CÉUS, A MIM
Lentamente o avião começa a andar.
As rodas giram,
Eu não as vejo e não as sinto,
Mas elas estão lá.
A velocidade aumenta
E imagens correm lá fora
Sombras, correntes de cores.
Um sentimento estranho, bizarro, apelativo instala-se.
Sinto o meu corpo a crepitar.
E as sombras ficam para trás.
E o chão perde-se lá em baixo.
Está ainda de noite
E as luzes, tão nítidas.
Padrões variados comprovam o chão:
Ele está lá
Onde luzes estão.
E o ruído!
Ele esteve sempre lá
Jogando com a velocidade.
Luzes anónimas, perdidas,
Deveras, elas não precisam de nome para o que fazem,
Um infinito mapa de estrelas.
Parecem ter-se cansado do aborrecido vazio do céu.
Montanhas, estádios, pontes.
Subimos
Nuvens chegam,
Para ficar.
Nuvens densas primeiro,
Farrapos e nevoeiro e laranjas.
O ruído aumenta.
O borbulhar de algo sólido,
Como se desejasse a liberdade do liquido.
O ruído ouve-se, sinto-o.
Mais laranjas,
Luz matinal, reveladora.
O doce orvalho dos céus,
Trás tormento aos meus olhos cansados,
Noctívagos.
Asas sempre paradas, lá fora.
O mundo perde-se.
Só há luz e as cores do céu.
E as asas, claro,
Ainda lá estão.
A luz veio para ficar:
Será uma longa viagem.
<br />i
Pedro Sattler