Querida,
A tristeza de estar sem ti me acompanha a cada passo neste humilde quarto em que estou hospedado. Tens aqui somente uma luz, para iluminar a noite solitária que passo mergulhado na saudade. Coloco a mão na cabeça, as lágrimas escorrem dos olhos e pingam sobre meus escritos, todos dedicados a você. Meus únicos amigos são os papéis, o lápis e os poemas. Quando me deito na cama, meus olhos fixam-se no teto e o vazio a me assombrar leva-me ao devaneio. Sonho contigo todas as noites quando estou a dormir e também todos os dias enquanto acordado. Nunca paro e nunca pararei de pensar em ti. Falo-te também aqui da rua enfrente a este humilde local em que estou. É movimentada aos dias, o barulho ensurdecedor dos carros e o caminhar das pessoas que têm pressa. É quieto à noite, alguns ladrares dos cães e nada mais, uma quietude tão envolvente e proveitosa, deixa-me absorto em ti. E é nestes momentos que vêm as lembranças e os fantasmas a me assombrar. Pensar no passado, no presente e no futuro. Vou dormir tarde da noite, sem conseqüência de pensar no tempo, ele não me importa. As horas passam, os minutos correm e os segundos voam.
Hoje, o tempo não está muito bom. A chuva fraca cai lá fora derramando nostalgia e tristeza sobre minha alma. Por uma única janela o vento entra para me afagar, trazendo junto de ti a brisa fria e aconchegante. Ás vezes debruço-me nesta janela a pensar, nas dores, no sofrer, no passado, no amor, na felicidade, no futuro. Em algumas noites a lua aparece com teu brilho prateado, banhando-me em um mar de inspirações. As estrelas acompanhando, com o brilho do amor. Ao nascer do sol teus raios fogem por entre as frestas da janela fechada e abraçam o meu corpo, trazendo o calor da manhã e acabando com o frio de uma longa madrugada. E no abrir desta velha janela vejo um lindo dia nascer e a cidade despertar.
Neste momento estou sentado na minha cadeira, com um lápis na mão, escrevendo-te. É noite, uma hora da manhã, e eu estou acordado. A chuva lá fora, a lua lá no céu, o vento frio repousando sobre mim e eu aqui lhe contando, a vida de um poeta em um quarto.
Adeus querida.
De alguém que muito te ama.
Acho que estou apaixonada pela minha tristeza....