O som dos passos feitos sem pressa
Demarca minha presença se indo pela rua.
Dobro a esquina, faço a compra,
E a volta pra casa se faz por outro caminho.
O Médici, bairro agora tão calado, se espreguiça aos poucos,
Fazendo brilhar os seus canteiros.
As casas se alargam como sorrisos,
Assim como as ruas, donas de seus próprios medos,
E eu me vou.
Imagino que se eu tivesse recém mudado,
Que maravilha seria aquela esquina agora;
Caminhar pouco até a padaria ainda não seria rotina,
Ou seria ainda pouca.
O sol ainda nascendo revelando sombras
Permite ao ar que assuma seu quê frio,
E me transporta àqueles tempos de colégio.
Uma nova escola, uma nova vida…
A preocupação se aquele era mesmo meu mais bonito casaco;
Praticamente o que farei agora…
Só que nesse momento da vida eu noto
Que jamais me dei conta da torrinha da igreja
Que dá pra ser vista lá no fim daquela rua.
Sorrio envergonhado pensando
Que ando pouco pelo meu próprio território…
Como eu o veria se sempre me dispusesse a acordar cedo
Pra me colocar em outro lugar, perpassar pelos muros,
Aproveitando a ausência de movimento
Pra encenar minha vida em um outro teatro.
O bairro em que moro me convida a um passeio,
E de pão comprado logo cedo,
Retorno à minha casa por um caminho pela frente,
De modo que contemple bem a minha janela ainda aberta.
Maravilha Deus, não é nem já ter aquele quarto;
Não é nem desfrutar de uma casa com meus pais.
Maravilha mesmo é acordar no mesmo quarto,
Pequeno, com o verde esperançoso nas paredes ao fundo,
E sem a inevitável mudança, como que num sobressalto,
Achar tudo de novo, tudo bonito,
Resoluto.
yuri emanuel