Sta Teresa no verão é cheia de turistas, visitantes do Brasil e muitos, muitos estrangeiros... É também o local de maior número de artistas plásticos, com muitos ateliês. Tem os bondes, que aliás, só se encontram ali e se tornaram o cartão postal do bairro carioca.
_ Muitos barzinhos na beira da calçada, Jane. Vamos escolher um, e sentar para tomar uma cervejinha?
_ Sim, está muito calor, mas prefiro pedir uma cerveja escura. Questão de gosto...
_ Ok, eu vou de loirinha gelada mesmo.
Chamou o garçom e pediram as cervejas com uma porção generosa de batatas fritas.
Entre uma e outra conversa, Jane foi pedindo mais cervejas para a amiga, mal ela acabava, o copo estava estranhamente cheio de novo...
Assim em meia hora, Lorraine já estava bem tonta, e "no ponto", pensava Jane.
Não demorou muito ela já respondia a qualquer pergunta que Jane fazia.
E com o calor intenso e as revelações do passado de Lorraine, Jane até se sentiu mal.
Em um momento ela falou de Rubens. Jane ficou atenta. Perguntou:
_ Esse Rubens, é seu amante?
_ Só amante não, é meu cúmplice!
_ Como é, cúmplice, de quê?
_ De uma trama, ora!
_ Mas e qual foi essa trama?
_ Mandei ele matar Adriana, Breno e Patrick.
Jane quase desfaleceu ali mesmo. O choque que levou quando ficou sabendo da verdade... Então ela era pior do que imaginava. Não era um caso de dupla personalidade, ela era má mesmo, uma assassina!
Jane lembrou do seu instinto aguçado de novo: "CUIDADO".
À essa altura ela queria desconversar para Lorraine esquecer o que tinha revelado. E disse então, recobrando a calma:
_ Amiga, esquecemos de visitar os ateliês, vamos agora? Adoro Artes.
_ Pensei que íamos ficar mais um pouco aqui no barzinho.
_ Vamos sim, Lorraine. Anda, eu ajudo você a levantar daí...
Ela estava trocando as pernas de tão bêbada! Jane mal conseguia mantê-la de pé.
Jane desistiu de conhecer qualquer ateliê naquele dia. Pediu a ajuda para um dos garçons, que pediu um táxi.
Estavam de volta agora, ao Centro da cidade. E pediu ao porteiro do prédio de Lorraine que a ajudasse a subir com a amiga, pois ela sozinha não poderia. Quem visse a cena acharia uma vergonha! Uma mulher bonita, loira, bem vestida, naquele estado!
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Jane pegou a chave dentro da bolsa de Lorraine e abriu o apartamento. Nunca havia entrado no apartamento dela, constatou. Curioso, isso, pensou...
Sempre ela vinha à minha casa, mas nunca me trouxe aqui. Por que será, o que ela esconde aqui?
Agradeceu ao porteiro e fechou a porta atrás de si, logo depois de deixar Lorraine deitada no sofá da espaçosa sala que ela dividira muito bem, fazendo uma parte como escritório.
Jane resolveu fuxicar, aliás agora para ela era questão de sobrevivência. Fácil saber que seria a próxima da lista de assassinatos de Lorraine, já que era a herdeira.
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Remexia aqui e ali, dentro da escrivaninha, das gavetas dos armários, até que parou abruptamente:
Encontrou o que menos esperava:
Uma foto de Breno com um homem ao seu lado, abraçados de uma forma que revelava uma certa intimidade, então era assim que se parecia Rubens!
Melhor guardar bem esse rosto, ele pode aparecer a qualquer momento.
Sua memória fotográfica firmou bem os traços de Rubens: Sujeito forte, corpulento mesmo, branco, rosto quadrado, cabelos crespos e castanhos, uma tatoo de um ninja no braço. Pronto! Agora não tem mais como esquecer.
Jane fechou a porta do apartamento e desceu pelo elevador o mais rápido que pode, ficou com medo dele aparecer por ali, afinal, Lorrainde lhe disse em meio a bebedeira que ele tinha a chave.
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Jane ligou para Jorge Britto, assim que chegou em sua casa:
_ Alô, sr Jorge Britto, por favor?
Uma voz trêmula disse:
_ Ele não pode atender a ninguém agora.
_ Mas diga que é importante, que é a Jane, do Rio.
_ Você não entende. Ele não pode responder porque acaba de morrer.
Jane não acreditava no que ouvia... Ele também? Meu Deus! Seria como "pisar em ovos", todo cuidado agora, é pouco...
Ela voltou à conversa e perguntou:
_ A sra é a esposa dele? Quando será o enterro?
_ Sim, sou. O enterro amanhã, será às 11:30h, no cemitério da cidade mesmo.
Por instantes Jane lembrou que tinha sido nesse mesmo horário que ele a encontrou, na praça de Sapucaia...
_ Estarei lá, precisa de alguma ajuda financeira sra?
_ Não, obrigada mesmo assim.
_ Então até amanhã. E meus sentimentos...
Jane não entendia o porquê da morte de Britto. Afinal, era ela com certeza a próxima da lista de Lorraine!
"Amanhã será um longo dia"...
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A notícia da morte de Jorge Britto pareceu surpreender Lorraine, quando Jane deixou uma mensagem no celular:
'Não abriremos o escritório hoje. Vou à Sapucaia, ao enterro de Jorge Britto.'
Estranha esse morte do Britto. De certo deve ter sido algum acidente.
A cabeça dela doía intensamente, além da ressaca do dia anterior. O que agravava seu transtorno mental.
Achou melhor dormir o dia inteiro...
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As pessoas se mostravam realmente tristes, com a morte súbita de Jorge Britto. Ele era um advogado querido, e amigo de muitos no lugar.
Jane percorreu com os olhos para descobrir a viúva de Jorge Britto. Deveria ser uma mulher de seus 28/29 anos. Mais ou menos regulando com ele que tinha 30. Não demorou e viu alguém que estava cercada de pessoas. Sim, com certeza era ela.
Foi até lá e se apresentou. Deu os pêsames, mas tinha ido ali não só para o enterro, como também para saber em que circunstâncias Jorge Britto havia morrido.
Iria com calma. Não perguntaria assim, teria de especular com os vizinhos, parentes, amigos. Perguntar diretamente à viúva estava fora de questão, já era grande seu tormento...
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continua...
Fátima Abreu