“Daqui desse momento,
O meu olhar pra fora”
É um reflexo de introspecção.
Eu ouço músicas que me dizem exatamente
O oposto do que queria ser, dizer…
Falo da paz porque gosto de ser breve,
E da guerra porque afinal há paz.
Mas do que não falo
É um vão tão grande quanto aliterado;
Uma repetição que se enrosca numa bola de neve,
Ladeira abaixo,
Core a dentro.
O que eu calo é seguro porque não caleja as pregas vocais;
Mas ainda mais vocálico que o silêncio
É esse ato insatisfeito,
É estar presente quando tudo já foi embora…
É pensar que uma vírgula tem a pausa certa,
Um ponto final, não:
Vira reticência…
É odiar o armário barulhento
Que se assemelha ao som do Juízo na madrugada
Porque a casa anda demasiado silenciosa.
E vez ou outra, eu me recolho os joelhos sobre a cama,
Queimo a língua no café,
Olho o livro inacabado
E escrevo outro.
Outro, outro o quê?
Se o que está escrito de verdade e de maneira perene
Ninguém é sábio o suficiente pra ler?
A palavra do que chamam de deus
É um silêncio farfalhando folhas no verão.
— ou no inferno,
Acaso exista.
Deus é o acaso que se une;
O Ocaso divino e repetitivo,
E eu…
Eu me sinto o pelinho indesejado, extraviado da sobrancelha.
E componho sinfonias milimétricas
Das quais me esqueço de lembrar.
Eu não saberia dizer do que se trata esse poema,
Mas do que se trata tudo o que tem sentido,
Se o que mais marca é, de fato, aquilo que foi sentido?
Eu não sei, Deus talvez dirá…
A poesia me encontra,
Me faz me encontrar,
E a vida segue sem prepotência
Indo a algum lugar.
yuri emanuel