[left]Percebi, desde o primeiro momento, a distância dos nossos corpos, a intransponível fronteira que nos arremetia ao insucesso. Não, não me culpes. Tentei, muitas vezes, diria demasiadas se te quisesse mentir mas nada é demais para te alcançar - fugitiva da esperança que me cobre o desalento - é verdade. Não te culpo. Como poderia? Lutámos com espadas e escudos, à maneira antiga ou romântica como dizem os antigos (e românticos), mas combatíamos a ignorância. O desconhecimento, a mais pequena ideia da dor. Sim, a dor, a mesma que me lançou em águas tempestuosas, a mesma que me fez encontrar em ti os remos que me salvaram desse mar exasperado por ventos de outro mundo. Tu que ofuscas a luz do que sonho e prendes a vontade do meu sono e me manténs desperto, liberta-me, peço-te: solta-me estes nós que me ferem a alma. Mas não te culpo. Como poderia? Continuamos a luta, sim. Até que a espada não seja mais que um punhal e o escudo mero adorno de batalha, mas lutamos. Acorro ao teu chamamento e perco-me no labirinto que desenhas, pincel inalcançável que me descobre o destino: lutar, eternamente, num combate que nunca irei vencer.