Poemas -> Introspecção : 

O barco ébrio (Arthur Rimbaud)

 
Open in new window

Como descesse ao léu nos Rios impassíveis,
Não me sentia mais atado aos sirgadores;
Tomaram-nos por alvo os Índios irascíveis,
Depois de atá-los nus em postes multicores.

Estava indiferente às minhas equipagens,
Fossem trigo flamengo ou algodão inglês.
Quando morreu com a gente a grita dos selvagens,
Pelos Rios segui, liberto desta vez.

Mais doce que ao menino os frutos não maduros,
A água verde entranhou-se em meu madeiro, e então
De azuis manchas de vinho e vômitos escuros
Lavou-me, dispersando a fateixa e o timão.

Eis que a partir daí eu me banhei no Poema
Do Mar que, latescente e infuso de astros, traga
O verde-azul, por onde, aparição extrema
E lívida, um cadáver pensativo vaga;

Se há na Europa uma água a que eu aspire, é a mansa,
Fria e escura poça, ao crepúsculo em desmaio,
A que um menino chega e tristemente lança
Um barco frágil como a borboleta em maio.

Não posso mais, banhado em teu langor, ó vagas,
A esteira perseguir dos barcos de algodões,
Nem fender a altivez das flâmulas pressagas,
Nem vagar sob a vista horrível dos pontões.

Arthur Rimbaud, poeta francês que morreu precocemente aos 37 anos.

Neste poema (parcialmente copiado), Rimbaud cria a figura do barco louco, embriagado de infinito, navegando ao acaso, rumando ao desconhecido. O barco é, na verdade, uma metáfora para o poeta, o Eu, a incerteza da vida.

http://culturanja.blogspot.com/2008/0 ... ia-completa-e-cartas.html

Imagem: Yachts at Argenteuil - Claude Oscar Monet.
 
Autor
AjAraujo
Autor
 
Texto
Data
Leituras
5228
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.