Hoje seguro meu coração
Como um menino que chora
Sem razão
Sem solução
Infeliz com a demora
Choro porque choro
Sem procurar a solução
Caio ao chão
Que a vida em mim amassou
Sou pêndulo
Caído
Relógio parado
Barco ancorado
No dia sem fim
E de quem me lembro
E que já chamei
Foi assim que um dia amei
Na dor que me toma de assalto
E me derruba as muralhas
No morrer do sol
Sou pássaro
De bico no anzol
Fechado em uma gaiola
Acorrentado ao passado do agora
Carminda:
Recorda teus bons momentos e preenche este vazio, logo mais estarás acolhido por quem te amas.
Anacleto:
Esperando eu quem já não espera por mim
Porque?
Porque espero
Essa hora
Carminda:
Pq. falas assim?
Ela te espera sim
Anacleto:
Esse segundo onde a dor
Me destrói o amor
Gloria para o céu
Chuva para a terra
Queima qual deserto incerto
Sou soldado derrotada
Poeta desincorporado
Pela vida mal tratado
Mas que agora?
Se levanta agora em mim
Nesta corrida que inicio no fim
Será que me ouves?
Ou apenas me tentas escutar
Carminda:
Ela te ouve
Anacleto:
Será que me podes apenas abraçar?
Carminda.
Eu te ouço
Anacleto:
Será que lá longe ainda existe esse luar
Esse olhar
Que um dia me pediu para ficar
Essa voz que falou em amar
Carminda:
As nuvens passam e a lua aparece
Anacleto:
Em palavras que não quero lembrar
Carminda:
Sinta
Anacleto:
Mas vou lembrar
Nesse mar que me incendeia
Mergulha
Não existe ar
Como posso respirar?
Sem teu corpo para beijar
Sem tua alma para amar
A quem poderei eu contar
Meus sonhos de sonhar
Aos olhos de quem te quer bem
Castigo
Consentido
De quem quer
E não encontra um abrigo
Nesta noite fria
Nesta rua vazia
Acende a lareira
Onde a luz se torna apenas escuridão
Partindo eu para a terra que me acolhe
Junto para ti um batalhão de vaga-lumes para guiar-te
No meu leito
Na minha própria morte
E morro de pé
Pois já vive toda minha existência de joelhos
Este caminho que te parece sombrio
Esperando esta hora em que meus olhos fecham
Apenas descansam
Dialectos do vazio por Anacleto Esteves e Carminda das Rosas