendaval
Apenas para a morte ao menos um degrau
E nele se vislumbra o ocaso da viagem,

E quando no horizonte encontro a paisagem
Em trevas, nada mais, o tempo se anuncia
Num traço mais voraz em dor e em agonia...



( volta o seu olhar para o nada)

Espectro do passado ainda me atormenta
E traz em frenesi a vida tão sangrenta
Enquanto a paz tentara em nova provisão
Da sorte mais audaz ou mesmo em dimensão

Diversa da que vejo e não mais apascenta
Quem sabe muito bem da sorte violenta.
E embora sem sentido, os dias que virão
Deveras sem caminho envolto em solidão

Restando muito pouco ou mesmo quase nada
Da noite que julguei um dia enluarada,
Cansado desta luta e nela sem proveito

O quanto desenhei e sei que quando deito
Fantasma do que outrora em vão a vida lança
Matando o quanto resta ainda de esperança.





Jamais pude viver ao menos o sorriso
De quem ao desejar pudesse mais preciso
O passo sem sentido imensa tempestade
E nisto o que se vê apenas desagrade.

O mundo em tal tormenta enquanto ora matizo
Meu verso solitário e nele o mais conciso
Cenário se traduz além da realidade,
Cruel e desvalida exposta ao que me invade.

Não pude acreditar nem mesmo em novo tempo
A vida se expressando imenso contratempo,
Verdugo de mim mesmo, o canto se resume

E tento acreditar ainda em algum lume,
Mas sei desta sombria e imensa solidão
Tornando o dia a dia atroz, sem solução.




Ousasse ser feliz enquanto mais provável
Caminho se anuncia em tempo ora intragável
Vestindo em ironia o quanto se quisera
Depois de atravessando a sorte atroz e fera.

O quanto da esperança agora indecifrável
Marcara o quanto quis em noite indisfarçável
Seguindo o descaminho em luta mais sincera
Deixando sem sentido a sorte noutra esfera,

O canto sem proveito e o mundo sem juízo,
Das vendas da ilusão apenas prejuízo
E o prazo terminando expressa o que não veio,

Resulto deste caos e sei do quanto alheio
Meu mundo me traindo esgota alguma luz
Deixando para trás cenário que eu propus.




Encontro tão somente as marcas do que fui
Depois de tanto tempo, ainda a dor influi
E gera sem sentido o passo aonde tento
Vencer o quanto pude e sei do desalento,

Ainda quando muito o canto não conflui
O todo que desejo aos poucos queda e rui
Deixando como marca apenas sofrimento
E nisto o quanto tenho expressa este lamento.

Enfrento o dia a dia e nada mais se vendo
Somente este retrato e sei o quanto horrendo
O mundo na verdade expondo cada estorvo

E quanto mais crocita a noite feito um corvo
Presságios tão sutis em morte ou tempestade
Negando uma esperança aonde o vão invade.





A vida se pudesse ainda me trazer
A sombra do que fui envolto num prazer
Ainda que talvez somente imaginário
Mudasse num instante o velho itinerário

E o corte se anuncia aonde eu possa ver
Restando dentro da alma algum mero querer
E nada mais vencesse o risco temerário
De quem se fez feliz ou mesmo apenas vário,

Não tento acreditar na redenção de um sonho
E quanto mais mergulho, em vão eu me proponho
Na luta que não cessa e dela tento o encanto,

Porém o que se vê traduz velho quebranto,
E o frágil sonhador envolto no vazio,
Ainda quando muito a solidão recrio.




O vendaval espalha as cinzas da esperança
E quanto mais atroz em vão a vida lança
O mundo que eu quisera e agora já não há
Nem mesmo a menor sombra e sinto o que virá

Em tanta tempestade o quanto sem pujança
A vida traiçoeira explode em tal vingança
Marcando o quanto resta e sei que inda trará
O todo que deixei aqui ou mesmo lá;

Meu verso inutilmente ainda busca a paz
E sei da solidão enquanto o nada traz
Somente esta desdita em dor e turbulência

Ainda quando bebo a amarga consciência
Da vida inutilmente envolta no vazio
E opaca fantasia o quanto em vão recrio.





Tentando acreditar no dia que não veio
Seguindo neste ocaso em dor e devaneio.
Incauto camarada a sorte não traria
Sequer o quanto possa em nós a fantasia.

O mundo sem juízo o corte em vão recreio
Persisto e me encontrando aquém e mesmo alheio
Não vejo nosso amor qual fosse uma utopia.
Sabendo que ao final, mera melancolia,

O canto se espraiando aonde o nada existe
O olhar imaginário agora vejo triste
E nada que se fez permite acreditar

Num rastro magistral envolto num luar,
Somente esta semente aborto inevitável
No solo da esperança atroz e nunca arável.





Das trevas escoltado ainda pela dor
Vencido sem destino. Olhar dita o pavor
E nada mais se visse além deste sombrio
Caminho aonde tento e mesmo desafio

Ultrapassar o medo, embora em tal andor
A sorte se desenha em luto e desamor,
Não tendo outro caminho, apenas já desfio
O tempo em verso rude e sei do quanto esguio.

