era um dia parado que vinha do oriente
irmãos, avós e parentes esperavam ávidos
que o seu Zé Correntes
trouxesse a caixa de mascate
cheia de badulaques dispensáveis
as mulheres com seus panos de prato
enfeitando o lado dos ombros
falavam em fazer café com bolo
o sol vazava as árvores do pomar
esquentando um pedaço do nosso braço
que a gente deixava queimar
os cachorros sempre nos acompanhavam
sem latir, sem lamber, deitavam e olhavam,
entortando o focinho, o que a criançada aprontava
as meninas na grama brincavam de bater corda
e batiam palminha para quem pulava
riam e riam quando uma tropicava um pé
as duas tias solteiras eram mais quietas
tinham um olhar errante
como se esperassem que a porteira abrisse
para entrar o tal do príncipe de cavalo branco
os maridos conversavam alto na varanda
fumavam e entre uma gargalhada e outra
baforavam fumaça uns nas caras dos outros
esse dia parado vindo do oriente
ainda me deita muito devagar
em sombras fantasmagóricas aos meus pés
Fungos Astrais