Se as minhas lágrimas escondidas
Se pudessem-se soltar
Desta longa agonia
Se pudessem vir já
Toda a gente saberia
Que só verdade
Escondo apatia
E sofro com o olhar
Cantemos, benditos
Chore-mos, irmãos
Não chorem por mim
Por quem já sofreu
E vive com o não
Escrevendo, liberto-me
Do meu triste eu
Mas agora erro
Pior não espero
Espero mal por mim
Se esses olhos maldosos
Não caluniassem
Se esses deuses desgostosos
Da má sorte me livrassem
Saberiam enfim
Se eu sofro a fingir
Se algum dia dos males
Me poderei despir
Adeus, quem me ouve
Olá doce morte
Tentei, mas enfim
Deus não foi por mim
Mudar-me a sorte
Sofrendo desgraça
A morte, enfim
Se desse-me sorte
Doce e querida morte
Feliz eu de mim
Desgosto maldito
De ser sempre eu
Calunia, desgraça
Por mais que faça
Serei sempre eu!
Pedro Carregal