Reparo cada estrela e sei que não terei
Sequer a menor sorte nada dita a lei
Do caos que mais sutil apenas a lembrança

Do amor que tanto quis e nunca mais teria
Vestindo esta tormenta imersa na agonia
O rumo tanto rege o passo que ora cansa.



Não pude acreditar apenas no que vejo
E sei do meu caminho em luto e malfazejo,
Cabendo muito pouco a quem quisera mais
Sobrando tão somente em rudes vendavais

O medo sem sentido e a luz onde prevejo
O fim da dura vida; em tétrico trovejo
E o prazo se findando ainda em dias tais
Sem rumo e qualquer nexo imerso em tons venais.

Pudera acreditar num ato consistente,
Mas nada do que vejo ainda se apresente
Somente a morte em vida e o canto sem proveito,

E quando em solidão, imensa ora me deito
Espero sem saber o que jamais viria
O amor ou mesmo a paz, inútil fantasia.




Ao terminar este ato aonde me desnudo,
Encontro o desacato em tom atroz e agudo
Um velho timoneiro envolto em tal procela
A vida não sossega e nada mais revela,

Findando sem partilha o sonho quieto e mudo,
Porém sem ter destino, eu vejo e já me iludo
O barco na tormenta exposto em frágil vela
Do quanto poderia a sorte dita a cela,

Teria outro caminho? Eu sei que mesmo em vão
Tentasse acreditar nas sortes que virão
Trazendo ou não a praia, a mansidão cobiça

Ainda quando seja apenas movediça;
Em solilóquio sigo expondo-me deveras
Aonde se veria a sorte em rudes feras...



SEGUNDO ATO


Mesmo cenário. É noite e a penumbra persiste.



Talvez meu nome importe, ainda mesmo assim
Encontro no caminho as marcas de onde vim
E sei que na verdade importam muito mais
De tanta cicatriz aos atos mais banais.

História tem começo, e aguardo agora o fim
Marcando em dissonância o que inda resta em mim.
Quem sabe percebendo o quanto tu me trais
Quebrando o que mais quis, inúteis meus cristais.

Durante esta incerteza aonde a vida rege
Transborda no meu peito o mar atroz e herege
Vestindo a solidão, quem sabe de tal forma

Ainda que sutil se veja esta reforma
Por vezes desejada e nunca concebida,
Mudando a dimensão fugaz da tosca vida.




Imerso no vazio aonde me criara
A solidão decerto há tanto já rondara
A casa em desencanto e o sonho prepotente
De quem não tendo nada, ainda quer e sente.

Ensina-me a pescar, mas sem ter isca ou vara
Apenas ao final a vida me prepara,
O sol de uma esperança adentrando o poente,
O fato de tentar ao menos, indigente,

Vestir a fantasia espúria da esperança,
Bufão que em noite vã, sem rumo ora se lança,
Depois de tanto tempo em busca de um sinal

Que possa permitir um novo ritual,
Encontro-me decerto em sorte vaga e fria
Matando o que inda resta ou mesmo poderia...





Depois de certo tempo imaginara a sorte
Diversa da que vejo envolta no vazio
E quando; sem saber, o mundo eu fantasio
Ainda que talvez o sonho me conforte,

Ao fim somente tenho o aspecto em dor e morte
Sem nada que pudesse ou mesmo a luz comporte,
Descendo inusitado em rude desvario,
A noite não traria as margens deste rio.

Amar é conceber ao menos num momento
A placidez do canto, a mansidão de um vento
Levando para frente o barco, o meu saveiro,

E neste delirar me entrego e vou inteiro.
Semente que abortada em solo não arável
Traduz realidade em sonho temerário...





Fortuna se apresenta em face mais diversa
Daquela que busquei aonde o sonho versa
Senão a rubra luta, a velha fantasia
Que tanto imaginei e sei que não teria.

O tempo com o tempo, aos poucos desconversa
E sei da vida tosca até rude e perversa
Matando em nascedouro a mera poesia
Que se produz do nada em clara autofagia.

O ser ou não poeta, o ser ou não feliz
Trazendo tão somente o que a vida desdiz
E gera em contra-senso este vazio na alma,

A bruma ronda a casa e a noite em gelidez
Expressa com certeza o quanto agora vês
E incrível que pareça, isto afinal me acalma...



,


Depois de cada ausência ou mesmo em tom austero
A vida temperando o quanto não mais quero
E vendo a cada queda a luta se perdendo
Num rústico cenário, espúrio e quase horrendo,

O fato de sentir o tom mais insincero
Transcende ao que pudera e nisto o que venero
Jamais se moldaria além de mero adendo,
E o traje em rota luz não passa de um remendo.

Assim também o amor, que tanto desejei,
Mudando a cada dia, expressa em torpe lei
O vago sem sentido algum de uma esperança

E quando no sombrio engodo ora me lança
Avança sem sentido, em tom diverso e rude
Falando do que sei amar quanto me ilude.





Meus olhos no horizonte estúpido ou funesto,
Dizendo da sombria estada aonde atesto
O fim de uma ilusão, mergulhos neste caos,
E sei dos dias vãos em rústicos degraus.

