POR AMOR
(Ivone Carvalho)
E como ficamos quando nos separamos e nos distanciamos, permitindo ao silêncio falar por nós?
O silêncio é aparente, indubitavelmente, porque apenas não nos expressamos de modo a sermos ouvidos fisicamente um pelo outro ou por quem nos rodeia. Em nossos imos, embora a paz revele a certeza do amor infinito que sentimos, há um turbilhão de vozes que se manifestam simultaneamente.
E ouvimos, então, a voz da saudade, a voz que repete as palavras que proferimos e que nos encantaram, os sussurros que deixamos escapar, as promessas que fizemos sem mesmo sabermos se poderíamos cumprir, as fantasias que revelamos com irreverência, os risos que transmitiram nossa alegria, os soluços que não conseguimos esconder quando a tristeza atrevidamente nos ludibriou e se fez presente.
Ouvimos, sim, até as lágrimas que sorrateiramente se liberaram da nossa alma e transformaram nosso rosto em seu leito. E até aquelas que se mantiveram discretas ocultando-se em nossos olhos, mas quase sempre percebidas pelo outro.
Quantas vezes, após essa algazarra de vozes que alimentam os nossos pensamentos, descobrimos que idêntica balbúrdia ocorreu no mesmo momento para ambos?
Claro que a constatação dessa sintonia sempre nos fez felizes, porque mais do que a certeza de amarmos apaixonada e imensamente, sentimos a reciprocidade dos nossos sentimentos!
Por amor, então, deixamos tudo fluir e já não nos importa o tempo que não perdoa e passa como um trator sobre as esperanças, os sonhos, as expectativas, as ilusões.
Um veículo que corre na velocidade do vento, ora devastando, ora levando tesouros que nos são tão caros, ora tão somente afagando a nossa pele, registrando sua existência com ternura, às vezes nos roubando algumas lágrimas, outras nos presenteando com a sua brisa suave e refrescante.
E por amor nos calamos, mas apenas a voz, porque lá no nosso íntimo dialogamos eternamente, ora com o passado, com a saudade, com as lembranças; ora com o presente, um aparente vazio, os sonhos; ora com o futuro, a esperança, a fé que nos sustenta e nos dá a certeza de que no momento certo receberemos, sempre, tudo o que for do nosso merecimento.
Por amor nascemos e vivemos. Por amor somos eternos... como o nosso amor!
SP, 01/02/2011