Na memoria de quem guardo,
Que se levantem agora os ventos contra mim,
Não são lágrimas que te entrego,
Nesta hora de tristeza,
Não assumo planos nem futuros que não construi,
E entro no desgosto profundo,
Limitado a nada, sem alturas para subir,
E no limiar do que me é oculto,
Rasgo meu corpo entre sangue e ossos de po.
No silencio que me revela o grito
No amanhecer que nunca será meu
Porque ninguém é de ninguém,
E só podemos fazer parte ou não da vida de alguém,
E são nessas encostas que caiu no pilar da vida,
No meu cemitério da sorte,
Soltando gritos de guerra entre sinais de fumo,
Tiro a corrente que me prende ao mar,
E entrego a flor que plantei nos espinhos que a vida me deu,
Nunca aprendi a ganhar mas aprendi a perder,
Nunca aprendi a receber mas aprendi a dar,
E me afogo sem luz no espírito que me consome a alma,
Agarrado ao patamar do sonho,
Sentindo o que nunca senti,
E meu corpo imoral agarrado ao pecado,
Envelhece na dor desenfreada a não envelhecer na morte,
E se chegares entre passos leves sem avisar,
Se clemente com minha alma
Que arde na fogueira que queima em mim
E se me entregares ao solo para ao pó voltar,
Guarda meu nome escrito em um pedaço de papel,
Recorda meu sorriso espalhado na brisa do sol,
No tempo em que havia gloria e um esplendor, no tempo em que havia respeito e amor
Meu olhar esta gasto nas intempéries que o mundo causa,
Meu corpo esta doente pelo pecado,
Minha boca se afasta do veneno da serpente,
E já caminho nas memorias esquecidas,
Parado no tempo sem pressa para andar,
Pois não tenho para onde ir,
Grito mas ninguém me consegue escutar,
Na rouquidão que me tira a voz,
E cada palavra solta, destrói segundos de silencio brando de mares e desertos,
Crescendo entre pautas de violinos com cordas gastas,
Ofuscando minha boa vontade,
Solta meu ar que não respiro,
Dá-me um sorriso falso se assim for,
Mas não me negues a verdade,
Nem destruas a alma marcando um coração para sempre.