Do quanto imaginara apenas trago o resto
E bebo gole a gole o quanto já não presto,
Meus dias moldarão decerto rudes, maus
Anseios sem sentido ao naufragarem naus

E nada mais contendo além da espúria voz
De quem sonhara ouvir o dia logo após
Melindres mais sutis ou mesmo hipocrisia.

Daquela que se fez e bem mais poderia
Não fosse a prepotência em tétrica visão,
Deixando como rastro, apenas solidão.



Aos olhos de quem vê a cena repetida
Como se fosse o fim do que chamara vida
Não tendo mais saída, o beco se fechando
E nele o que se crê trazendo em ar infando

A luta sem proveito enquanto dilapida
A morte a cada instante eu vejo sendo urdida,
Deixando para trás o que pudera quando
A vida se diverge em paz se desenhando,

Porém ao se mostrar sutil e melindrosa
Cevando em espinheiro o que pensara rosa
Trazendo em sortilégio o verso mais atroz,

Calando pouco a pouco o brilho dentro em nós
Escuto como fosse a voz de quem se fora,
Uma alma sem juízo, apenas sonhadora...




Agradecendo aos Céus somente por poder
Vencer algum ditame e crer nalgum prazer
Ainda que isto seja a velha fantasia
Da vida em paz imensa e mesmo em sincronia,

Rondando pouco a pouco, adentrando o meu ser
O todo se permite e faz sobreviver
O vento da emoção que tanto se queria
Agora se perdendo em rara hipocrisia.

Das melodias vãs ao fim que programaste
A queda se anuncia e sei quando em desgaste
Já nada me trouxera além deste sombrio

Caminho em treva e dor, gerado pelo ocaso,
E vendo tal cenário, atento me defaso,
Porém sobreviver é mais que um desafio.





Fechando este caminho aonde eu tento além
Do que pudera sempre e sei que nada vem,
Vestindo a mesma luta e sendo de tal forma
A vida se mostrando enquanto não conforma

E traça tão somente o olhar com tal desdém
Enquanto continuo e sei que vou aquém
Do prazo que tentara apenas como norma
Vencido este andarilho e nele amor deforma.

O vento que batendo em fúria nos umbrais
Os sonhos mais sutis e neles desonrais
Palavras, versos, luz; e nada mais restara

Senão a solidão comum em tal seara
Charnecas dentro da alma; e a sorte não mais clama
Deixando como rastro; o lodo, a cruz e a lama.




Cessasse de sonhar, quem sabe, eu poderia
Trazer ao meu olhar a luz de um novo dia,
Ou mesmo em amaurose o passo sem sentido
O tanto quanto quero e mesmo dilapido

Transcende ao que virá em mera fantasia
E nisto o quanto vejo explode em agonia,
Nos ermos do caminho, ainda a vã libido
Procura inutilmente o rumo já perdido.

Esfacelando o sonho envolto nos retalhos
Os dias com certeza ainda serão falhos,
E a morte até redima o quanto me negou,

Deixando para trás quem sabe aonde vou
Enfrente temporais e creia noutro porto,
Melhor do que seguir, deveras, semimorto.


( relâmpagos e trovões, além do vento mais forte)



Sob o furor do vento em franca tempestade
O passo que inda possa o tempo já degrade
E deixe tão somente as velhas cicatrizes
E nelas o que vês e não mais contradizes

Expressam muito bem a dura realidade
De quem se fez aquém da amável claridade,
Em céus diversos vis, ou mesmo apenas grises
Os sonhos não trarão senão as hemoptises

Eviscerando a sorte em sórdidos remendos,
Os olhos sem porvir, os dias mais horrendos
Espectros de uma vida imersa em podridão,

Os dias que se vêm apenas mostrarão
O fim de cada verso inútil companheiro
No canto que se ouvindo, atroz e derradeiro.







Os olhos que venais procuram cada olhar
E nisto a sorte toma e marca este lugar
Apenas no sentido espúrio da emoção
Logrando melhor sorte em frágil dimensão,

Por vezes já cansado até mesmo lutar
Ainda poderia e nada a me tocar,
Mas quando no horizonte as noites que virão
Trarão a marca atroz da intensa solidão,

Jogado sobre o caos inusitadamente
O verso sem proveito, o quanto ora se ausente
Do mundo em sofrimento e nada mais se visse

Senão a luta agreste, ou mesmo em tal crendice
Vacante sensação do amor que nunca veio
Olhando para além em puro devaneio.





Monólogo que em dor desfio em poucos versos
Falando da incerteza em dias mais perversos,
Disperso sonhador em noite inusitada
Depois de certo tempo apenas trago o nada.

Criando em fantasia os vários universos
Bebendo os mais sutis caminhos que diversos
Trariam para mim, ao menos uma estrada
Aos poucos já perdida e turva e desolada.

Não quero compreender nem mesmo ouvir a voz
Daquela que se foi sem nada além e após
Deixando tão somente a marca da pantera

Incrustada em meu peito e sei quanto insincera
Moldara a face escusa e sem qualquer alento
Num ato tão venal enquanto desatento...





