Não; ainda não é hora de partir,
pois guardo intacto o sonho
dentro de mim; e o mais que venha,
será um caminho sempre a sorrir,
em tudo que na ventura ponho,
e a imaginação me mostre que tenha.
A razão não indagarei, serei livre,
para ir na ilusão das ilusões,
como quem olha ao espelho e vê
um velho sonho, que não o prive,
de pelo gesto atingir sensações,
sem nem saber sequer o porquê.
Ao pensamento, imporei norma,
dele não farei que seja meu senhor,
como quando estou obstinado,
e o próprio a mim me suborna,
convicto de que nada tem sabor,
sem o dito, predito, encimado.
De sentimentos (não sentimental),
me porei ao dispor, por instantes –
que eu não me posso fingir assim –,
e serei então o mais natural
(como sempre fui), em equidistantes
linhas paralelas, que dirão de mim e de ti.
O amor há-de falar, sua moderação,
não o algoz nem o vil preconceito,
que traz distância aziaga às pessoas,
será escorreito e no peito o coração,
baterá todo um novo conceito –
a momentos estarei lá, cantando Loas.
Agora sim; é hora de eu enfim partir,
comigo o sonho sonhado que sonhei,
estando bem desperto para a vida,
retomando a Razão, que há-de advir,
o pensamento, que sempre acalentei,
os sentimentos, de uma vida vivida.
Jorge Humberto
03/03/11