Apenas fui chutando a bola
Rebolando pelo chão
Descalço pedindo esmola
E de muitos pouco vi de coração
Tirei esse fardo da sacola
E juntando água, formei
Tinta de água viva
E pintei nas paredes a lembrança
E escrevi a humanidade
E escrevi o sofrimento
Sendo cego
Tropecei em cada caminho
Sendo visão
Esqueci de ser luz
E entrei nesse caminho
Nessa chuva gelada
Escovei seu cabelo
A chuva era afinal jarros de mágoa
Vestindo meu melhor fato
Me tornei gravata
Em no por fazer
E calei essa voz que me chama
Fiz tréguas
Nas tréguas que nem são minhas
Nem sei se rezei
Talvez tenha orado
Entrei falando com meu pecado
E nessa razão
Ele me escutava
Falando em tom magoado
Fiquei arrasado
Em pernas que coxeiam
Arrastando esse peso
De quem não quer ser lembrado
Lambuzei essa face sombria
E cuspi na sua batina
Blasfemei
Nesse chão molhado
Cavei a terra
Não sei se para meu caixão?
Sei que fiquei com vestes sujas
Pois com minha própria mão essa terra cavou
Seguindo o compasso
A marcha dessa solução
Eu sussurrei
O que era segredo
Me coloquei em perigo
E mesmo sem saber correr
Não tive medo
E nem tentei fugir
Que me espera?
A forca
A guilhotina
A lança
A estaca
Me tornei invisível
Aos olhos de que não vê alem
E sai ileso
Dessa heresia
Me tornei livre
Na liberdade
Mesmo sabendo
Que o vento
Sempre me vai procurar
Para me tentar denunciar
Mas que seria de mim se não continuar
Que tem amor
Nunca poderá abrandar
Nem se calar
E se morrer
Será nas mãos do amor
E não nas mãos da dor