Ouvindo a noite intensa em ritos mais doridos
Os prazos que se vão, em rústicos sentidos
Das lágrimas desta alma há tanto sem proveito,
O quanto no final, em dor apenas deito,

Meus versos sem certeza apenas construídos
Nos atos duros vis, e neles consumidos
Seguindo de tal forma; atroz e contrafeito,
Pensara ser feliz qual fosse algum direito.

Negaceando a sorte e nada mais trazendo
Sabendo da verdade e nisto em tom horrendo
A sorte melindrosa em rústico cenário

Produz ao fim de tudo o mesmo e temerário
Caminho em tom mordaz ausência de sinal
Que inda pudesse crer num mundo mais igual.



Ao ter, reparem bem, a face em fartas cãs
Depois da noite rude; as vagas vozes vãs
Expressam a verdade e nada mais consigo
Sequer o que pudera ainda ser o abrigo,

Penetro vida adentro e sei destas manhãs
Aonde o que se fez em lutas tão malsãs
Traduzem com certeza o tom de tal perigo,
Restando dentro da alma o sonho mais antigo.

Meu passo eu cadencio e sei que não viria
Saber do quanto resta ao menos, poesia
E ver ao fim da festa a face mais atroz

De quem se fez verdugo e gera sobre nós
Apenas a influência agônica e insensata
Do que decerto traz a dor que nos maltrata...





Não posso partilhar uma amizade rude
Sequer o que talvez ainda nada mude
E mesmo que mudasse o tom seria vão,
Moldando em invernal a rude sensação

Do prazo que se dá e nada mais ilude
Senão a solidão da antiga magnitude
Do verso que decerto os dias não verão
Deixando no caminho a luta em solidão.

Batalhas, guerras. Medo e o fim se aproximando
O mundo se apresenta então bem mais nefando
Cortantes noites vãs e sem qualquer motivo

Do todo que desejo agora ora me privo
E visto esta mortalha, apenas, nada mais…
Enquanto se prepara além meus funerais.





Tanta melancolia e nada por fazer,
Somente a nebulosa expressão do querer
Jogada sobre o cais em meio às vis borrascas
Dos sonhos mais sutis não restam sequer lascas,

Ainda que eu pudesse ao menos merecer
Enfim depois da noite um belo amanhecer
As sortes são venais e delas meras cascas
Enquanto cada tiro, errática tu mascas.

Já não comportaria a sólida expressão
Do vento em minha casa, ou mesmo se verão
Cenários onde a festa apenas começara

Deixando em desespero a sórdida seara,
A morte me redime e nisto vida expressa
O quanto se queria e a dor só recomeça.




Durante tanto tempo uma alma se expressando
Nos tons diversamente aonde quis a paz,
Excêntrico caminho a vida não mais traz
Sabendo o quanto custa e nisto como e quando.

O tanto se redunda e nisto desabando
O coração pesando em rude contrabando
O verso sem sentido ou mesmo até fugaz
A luta sem defesa em nada se desfaz.

Perdoem a insistência e nada mais faria
Senão qualquer sorriso ainda hipocrisia
Ou pura estupidez; ou cupidez de um nada

Jogado nesta praia há tanto, desejada
E o vento sem limite, ao longe ainda espalha
Fazendo do meu sonho um campo de batalha.




( volta-se para a platéia)





Não posso oferecer a ti a minha sorte
E nisto talvez haja o quanto te conforte
Depois da negação em atos repetidos
Os sonhos do passado em nada refletidos,

O verso se adivinha e nisto bebo a sorte
No canto já jogado em dor que desconforte
Capaz de imaginar os erros resumidos
Nas tramas mais venais espúrias dos sentidos.

Encontro cada rastro e nisto sigo além
Do quanto poderia e sei que não convém
Vivendo em discordância, e nisto o que cobiço

Expressa este cenário incerto e movediço;
Tempestuosamente a vida não traria
Sequer o quanto quis em mera fantasia.





Se eu ouso te dizer do quanto quis e nada
Pudesse adivinhar além da velha estrada
Jogado sobre o vão em noites desiguais
Sabendo simplesmente a dor quando me trais;

Senhores; vejam bem, bandeira desfraldada
A senda sem sossego há tanto abandonada
E os ermos de meu peito em rudes rituais
Mostrando por acaso os erros mais venais.

Não tive melhor sorte e nada impediria
De crer até possível a vida em alegria,
Cicatrizando o corte o verso num sorriso,

Mas quando me percebo em gris tom me matizo
E faço do meu canto apenas um protesto
E cada dia em sonho; expresso o que contesto.





Difícil acreditar num tempo mais suave,
A vida a cada instante ainda toma e agrave
O rumo sem proveito imerso em tais procelas
Aonde sem saber apenas me revelas

Inútil se tentar somente como uma ave
Ousando o pensamento, espécie de uma nave
Vencendo escuro céu enquanto agora selas
As sortes em corcéis, porém já desatrelas.

