Sou a sombra do amor,
é em mim que ele se
projecta
quando se despoleta o ardor,
quente,
perto do que és continuo sombra,
a face sombria e húmida
do completo radiante que és
Sou a marca dos lábios
que fica,
efémera e esquecida,
perdida e insignificante
em partes do teu corpo,
ombros, peito, pescoço
e desapareço, ténue prova
do contacto.
Sou o que perdura
no que permanece do pormenor,
Sou a roupa pelo
chão,
sou as gotas que se espalham
pelo teu rosto
Sou o pó esquecido
entre batôns e rímel
de uso renovado,
a única semelhança
das nossas diferenças
Sou a "huella" fossilizada
no teu esquecimento
e a mágoa que queima
a tua memória
Sou quem suspende o tempo,
no momento,
em que o tépido respirar
da tua boca
viola o frio lóbulo
da sua orelha,
aquecida nas chamas
do fogo
que eu ateei.
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