Amor e ódio tantas vezes se confundem,
E os queremos fazer simplesmente opostos,
Como conchas da balança que marca os extremos.
Impensada bobagem de quem se esconde,
Na transparência da cortina dos sentimentos,
Querendo maquiar o amor vivo e renitente,
Insistindo em afogar os desejos e a saudade.
Amor não se transforma, nunca, jamais,
Não se fará nem mesmo cinzas no tempo,
Nem os ventos vindos dos sopros das mágoas,
Não o sujeitarão à metamorfose pretendida.
Esse sentimento latente, âmago do querer,
Não tem oposto que não seja a ausência,
Que só a lucidez vagarosa do tempo compõe,
De letras em letras no ardume da desistência.
Amor e ódio não se situam em opostos,
O sinônimo do desamor talvez seja a apatia,
A perseverança castrada com mordaças,
Transformada na inércia da indiferença.