-Ricardo- a vida traz uma esperança além
Do que deveras sinto e mesmo já provém
Uma alma sonhadora e nada em claridade,

Somente o que se busca e sinto ora degrade
Deixando como rastro as sombras do que um dia
Pudesse imaginar bem mais que uma utopia...


( retorna o olhar para a sala)



Das artes que buscara a poesia fora
Aquela que talvez pudesse desenhar
O rumo mais sutil e nele mergulhar
Esta alma sem proveito e tola, sonhadora.

A vida com certeza é mais que tentadora
E quando se imagina a luz mais redentora
As nuvens recobrindo as tramas do luar
Traduzem a verdade inteira a se mostrar.

Durante certo tempo, acreditei fortuna
E nada do que possa ainda em paz nos una
Senão a sensação espúria em desalento

Ainda quando mesmo após um rumo eu tento,
Negaceando o passo, a solidão se traz
E nisto o quanto resta expressa o tom mordaz.





A vida tão comum deste comum burguês
Que ainda em turva luz deveras sei que vês
Na sala carcomida, estas infiltrações
E nela a solidão enquanto ora me expões

Trazendo ao meu olhar a leda estupidez
E vez por outra mesmo, um ar de insensatez
Que impeça ao sonhador ao menos emoções
E nelas outro rumo e assim me decompões.

A chuva persistente invade noite afora
E o tanto que pudera apenas desancora
O barco e no naufrágio anunciada a morte

Negando o quanto eu quis, sonega algum aporte
Restando a quem se fez um mero expectador
Falar do que não sabe: as tramas deste amor.




O tempo carcomera os olhos mais brilhantes
E o quanto se quisera apenas por instantes
Deixando como marca opacidade imensa,
E quando na verdade uma alma se compensa

Apenas no vazio enquanto mal garantes
Os versos sem sentido e nisto me adiantes
O que pudera ser ainda a recompensa
Deixando a noite fria, ausente e mesmo tensa.

Cansado desta luta e nada por fazer
Somente perceber o tempo a percorrer
Os veios da saudade e neles me entranhando

Rumando sem sentido e apenas ruminando
O vento que não veio, a vida sem sentido,
Um gole de conhaque e o templo destruído...






Não quero que me escute e nem tampouco veja
A cena corriqueira e nela o que se almeja
Apenas a verdade e nisto o quanto resta
Não traz qualquer magia, a luz em leda fresta;

A sorte que se fez deveras malfazeja
Que tanto se reflita aonde quer que esteja
E assim do ledo fim, a vida ora me atesta
Deixando sem proveito a sorte que se empresta

Ocasionando a queda e nisto o que virá
Expressa tão somente o quanto e desde já
Legado de uma sombra atroz e costumeira,

Derrama o que inda tento e sei que além se esgueira
Fantoche de outro tempo, um eco do vazio,
Aonde quis a chuva encontro o mero estio...






Já não mais comportando o quanto pude crer
Depois de tanto tempo envolto em desprazer,
Amigos; vejam bem o que esta vida trama
Deixando tão somente o duro e mero drama,

Os velhos temporais, a vida aonde o ser
Esbarra no vazio e teima em conceber
Trazendo em cada olhar além do lodo e lama,
Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,

Resulto deste ocaso em vida sem proveito,
E o que vier decerto ainda mesmo aceito
Sem ter qualquer acento em luz ou esperança

E a noite dentro da alma enquanto rude avança
Encontra sem resposta o que inda mais eu quis,
Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.





Sentando nos sofás da sórdida lembrança
O que inda me restasse, aos poucos já me cansa
E a luta não termina e segue o seu destino,
Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,

O olhar de quem se foi qual fosse fria lança
Tocando dentro da alma, expressa sem pujança
O que pudera ser em vida o cristalino
Cenário onde buscara um tempo onde o domino.

Agora que esta sorte esbarra no vazio,
Seguindo em turbulência, apenas desvario,
Não pude ou poderia; amigos, com certeza

Vencer o quanto é rude e dura a correnteza
E quando me desnudo em vórtices atrozes
Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.






Depois de quase ter a sorte que buscara
Nas ânsias tão sutis da rústica seara,
O vento me levando além do que eu pudera
Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera

Empreende este caminho e rege noutra escara
O peso sob o sonho enquanto se escancara
A luta sem proveito e o tempo que se espera
Marcando em cicatriz a face da quimera

Depois de tanta perda, a vida não consola
E o quanto ainda tenho aos poucos não decola
Semente se abortando em árido jardim

O quanto mesmo quis agora morre em mim,
Negando algum momento em plena liberdade
E o que inda me traria, o tempo ora degrade.





Já vejo que se finda o tempo de existência
E de tal fato mesmo embora com ciência
Diversidade molda o fim sem benefícios
Apenas entre queda o quanto em precipícios

Mostrara o dia a dia em torpe penitência
Minha alma se desnuda e gera em consciência
Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios
Trazendo sem proveito os tétricos ofícios

E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo
E perco da esperança algum suave ensejo.
Minha alma agora traz no olhar a fantasia

Que em cena reproduz o quanto mais queria,
Embora me distando aos poucos deste todo,
O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.






