Para Júlio. Uma criança desconhecida,
preta e pobre a brincar num exíguo
quintal.
Deixai vir a ti a tua criança,
ó homem de pouca fé!
Permita que ela aflore de ti,
na nesga de céu azul contemplada,
da janela semi-aberta.
Concedei que ela se manifeste em ternura
Para com os vossos semelhantes,
no desleixo dos gestos displicentes.
Dai-lhe a oportunidade de se expressar
no sorriso gorgeiante, como de quando, solitário,
te lembras de uma passagem engraçada,
onde por quereres ser muito sério,
foste bobo.
Sede com ela tolerante, aceitando-a
como o mais belo presente que a ti
foi concedido. E que muitas vezes,
preocupada com as aparências ,
não te permites desfrutá-la
.
Sede o primeiro a guiar-te por ela,
pioneiro ofertando-a generosamente,
sem a ninguém comprometeres com a obrigação
de seguir-te nos teus caminhos .
Deixai, vir a ti, a vossa criança,
ó homem de pouca fé...
Sede paciente se ao início ela
foi tateante, insegura.
Compreendei a sua morosidade.
É que a ela, tu nunca
deste uma oportunidade.
Não sedes severo com ela. Reservai a
vossa severidade para ti e os teus
momentos em que, com teus preconceitos
e estereótipos, obstaculizas o seu
livre florescimento.
Confiai na pureza e na beleza
que dela emanam, confrontando-te
com os teus juízos e os teus valores.
Ó homem de pouca fé!
Deixai vir a ti a tua criança e verás:
Serás feliz!
Que é a esta felicidade que infrutiferamente,
em teus descaminhos tendes buscado.
A felicidade pura e simples.
Nostalgia de um tempo pretérito
onde em ti só a criança falava.
Só ela era a tua verdade!