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Épica viagem

 

Épica VIAGEM!
Estava me deliciando em ler um prospecto sobre o turismo em Portugal, quando ouvi a notícia de que um grupo de estudantes de Faculdades de Letras de todo o Brasil tinha sido convidado para ir à “santa terrinha”, com o objetivo de intercâmbio cultural. Fiquei roxa de inveja, mas reagi valentemente e, invocando Camões, dei azas ao meu pensamento e fui viajar de forma virtual (não é o termo da atualidade?) e escrevi uma epopéia às avessas:

A ocidental praia lusitana
– Das armas e brasões assinalados –
Recebe a visita da gente americana.
De muito aquém de Trapobana,
Partem estudantes entusiasmados,
Vindos dos pontos cardeais,
Dos confins brasileiros isolados
E, por ares nunca dantes trafegados,
Rumo a novos ideais:
Confraternização humana, cultura e a alegria,
Que só para este feito já trazia,
De sobejo, motivos sem iguais.

Pudesse eu, mesquinha criatura,
Lançar mão à pena e a musa inspiradora
Me alargasse a mente, na aura de escritora,
Discorrer o evento em alta literatura:
Partia! Alegremente, navegando,
Descrevendo em sonho a épica viagem,
Como quem parte – e cá fica sonhando –
Para alcançar a tão fugaz miragem:
Visitar Lisboa, Cascais, Alfama
E no peito saudoso de quem ama,
Estreitar patrícios dessa terra boa!
Escutar o fado, dançar o vira,
Provar o vinho de devida fama;
Saborear os acepipes que o paladar reclama.

Partiu Cabral da ibérica península
E, por mares nunca dantes navegados,
Veio bater os seus costados
Nesta verdejante e nativa insula.
Toda uma civilização se ergue
Dos primeiros passos do nauta português;
As caravelas, com os panos enfunados,
Tecem caminhos mal traçados
E o cordão umbilical se fez,
Entre a terra-mãe e o filho estremecido
– Brasil, dos brasis tão percorridos,
Desbravados pela gente lusitana.

Se eu fosse poeta, quão mais diria
Deste oportuno e feliz passeio;
Mas avó roceira, cronista de aráque,
Deixo de lado o ciumento ataque
E cumprimento o povo viageiro.
Província do Minho,
Trás-os-Montes, Douro, Litoral...
Meu Deus, quanta coisa linda
A se ver em Portugal!
Quanta sonoridade:
Ilha dos Açores, Serra do Caldeirão!
Desperta a brasilidade,
Ecoa no coração!

Só quem engrolou a língua
Em estrangeiras terras,
Sabe a dificuldade,
Das verdadeiras guerras
Que tem por enfrentar...
De Portugal a chegança,
Nos desperta a lembrança
De pisar o pátrio solo.
Porto Seguro, Estoril...
O mesmo jeitinho manhoso,
O mesmo lidar amistoso
Do povo do meu Brasil.
Da velha-mãe ao largo colo
É retornar cheios de fé,
Reencontrar as mesmas crenças
Nas festas de Nazaré.

O tempo que a tudo sana
E a tudo iguala,
Uniu estas nações
Num apertado laço:
Não mais a terra soberana,
Não mais a colônia que se cala;
Irmãs no sangue e no progresso,
Têm em seus portos livre acesso
E o mesmo ardor no caloroso abraço

 
Autor
Christina Cabral
 
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