Não quero acreditar sequer no que passasse
Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse,
Apresentando agora a vida de quem fez
Caminho sem sentido ou mera insensatez,

Transito no infinito e nada se tentasse
Gestando o que se visse em velha e rota face,
E melindrosamente, ainda quando crês
Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,

Encontrarás o sonho, aos poucos repartido.
E quando a minha história enfim eu dilapido
Arcando com engano e sei quanto é comum

Viver sem esperança ou mesmo tendo algum
Momento em consonância, estreita noite vã
Matando desde agora o quanto quis manhã.


cena 2 – mesmo cenário, olhando para a platéia com outro pijama mais puído que o anterior


Quando falo de amor. Vindo à cabeça Lara
Que há tanto já se foi e nada mais deixara
Somente este fastio e a turva noite eterna
Memória talvez seja ao fim turva lanterna

E dela se espalhando uma esperança rara
Domínios sem sentido e o corte desampara
Enquanto no sombrio a vida ora se interna
E bebo a solidão, por vezes sinto-a terna,

Mas nada além do sonho, as vozes se perdendo
Juntando o muito pouco encontro em tal remendo
As ânsias de quem fora um dia mais feliz

E agora já distante ausente do que eu quis
Esbarro em todo engano e nada se apresenta
Somente esta lembrança audaz, atroz, sangrenta...




Aonde houvera festa em noites claras... Sonho,
Apenas o fantasma enquanto decomponho
Anseios viscerais em versos sem sentido
E o pouco que me resta, ainda dilapido

Deixando-se antever um dia onde medonho
O passo se perdera e nisto o que proponho
Inválido momento e quanto mais urdido
Errático delírio, o corte resumido,

À bala ou num punhal, o tempo não permite,
Que com certeza eu diga o quanto em tal limite
Trouxera além do sangue exposto pela casa

O corpo lacerado, a vida não se embasa
No amor de quem traísse e mesmo assim viera
Trazendo num sorriso, a sarcástica fera.




Lara. Há quanto tempo. A vida não repete
O grande amor, portanto, aonde o vão reflete
Extasiada a mente em gozos e venturas
Depois de tanta dor, ainda em tais loucuras

O corpo apodrecido; envolvo e me compete
Falar desta fornalha imensa que complete
A solidão desta alma envolta em inseguras
Vontades mais venais enquanto me torturas.

E mesmo morta vens em noites turbulentas
Trazer o que pudera e sei nunca apascentas
Vestígios pela sala, a mancha no meu quarto,

E tenazmente traço enquanto mal comparto
Os últimos sinais daquela que se fez
O imenso e grande amor, enorme estupidez...





Há mais de um mês ou mesmo até quem sabe, um ano
A face desmedida e vaga deste plano
Sob as tábuas jogado o resto deste encanto,
E nisto o que inda possa e nisto eu me garanto

Traçar o desespero em ermo desengano
Do que restara enfim, do ser que fora humano
E agora em rude face expressa este quebranto
Quando medonhamente olhando em vão me espanto

Recebo por e-mail, a tétrica notícia
Que além de me envolver nas tramas da sevícia
Talvez me condenando ao que tanto busquei,

Deixando-me levar aos tribunais, à lei,
Cessando de uma vez o inverossímil caso
Tramando noutra face apenas meu ocaso.





Só resta muito pouco e nada mais faria,
Somente o que virá e sem hipocrisia
Entrego-me ao vazio e dele me propago
A morte talvez seja o derradeiro afago.

A imagem deste encanto, esta mulher esguia
O amor que tanto quis e enfim libertaria
Na pútrida expressão de um tempo rude e vago
No olhar já sem sentido o quanto agora trago

Dos erros de uma vida há tanto sem sentido,
E o corpo deste amor, agora apodrecido
Em tantas partes toma a casa por inteiro

O aroma nauseabundo, ainda onde me inteiro
Dos erros ou do acerto envolto em tais loucuras,
Deixando para sempre, as velhas amarguras.





Se um dia fui feliz? Bem sei do quanto o fui,
Porém tudo que um dia enorme ascende, rui,
E a queda se transforma em única lembrança
E quando a tempestade aos poucos nos alcança

Já nada do que tive agora toca e influi
Minha alma a cada instante em rota face pui,
E incrível que pareça, uma alma segue mansa
Condenação final; resiste em esperança

Deixando que termine esta agonia atroz
Amortalhado sono, a paz se vendo após
E o verme que caminha; envolto nos meus passos,

Depois de tanto engano, os sonhos são escassos
E apodrecendo ao fim, já nada reconheço
Somente o quanto vale a vida em adereço.





Restando quase um dia, ainda poderia
Fugir ou me esconder, porém uma alegria
Sem nexo e doentia adentra a minha mente
E o que virá redime o engano, plenamente,

O quanto me restasse em dor ou agonia,
Ou mesmo até no fim, numa imensa ironia
O passo que se desse e nisto se apresente
O fim somente em paz, de um ser tolo e doente

Tentando descansar, em alívio compondo
Ao quanto não restasse e nisto correspondo
Ao féretro de uma alma há muito apodrecida

Jogada pelos cais abandonando a vida
Encontrará enfim, a merecida paz
Que este verdugo, amor, já não fora capaz.






