Poemas : 

oito divagações para regressar devagar

 
de mortis transire ad vitam
da morte à vida
(quarto)

tínhamos saquinhos de cidreira
água fervente e tu encostada ao limiar daquela porta alta
para que o regresso abrisse
o tempo entreaberto.
pó sem gravidade no teu olhar e eu sempre filha
porque assim sempre me parecia
pelos biscoitos de manteiga desenhados.
bebíamos chá às quatro da manhã
sem sabermos o grau das folhas, que incógnitas continham

(ninguém se pode deitar na própria sombra)

e eu sabia.te atrás de mim, à esquerda, à direita, à minha frente
treinando.me a sabedoria
porque assim me fazias e falavas.

quantas vezes te vi
e sempre me surpreendi porque me olhavas assim
à espera, atravessada de nervos e ternura.

foste,e eu ainda vejo o pó sem gravidade no teu olhar e eu sempre filha
porque assim sempre me parecia
sei.te atrás de mim, à esquerda, à direita, à minha frente
treinando.me a sabedoria.

a que sabia o chá que bebemos?


e voltas sempre
em busca de outro chá mais perfeito



" An ye harm none, do what ye will "

 
Autor
HorrorisCausa
 
Texto
Data
Leituras
947
Favoritos
2
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
24 pontos
8
0
2
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/02/2011 09:28  Atualizado: 23/02/2011 09:28
 Re: oito divagações para regressar devagar
Sendo a "divagação" uma das palavras belas e outra "devagar" mais bela ainda, fiquei curioso.
Depois li e fiquei apanhado pela beleza narrativa com laivos de poesia.

Estou a ler os textos todos e gostei imenso, tem sempre aquela agonia (outra palavra) dos dias.

Uma abraço ou beijoquinho, o que for que seja agradável para ti, poeta.

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 23/02/2011 11:00  Atualizado: 23/02/2011 11:00
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: oito divagações para regressar devagar
Teriam os saquinhos de cidreira provado a água que fervia?
Uma nostalgia forte, uma saudade à portuguesa, como sempre uma beleza...

Beijo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/02/2011 11:18  Atualizado: 23/02/2011 11:18
 Re: oito divagações para regressar devagar
QUE MARAVILHA DEIXO MEU ABRAÇO, UM BELÚSSMO POEMA.

MARTISNS

Enviado por Tópico
CarlosTorres306
Publicado: 23/02/2011 11:21  Atualizado: 23/02/2011 11:21
Super Participativo
Usuário desde: 11/01/2011
Localidade: Brasil
Mensagens: 109
 Re: oito divagações para regressar devagar
Gostei meus parabens

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/02/2011 00:46  Atualizado: 24/02/2011 00:46
 Re: oito divagações para regressar devagar
Um poema que atrai à primeira, mas que ganha com novas leituras.
O que encanta mais? O mistério da filiação? Ou o pressentirmos em nós algo que existiu e existirá? Ou os versos de uma limpidez helénica: "ninguém se pode deitar na própria sombra"

Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 24/02/2011 20:37  Atualizado: 24/02/2011 20:37
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: oito divagações para regressar devagar
ler-te é como sentir a vida renascer-nos na ponta dos dedos.

beijo

escreve sempre

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 27/02/2011 00:40  Atualizado: 27/02/2011 00:40
Colaborador
Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: oito divagações para regressar devagar
Leio com alegria e orgulho os fios encantados dessas tuas divagações, e aplaudindo daqui.
Sempre um espetáculo.

Beijos.

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 27/02/2011 14:13  Atualizado: 27/02/2011 14:13
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: oito divagações para regressar devagar/ Todos
" a realidade é a nossa própria imagem do mundo;
aparece em todos os espelhos, um fantasma que existe apenas para nós próprios, que aparece, gesticula e desaparece connosco."
Jorge Luís Borges

Grata

beijo