Consideremos a seguinte observação:
informação -> conhecimento -> sabedoria -> cultura -> espírito
A informação são os grãos colhidos pouco a pouco pela curiosidade, mas para que a informação ganhe vida e propósito, ela precisa se superar através da interação. Quando as informações interagem, elas formam conglomerados inteligentes estruturais, as redes do conhecimento. Mas o conhecimento também precisa se superar através da interação, pois somente em relação direta e transformadora com outros conhecimentos ele pode se tornar sabedoria.
A sabedoria é a capacidade dos conhecimentos de interagirem com a realidade, assim tornando o aprendizado introspectivo, em verdadeira prática de vivência no mundo. Eventualmente diversas sabedorias esparsas se reunirão, atraídas pelas densas gravidades umas das outras. Em seus choques, embates e matrimônios, as sabedorias serão vagarosamente destiladas pela ditadura eterna da natureza, até que as mais vigorosas e empáticas enfim se aglutinarão sob uma mesma égide, uma mesma tábua de valores e conceitos mais ou menos fixos ou dinâmicos, que chamarão sua cultura.
A cultura se caracteriza portanto como um método de harmonização interna entre múltiplas sabedorias, sabedorias que por sua vez eram um método de harmonização interna entre múltiplos conhecimentos, conhecimentos que por sua vez eram um método de harmonização interna entre múltiplas informações. Mas e quando as culturas se encontram?
Bem, quando as culturas se encontram, ou melhor, quando seus mundos colidem, teremos resultados tão variados que os chamaremos sumariamente de guerras, de esperanças, de ciências e de divindades. Quando as culturas se encontram fica claro que, apesar de o ser humano ser verdadeiramente, absolutamente incapaz de compreender a totalidade do objetivo maior para o qual serve no universo, ainda assim ele é plenamente capaz de compreender a parte que lhe cabe nesta plano supremo, a minúscula mas imensa fatia de responsabilidade e beleza que lhe pertende dentro deste mesmo propósito. O fenômeno da cultura confirma que a compreensão não é um requisito para a cooperação.
Enfim, quando as culturas se harmonizam, produz-se com efeito aquilo que em tempos mais polidos e perseverantes se chamava espírito. O espírito considerado como a habilidade da inteligência magnânima de reconhecer-se e estudar-se a si mesma e aos próximos, espírito como a capacidade transcendental da transmutação, herdada através da reciclagem infinita de todas as gerações da existência, herança descontada constantemente no agora imponderável.
Como se pode presumir, a interação dos espíritos finalmente daria luz a ainda um outro mecanismo, que seria por sua vez um método de harmonização interna entre os vários espíritos viventes. Como poderíamos chamar a isto?
Aqui, o xamãnismo pode nos ajudar. No xamãnismo, a evolução do desenvolvimento de cada pessoa é entendida como pautada por ciclos de sete anos. Em paralelo ao esquema da observação original, podemos dizer que:
terra -> ar-> fogo -> água -> estrela
A terra é a fase da primeira infância, a criança cria suas primeiras memórias, fixa suas primeiras raízes emocionais e intelectuais sobre a face do mundo. No ciclo da terra aprendemos a nos relacionar com o fato de que estamos vivos, de que nascemos e dependemos de outras pessoas e de que todos estamos sobre uma mesma casca de ovo maravilhosa e misteriosa cunhada planeta. Na segunda fase, o ciclo prévio à adolescência, o ar é a grande novidade, o ar como elemento que representa a expressividade, a força do raciocínio e do senso de virtude e verdade, o ar como totem da energia vital, integrando assim a comunicação e a interação como recursos necessários para o surgimento das revoluções positivas.
O fogo, como terceiro ciclo, explica a puberdade e o nascimento do ente sexual, da entidade reprodutora humana mais ou menos leal ou ignorante. O fogo é o desejo essencial do instinto, é a fome e a sede que precisam ser saciadas, a malícia que precisa conquistar e gozar da conquista. O fogo, claro, pode queimar, e brincar com ele pode causar descontroles mictórios cedo ou tarde na bonança ou na aposentadoria. Finalmente a água toma sua vez, e encerrando o ciclo dos quatro elementos, acalma e refresca a fogueira, o vulcão que até então queimava. A rebeldia se torna vontade de trabalho, a imprudência se torna uma busca por gratidão, uma saga pela criação de algo inédito que possa quem sabe, no mais brilhante dos sonhos, ser uma recompensa à própria vida por nos ter criado.
Enfim, maduro, o indivíduo alcança o estágio de estrela, que é a fusão de todos os níveis num mesmo. Neste ponto ele sabe que a vida é vivida sobre a terra, que o ar é a energia e a linguagem, que o fogo cura e aquece o âmago das paixões e das entranhas, e que a água é a grande mãe, que esclarece a estratégia vitoriosa simplesmente contornando seus obstáculos. Então se está preparado para o vôo longínquo, para o destino único da personalidade dedicada, para a postura, os gestos, e os pensamentos do sol de si mesmo.
Claro que depois disto, nos perguntaremos, e quando as estrelas entram em interação, em evolução? Bem, esta seria exatamente a mesma questão do que acontece quando os espíritos se fundem para criar um único objetivo sublime, mas usando-se de outras palavras, por meio de diferentes cosmologias. Resta-nos o enigma: o que seria a supernova dos espíritos?
Em suma, podemos certamente afirmar correta, em todos os âmbitos cósmicos, a seguinte equação:
inteligência + amor = evolução