Sei de uma canção
Que não canta o sentir
Um texto sem presunção
Límpido de contrastes
Sei desses versos
Escritos pelo pensamento
Num retido debruçar
Onde se alimenta a esperança
Sei da voz que a cantou
Sem o alimento fugaz
De um público ausente
E de avidez inexistente
Sei da melodia que a aborda
Numa sintonia amorfa
Irrelevante na sonoridade
Sem qualquer contexto corrido
Sei que tudo aqui vigora
Neste planeta da concordância
Em que uns tudo têm e nada dão
E outros tudo dão e nada tiveram
Sei que há-de chegar o momento
De se escrever uma nova canção
Mais precisa e concisa
E que sem sofreguidão
Tenha a tez mais realística
E a melodia que a adorne
Seja o exultar do lamento
Como grito contra a situação
Aqui
Uns cantam e outros não
Sempre assim foi
Embora noutra posição
António MR Martins
2011.02.22
António MR Martins
Tem 12 livros editados. O último título "Juízos na noite", colecção Entre Versos, coordenada por Maria Antonieta Oliveira, In-Finita, 2019.
Membro do GPA-Grupo Poético de Aveiro
Sócio n.º 1227 da APE - Associação Portugues...