Poemas : 

Noite de Sonhos Inquietantes

 
Após uma noite de sonhos inquietantes
Ele ficou na cama e não foi trabalhar.
Havia anos que não faltava ao serviço.
Um leve sorriso brotou naqueles lábios.

Pelas dez da manhã resolveu se levantar.
Não se penteou nem escovou os dentes.
Fitou a esposa adormecida num relapso.
Calçou chinelas, vestiu camiseta e saiu.

Lá fora o céu era de um cinza chuvoso.
Ainda se via vestígios da madrugada
No orvalho que se exibia no relvado.
Carros passavam anônimos e frios.

Não fumava. Comprou cigarros e fumou.
Tossiu. Não sabia tragar. Aos poucos, tragou.
Não bebia. Comprou garrafa de cachaça e bebeu.
Se entorpeceu e, milagrosamente, sorriu.

Sentou-se num banco de praça e sorriu mais.
Sorria como nunca sorrira antes; de forma pura
E transparente, ingênua e quase infantil.
Nas ruas o incessante fluxo dos carros anônimos.

Matou um gato que passava e retirou o couro.
Queria fazer batucada e precisava de tamborim.
Flertou com prostitutas em becos estreitos e estranhos.
Conheceu todos vadios e pelintras da periferia.

Se fez tarde naquela vida azeda e vazia.
Mas após o entardecer a noite fria vem.
Fitou, como nunca ousara, a noite estrelada.
Bebeu mais um gole de cachaça e morreu.


Gyl Ferrys

 
Autor
Gyl
Autor
 
Texto
Data
Leituras
931
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
4 pontos
4
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/02/2011 23:54  Atualizado: 23/02/2011 23:54
 Re: Noite de Sonhos Inquietantes
Amigo Gyl, aqueles que gostam de gatos vao torcer o nariz..rs. Gostei deveras do poema, sempre nos trazes algo novo! Os meus parabens e abraco!


Enviado por Tópico
GeMuniz
Publicado: 24/02/2011 00:01  Atualizado: 24/02/2011 00:01
Membro de honra
Usuário desde: 10/08/2010
Localidade: Brasil
Mensagens: 7283
 Re: Noite de Sonhos Inquietantes
Um senhora história e bem inquietante mesmo. Pô, quando eu acho que o cara tá gostando da boêmia e vai se dar bem e coisa e tal, você apaga o cara? rs Final inusitado mesmo. Gostei, camarada.

Um abraço, Gyl