Já não sei se realmente estou no ano 2000
Se os revolucionários ainda insistem em tomar banho de sangue
Ou se os meus patrões ainda brincam de guerra de ketchup
Tudo que eu penso ou calo pertence a mim
Mas até as minhas barbas vocês querem de molho inglês
E não é preciso ter mais de 3 olhos para ver
Não é preciso ao menos saber enxergar
Pois o tiro quando ecoa é porque não te atingiu
A pele quando arde é que foi queimada por alguma pele de gelo
Ainda crucificamos cristos e pessoas
Ainda respiramos e transamos com todo tipo de veneno
E eu me pergunto quanta carne humana ainda vou comer
O meu livro da vida continuo deixando escreverem em folhas de jornal
Escritas sempre por alguém que sabe mais do que eu
E por isso mesmo mente mais do que meus pais
Acerca da vida, das cercas, cercanias e sacanagens
Ainda acredito que Dom John vai voltar para nos resgatar para uma nova jaula
Acredito que de tantos beats nosso coração vai finalmente cansar
De tanto preciosismo ficaremos todos miseráveis
E no fim de tudo restará apenas pão e pedra
Comeremos pedra, mataremos com o pão
E os poetas vão se engajar em só rimar maçã com Apple
Enquanto isso na lua ainda há silêncio
No meu peito ainda escorre sangue, amor e outros déficits
Ainda solto as minhas borboletas para que me cortem com o seu cerol
Do texto eu não guardo mágoa alguma
Não, do texto eu não guardo nem remorso
Mas não o verei jamais como um amigo em quem confiar
Eu nunca entendi o que as pessoas dizem ser felicidade
Para mim sempre foi jogar as horas fora
E plantar rios de lágrimas e sorrisos até na hora do comercial
E nunca vai adiantar nada tatuar a paz na epiderme da bomba H
Não sei como o meu eu lírico sobreviveu a tantas novelas
Deve ser porque ainda consigo respirar
Deve ser porque ainda tenho tristeza
Porque ainda escrevo o que eu quero
Fora das regras, fora de hora, fora das minhas fronteiras
Não preciso de paz, não preciso de mim
Felicidade sempre será sinônimo de lágrimas