Descida do firmamento
Em movimento recamado,
Com suavidade e leveza,
Ao belo soma ornamento
Pelo céu estimulado.
Úmida, maternal, sem pecado,
se deita sobre arranha gatos,
Sobre ramagens e flores
E em ritmo contínuo e calado,
Transcende em altar os matos
É pérola inimitável
No seu estar passageiro,
Tal e qual o pensamento,
Que no tempo insaciável
Do presente é prisioneiro.
Viça pelas manhãs a rosa
E depõe-se no dia ao meio,
Mas, se o sol a quer enxuta,
Ao balanço da flor viçosa
Esparge sem ter receio.
Em folha seca pousada,
Brilhante qual passageira,
Úmida gota de orvalho,
Anuncia nova ramada,
Primavera alvissareira.
Ah, Déa de efêmera glória...
Celebrando seu estar solene,
O orvalho por ti se enluta
E a rosa tem na memória
O beijo que a faz perene.