O Rapto de Marina
by Betha Mendonça
Marina tinha oito anos de idade, cursava a segunda série do Ensino Fundamental. Ia e voltava caminhando sozinha para as aulas. Além de morar há uma quadra da escola, sua mamãe precisava cuidar de seus irmãozinhos menores.
Ao voltar da escola no final de uma manhã de sol laranja-emburrado-de-calor, a garota foi abordada por uma senhora idosa. Simpática, cabelos de algodão, vestida de roxo-luto. Pediu que a ajudasse a salvar seu gato angorá de olhos azul-piscina-sem-água que estava preso num oitizeiro verde-musgo-escuro. Uma distração - antes de desmaiar - a menina viu-se dentro de um carro vermelho-choque-elétrico com a senhora e mais dois homens mal encarados.
Ao retornar a si estava trancada num cubículo de madeira marron-chocolate-amargo. Ouvia vozes no cômodo ao lado:
- A senhora pegou a menina errada!A família dela é pobre e não vai ter dinheiro para o resgate – dizia uma voz masculina.
- Não faz mal!De noite a gente solta a pestinha numa rua perto de sua casa e ficamos livres do problema, falava a mulher que tinha aparência simpática.
- Não!A polícia está de olho procurando... Se pegarem à gente, vamos todos presos... Retrucou o outro homem.
De repente a porta do cubículo abriu um dos homens com máscara de palhaço de circo colocou uma bandeja com pão dormido e uma garrafinha de água mineral no chão. Gritou: - Coma!E trancou a porta de novo.
Pensamentos negros-orelhas-do-Mickey passavam na cabecinha da menina, enquanto ela lembrava dos conselhos que ouvira dos pais desde bem pequena: que não falasse nem aceitasse nada de pessoas estranhas! Elas podiam ser mais malvadas que a madrasta da Branca de Neve... Como ela foi boba de seguir aquela estranha?!
A seguir silêncio total. Calaram-se as vozes no casebre. Para testar se havia algum de seus raptores ali, Marina começou a gritar bem alto por socorro... Nada... Ninguém... Tudo silencioso!Foi à deixa para que ela olhasse entre as frestas da madeira e descobrisse que tudo ao redor era uma clareira em meio a denso matagal. Abriu sua mochila de ursinho creme-de-leite-queimado, tirou uma régua forte de alumínio e começou a fazer força em alavanca nas aberturas entre as tábuas do cubículo marron-chocolate-amargo até uma delas se quebrar. Pelo espaço aberto saiu com sua mochila e não parou de correr até chegar numa estrada, onde foi socorrida por uma viatura de polícia sorvete-de-creme-com-açaí com luzes de morango no capô.
Após mostrar aos policiais a cabana que ficou prisioneira, a corajosa menina voltou para casa. Os bandidos foram parar na cadeia. Vestidos de uniformes preto-branco-zebras permaneceram presos por muito tempo.
*Mickey – menção ao Mickey Mouse, ratinho esperto criado por Walt Disney.
*Madrasta da Branca de Neve – menção a personagem maléfica do Conto Branca de Neve dos Irmãos Grimm.
(rebublicação)