Chegada anunciada; há tanto que prevista
De quem me salvará, marcando enquanto avista
De Lara mero escombro ou restos pela casa
Ao redimir minha alma, acende fogo e brasa,

Não tendo mais martírio, o quanto aquém insista
O sangue como fosse a marca em clara pista.
Porém o que se quer e assim já se defasa
A cada instante mais, decerto ora se atrasa.

Minutos, horas. Tempo. E nada do que possa
Determinar enfim, a salvadora fossa
E nela este vazio, o desapego e o caos,

Olhando para trás, percebo tais degraus
E neles a emoção diversa e mesmo rude,
De quem a cada instante apenas desilude.

Cena 3 mesmo cenário, porém mais claro e o personagem deitado sobre o sofá.





A noite ultrapassada e ao fim nova manhã
A luta se refaz na face mais malsã
Do pálido cenário em brumas repetindo,
O quanto imaginasse, enfim silente e findo,

Porém a vida traz a sorte amarga e vã
E nada do que tento expressa a voz do clã
Deixada no passado em ato refletindo
O todo sem sentido e o tempo se abstraindo,

Talvez algum engano, ou mesmo um incidente
Espero mais um pouco? O quanto se apresente
Traduz desta maneira a sombra do que venha

E a liberdade da alma, enfim possa e contenha,
Sabendo de tal fato, aguardo um pouco mais?
Ou bebo sem cansaço, os rudes vendavais?






Já não mais comportando o quanto pude crer
Depois de tanto tempo envolto em desprazer,
Amigos; vejam bem o que esta vida trama
Deixando tão somente o duro e mero drama,

Os velhos temporais, a vida aonde o ser
Esbarra no vazio e teima em conceber
Trazendo em cada olhar além do lodo e lama,
Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,

Resulto deste ocaso em vida sem proveito,
E o que vier decerto ainda mesmo aceito
Sem ter qualquer acento em luz ou esperança

E a noite dentro da alma enquanto rude avança
Encontra sem resposta o que inda mais eu quis,
Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.






Sentando nos sofás da sórdida lembrança
O que inda me restasse, aos poucos já me cansa
E a luta não termina e segue o seu destino,
Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,

O olhar de quem se foi qual fosse fria lança
Tocando dentro da alma, expressa sem pujança
O que pudera ser em vida o cristalino
Cenário onde buscara um tempo onde o domino.

Agora que esta sorte esbarra no vazio,
Seguindo em turbulência, apenas desvario,
Não pude ou poderia; amigos, com certeza

Vencer o quanto é rude e dura a correnteza
E quando me desnudo em vórtices atrozes
Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.






Depois de quase ter a sorte que buscara
Nas ânsias tão sutis da rústica seara,
O vento me levando além do que eu pudera
Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera

Empreende este caminho e rege noutra escara
O peso sob o sonho enquanto se escancara
A luta sem proveito e o tempo que se espera
Marcando em cicatriz a face da quimera

Depois de tanta perda, a vida não consola
E o quanto ainda tenho aos poucos não decola
Semente se abortando em árido jardim

O quanto mesmo quis agora morre em mim,
Negando algum momento em plena liberdade
E o que inda me traria, o tempo ora degrade.





Já vejo que se finda o tempo de existência
E de tal fato mesmo embora com ciência
Diversidade molda o fim sem benefícios
Apenas entre queda o quanto em precipícios

Mostrara o dia a dia em torpe penitência
Minha alma se desnuda e gera em consciência
Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios
Trazendo sem proveito os tétricos ofícios

E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo
E perco da esperança algum suave ensejo.
Minha alma agora traz no olhar a fantasia

Que em cena reproduz o quanto mais queria,
Embora me distando aos poucos deste todo,
O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.






Não quero acreditar sequer no que passasse
Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse,
Apresentando agora a vida de quem fez
Caminho sem sentido ou mera insensatez,

Transito no infinito e nada se tentasse
Gestando o que se visse em velha e rota face,
E melindrosamente, ainda quando crês
Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,

Encontrarás o sonho, aos poucos repartido.
E quando a minha história enfim eu dilapido
Arcando com engano e sei quanto é comum

Viver sem esperança ou mesmo tendo algum
Momento em consonância, estreita noite vã
Matando desde agora o quanto quis manhã.




Tentando algum contato, algo que me explicasse
Vencendo com firmeza o que se fez impasse,
Depois de tanto sonho, aonde visse a paz,
Já nada me responde enquanto a vida traz

Retalhos deste fato e nele se moldasse
A solidão em vaga e rude, mera face
Trazendo o que se quer em forma mais tenaz
Cerzindo do vazio o fim que satisfaz,

Mas nada, nem resposta. E tento o telefone,
Já não suportaria a nova noite insone
Terminando esta peça, ao menos poderia

Viver tranquilamente o quanto inda teria;
Só restando esperar? O que possa fazer?
Ó Lara, não torture; eu fiz por merecer?


