A Lua bordando o poente em prata
Cor dos sonhos que sonho em vão
Desperta os pardais, desperta a mata
Pós noites frias de cálido verão
Sua ausência derrama-se em cascata
Num vale incerto nominado solidão
E nesse coração que não é de lata
Dilata a mesma voz sem compaixão:
Saudade... Saudade... Saudade...
Persistente não cala, não fala, só mata
No regaço vazio, prístina verdade,
Voz do passado que ao presente arrebata
Nem mais identificar-te posso,
Como ao rumor de finda calmaria
Troa longínquo tudo o que foi nosso
Apagam-se me os sorrisos da fronte fria.
Descubro-me nada, alma vazia
Ausência do que tenho e do que falta
Identidade lá se vai mais que tardia
Procuro-te, oculta estrela, em noite alta.
Declina o sol e não te vais, te avivas;
Aviva-te banhada de lua, bela e nua
Nas lembranças que te são cativas
Herdade da poesia sempre sua