Depois de te falar da luz,
da luz que és em mim, maior, mais profunda, mais forte …
Depois de te falar do colo das palavras
em que te deito nos meus joelhos… neste afago
em que te acolho na demência de te amar na eternidade…
Depois de te dizer de nós,
halos emigrados da noite da deriva,
de nós deuses, esculpidos no acre dulcíssimo da saliva,
de nós meninos, debulhados em lágrimas de argila
nos ninhos de passarinhos...
de te contar as lendas quiçá esquecidas
no rumorejar de asas de insectos em gestos
brandos, circunflexos,
falo-te agora amado, do silêncio.
… do silêncio….
Olho o quadro à minha frente, “A cadeira Amarela”, de Van Gogh,
e os olhos escorrem-se lépidos em velas paradas de moinhos de ventos.
Percorrem ávidos a tela de um dourado que se escorre …
e se não move.
Parada a cadeira…
Lágrimas de braços desocupados,
pernas dobradas que se não erguem glabras,
nas rugas-pétalas de brancas rosas.
Depois de te falar de luz,
da luz demorada nas linhas das minhas mãos
e nos linhos de celestiais mantos,
falo-te agora meu amado, desta glutinosa terra que me clama,
que me deseja,
que me espera na angustia serena que a morte encerra.
Depois de te falar de luz… apenas o negro impera.
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