( impaciente)




Procuro nos jornais. Ligo a televisão.
E nada do que eu busco encontro. O tempo é vão…
Dois dias, ledo atraso, um delírio se assoma
E o quanto ainda resta? O pânico me toma.

A voz deste passado, a luta, a imprevisão,
E quanto poderia e quantos mostrarão
O que deveras sei; e o coração não doma
E como num torpor e como em vivo coma

A vida se perdendo em rumos discordantes
E nada do que possa ainda me garantes
Somente a dor cruel do condenado à morte

Que busca sem sentido algo que inda o conforte,
Uma semana e; nada. O telefone mudo
E a cada nova ausência, apenas desiludo...






Em desespero escuto os passos pelas ruas
Esta incerteza torna as sendas bem mais nuas
As luas já se vão, e os sóis se arremessando
Num ermo aonde o sonho explode mais nefando,

Angustiadamente as noites seguem cruas
Semana após semana, agora já são duas,
E o cômodo caminho aos poucos se afastando,
Embora no verão, eu sinto-me nevando

Procuro uma resposta e nada se apresenta
Somente este silêncio, a sorte mais sangrenta,
O telefone toca. Engano e novamente

Um ermo se anuncia enquanto não se sente
Sequer o que acalente ou mesmo me condene,
E nesta paz atroz o quanto me envenene...


Cena 4 – ansiosamente sentado no sofá, a face totalmente transfigurada com os cabelos em desalinho.





Um mês e nada além do caos dentro do peito,
Tentando descansar, inutilmente deito,
O pesadelo ronda e toma cada instante
Enquanto febrilmente a morte se agigante.

E Lara? E seu contato? A vida sem direito,
Mudando a direção encharcando o meu leito
A voz do vento ronda e torna mais cortante
A ausência de futuro o nada doravante...

Tortura deste impune, um verme sem saída,
Deixado sempre ao léu, na opaca e rude vida
Mergulho na loucura e bebo cada gota,

Minha alma se perdendo, aos poucos bem mais rota
Silenciosamente, o tempo se prepara
Tomando sem defesa a imensidão de Lara.





Um único detalhe; ainda não desvendo,
O que se fez audaz, agora em vão remendo
Expressa a face escusa e torpe de um canalha
Enquanto a ventania, além o sonho espalha,

E quanto mais no nada eu sinto me envolvendo
O rústico fantasma aos poucos me bebendo
No fio mais agudo e tosco da navalha
A própria resistência expressa esta batalha.

Um peso sobre mim e o todo se anuncia
Qual fosse do destino, apenas ironia,
E a morte que redima, agora já não veio,

O olhar se perde ao longe em louco devaneio
As garras adentrando o que inda resta em mim,
Preparam num sorriso estúpido meu fim.



( som de telefone chamando )




E quando desistira após tanto não ser
Escuto o telefone, e quando ao atender
Na madrugada fria imerso em nuvem tanta
A sorte se anuncia e assim chega e quebranta

Matando uma esperança e nisto posso ver
O mundo que buscara, enfim se esvaecer.
De Lara reconheço a voz que não espanta
Apenas me tortura, e quando se levanta

Numa expressão feroz, e irônica detalha
A morte de quem tanto um dia sem ter falha
Viria redimir, o coração atroz,

Cessando em acidente, a derradeira voz.
E a paz que procurava aos poucos se esvaia
Deixando como rastro, apenas a agonia.








Procuro alguma chance e encontro o derradeiro
Alento nesta bala em tiro que certeiro
(puxa um revólver e mirando a cabeça, dispara um tiro)
Trazendo em suicídio a paz que procurei
Fazendo em minhas mãos, a dura e régia lei.

Um único momento, e o prazo onde me inteiro
Sem farsa e sem disfarce, enfim um verdadeiro
Caminho que me leve ao quanto eu esperei
Trazendo finalmente esta esperada grei,

E nela o que se veja em paz ou mesmo inferno,
Melhor do que o vazio aonde ora me interno
E extremamente sinto o fim se aproximando,

No prazo decorrido, o tempo desde quando
Momento crucial, e redentor viria
Tramando além do vão um tempo em alegria...




Cena 5 deitado num leito de hospital, não fala nada, mas se escuta claramente a sua voz.


Maldita seja a vida. A bala em direção
Diversa da que eu quis, leda transformação
Não me trazendo além do quanto desconforte
Negando sem proveito o que buscara: a morte.

Jogado neste quarto, ausente solução
Apenas percebendo a tétrica ilusão
E apenas se vislumbra o imenso e frio corte
Traqueostomia traz da vida o frio aporte,

E Lara gargalhando, em volta deste leito,
Imagem sem sentido; espúria, onde refeito
Não sinto agora nada, e não me movimento,

Somente vejo além o corvo que crocita
E bebe cada gota em dor quase infinita
E enquanto ora eu definho, enfim eu me atormento.




Vingança? Não sei bem. Apenas a mereço
E sei do que pudesse em tétrico adereço
Tentando o fim do jogo e nada conseguindo,
A vida se desenha enquanto me esvaindo

Aos poucos tento a sorte e nada mais esqueço
Somente o tempo passa, e sei de out
 
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MARCOSLOURES
 
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