Uma guitarra. Sou eu.
Tocam em mim notas várias
Em cordas imaginárias,
Nas quais Sua mão desceu.
Penso no tudo ou no nada,
Tentando dar o melhor,
Retirando o pior.
Numa procura calada
Por algo, algo que me faça
Rir, chorar, rir, amar,
Para uma só vez tocar
O Si que sempre se atrasa,
O Sol que sempre se esconde.
Quero ir sem te abandonar
Ir, mas no entanto ficar.
Mas para onde irei eu? Onde?
Que irei tocar quando entrar?
Belo fado lusitano,
Um clássico puritano,
Ou música popular?
É a minha ainda curta vida
Duvidosa e dolorosa
É como a dela e da vossa,
Vossa guitarra querida.
Vida incessante, abismal,
Eternamente momentânea,
Superficial, subterrânea.
Não distingue o bem do mal.
Toca Ele o acorde da vida,
Duas ou três notas mais,
Cria seres vivos mortais.
Mortos na derradeira ida.
Eu já não sinto as amarras.
Já não tenho preconceitos
Ou julgamentos pré-feitos,
Apenas oiço as guitarras.
Não me tirem o que é meu
Recusem a cobardia,
Detestem hipocrisia,
Uma guitarra. Sou eu.