Caminhos solitários debaixo de um sol
vagamente disperso no azul do céu,
mostram-me uma cidade vazia de gente
no silêncio inquietante do cimento
corrompido pelos veículos de lata
largados ao acaso no alcatrão das estradas
sulcadas por velhos movimentos
que assim deixaram sua marca para
futuras flores de aço e seus jardins
com cheiros a óleo queimado de pneus
amontoados, numa Usina ali por perto.
Crianças, de máscara no rosto, por causa
da poluição, brincam nas lixeiras mais
próximas, onde o metal é descarregado
e amontoado para novas levas de carros
e electrodomésticos último modelo,
processada a reciclagem por máquinas
infernais e gigantescas, que proliferam
num baldio sujo onde a terra é preta e o
céu carregado de nuvens de chuva, que
tem a sua precipitação quase a todo o
instante, fruto dos ácidos largados para o
ar conjuntamente com os dissolventes e
os compostos de tintas e vernizes nocivos.
Tocos petrificados de árvores é tudo o
que lembra estas espécies neste nosso
Mundo; jardins já não existem, foram
evadidos pelo alcatrão vegetal, dando lugar
a novos parques de estacionamento, onde
imperam as bicicletas (não por ser mais
saudável se locomover numa, mas porque
o dinheiro não sobra para carros), e as
cidades são portuários de altas chaminés.
Raro é o sol nas cidades, quase sempre
invadidas por um nevoeiro espesso, que
tudo esconde e faz-nos andar maltrapilhos
e de cara suja. Ruidoso é o som das
máquinas, que tudo devoram e não há um
único pássaro no céu, esvoaçando livre
no seu bater de asas, que o levava de campo
em campo e fazia sorrir as pessoas que por
eles passavam e os viam em rodopios.
Nascem bebés proveta, deformados e
cancerígenos, eis o fim do nosso Mundo.
Jorge Humberto
01/03/11