Ó mãe África
De crucificação
Escarnecem do negro de minha pele
De meus dialetos, sotaques
Eu que carrego cravado na tez
Todas as tuas memórias
De restos, osso,
Farelo e água
Ó mãe África
De contrastes
De quilates de sangue
De fartura de fome
De iniqüidades
De esqueletos que teima
Em ter vida
Dessa persistência
Que nos torna fortes
Ó mãe África
De crueldade
De alforriados em jaulas
De crianças que empunham armas
De homens que vendem suas almas
Por pratos de comida
Do barro que lhe farta a barriga
Do lixo que os mantêm em vida
Ó mãe África
De clemência
Escute meu grito de suplicio
Afague meu coração menino
Derrame em chuva meu pranto
Meu sangue em seiva
Para nutrir-lhe a carne.