Sonetos : 

MITOLOGIAS AFRICANAS

 
Tags:  sonetos    Marcos Loures    mitologia  
 
MITOLOGIAS AFRICANAS

1

Vodun Abuk primeira entre as mulheres,
Mitológica deusa Dinka, do Sudão
Dos jardins a sobeja proteção
Aonde com certeza o bem que queres,
A mãe de Denka, o deus celestial
Trazendo como emblema uma serpente,
O quanto em seu caminho se apresente
Um ato tão diverso e magistral,
A deusa que se fez mulher expressa
A sorte em mais diversa claridade
E quando se percebe a divindade
No qual a própria vida recomeça
Dos Dinkas primazia de poder
Além de amar, parir, enternecer.

2

Em Jok vejo a suprema divindade,
De tudo o criador, regendo o passo,
E quando assim o sonho busco e traço
Dos Drinkas o que possa a liberdade,
E tanto quanto o tempo nos invade
Tramando o que se queira, mesmo escasso,
Ou quando noutro rumo eu quero e faço
Devendo ao deus maior a claridade,
Excelso deus transforma e já domina
E tanto nos criando e nos trazendo
O todo noutro fato, em dividendo
Marcando o que pudesse em rara mina,
E Jok traduz enfim o ser eterno
Onipotente Pai onde me interno.

3

Dos Lugbara este deus, o protetor
Traçando a cada instante novo quadro
E vejo esta superna luz em Adro,
E nele o tão sublime criador,
Gestando cada passo em seu louvor
O todo num momento agora enquadro,
Maléfico também traçando a dor,
Um ser dual que molda a criatura
E gera do caminho e se afigura
Qual fosse; na total dicotomia
Deus da terra, do fogo e da savana
Enquanto Adroa sobre o céu se explana
A sorte noutra face se veria.

4

Adroa representa o bem e o mal
O criador dos céus, para os Lugbara
Aonde a própria sorte se prepara
Num rito mais diverso e desigual,
Assim se aproxima o doce e o sal,
A vida se anuncia escura e clara,
O quanto a cada instante se escancara
Num ato tão audaz quanto venal,
Surgindo ao moribundo o deus se vendo
Tramando no final um ledo adendo
E nisto se presume em face vária
A luta que se mostra e não descansa
Marcando com terror uma esperança
Ou mesmo nos domina em luminária.

5

Do povo Igbo tal deusa, a principal
Trazendo dentro em si fertilidade,
Da Terra a soberana majestade
Marcando em rito audaz e divinal,
Vejo Ala governando o imenso chão
Também o subterrâneo, extrema luz
Que tanto quanto rege reproduz
E mostra de tal forma a dimensão.
Porém quando se vê contrariada
Deixando aspecto novo sempre a nu
Desenha o que se diz ser um tabu
E a sorte desta forma demarcada,
Presume este castigo em tom atroz,
Matando da esperança a mansa foz.

6

Arugbá Òsun, uma orixá
Escolhida; levando igbá nas mãos,
Trazendo da esperanças raros grãos
Na virgem que se fez em yorubá.
Assim ao se mostrar soberania
A sorte noutro instante se traduz
Marcando este cenário em rara luz
E nisto tanto brilho se veria,
Dos sonhos desenhados, sei que algum
Pudera tão somente traduzir
Na senda mais distante do porvir
A divindade maga, nossa Oxum,
E nisto se traduz sacerdotisa
Escolhida entre os fiéis, a sorte em brisa...

7


Em Baron Cimitière, o guardião
Vodu que protegendo os cemitérios
Traçando a cada instante estes mistérios
E neles outros tantos que virão,
Marcando a todo instante a direção
Diversa desenhada em tais critérios
Os dias entre tantos, seus impérios
Toando com a dor e a imprecisão,
Um dos Guédé traduz a turbulência
E mostra escuridão em evidência
Trazendo a mais amarga realidade,
Depois de tanto sonho ora desfeito,
Eternamente em vão quando me deito,
A morte sem perdão adentra e invade.


8

No Baron Kriminel o julgamento
Injusto persistindo em fúria plena
E quando alguém possui tudo envenena
E neste vão cenário todo o tormento,
E quantas vezes busco o sonho e tento
Sem ter o que deveras me serena,
A luta sem sentido quando acena
Transforma este cenário em tom sangrento.
Atacando no instante mais venal
Marcando em ato rude, e desigual
Cenário em truculência, tão mordaz.
E nesta divindade do voudu
O mundo se desenha nu e cru
E expressa o que a incerteza leda traz.

9

Baron La Croix ditando a morte aonde
O tanto que pudera ser feliz
Expressa todo o bem que em vida quis
E nisto outro cenário corresponde,
Além do que deveras lá se esconde,
Não traz da vida alguma cicatriz
E mostra este momento e contradiz
O quanto no vazio não responde,
O tempo de viver merece o gozo,
E quanto mais sublime e majestoso
Divina a companhia após a vida,
A cruz se estampa assim quase que hedônica
E quando a própria morte é mais harmônica
Da sorte desejada, bem servida.

10

Catoblepas um ser divino expressa
Na face animalesca outro momento
Quadrúpede que alado em tal tormento
Transmite o quanto quer e assim começa
Cabeça gigantesca, cabisbaixo
O olhar num horizonte limitado
O mundo quando tanto quero e invado
Trazendo deste brilho um mero facho,
E quanto poderia ser diverso
Na etíope caminhada a divindade
Num misto de temor e insanidade
Presume este cenário aonde eu verso,
Vagando pela vida simplesmente,
O quanto se buscara além se tente.

11

Ezili Dantor deusa que expressara
A proteção das mães, e sendo Iwa
Presume o que pudesse e mostrará
O tempo noutro tempo, a vida clara.
Uma Madona negra em sincretismo
Assim como se vê na Aparecida,
Trazendo outra esperança em rara vida
Diminuindo então tal turvo abismo,
E quando se anuncia a sorte imensa
E gera noutro passo o que se queira
A luta desenhando esta bandeira
Onde irmandade plena nos compensa
Das tramas ardilosas de um passado
A cada novo instante, destroçado.

12

O mundo que se vê noutro sentido
Em espiritual caminho traz
A sorte mesmo quando se é mordaz
O passo noutro encanto resumido,
E vejo deste canto o dividido
Momento entre o temor e o ser audaz,
Regendo o que pudera e sei que faz
No caminhar disperso onde lapido,
Guinee que no voudu dita o reinado
Aonde se desenha num traçado
Diverso o que tentasse ser além,
Do quanto a cada instante sempre vem
Mudando a direção de cada vento,
E nisto se presume estar atento.

13

Em iorubá tramando cada crença
Dança, mito e festa, luz e turbulência
No quanto a própria vida traz ciência
Do mundo onde a verdade se convença
E marque com castigo ou violência
Vingança ou doce alento em recompensa
Na sorte divergente e mesmo imensa
Aonde não existe coincidência,
O todo se anuncia neste Itan
E nele se percebe todo o élan
Marcante caminhada sobre a vida,
E tudo se aproxima enquanto tento
Beber a cada passo um elemento,
E assim o meu futuro se lapida.

14

Em Nambi se desenha a deusa mor
Reinando desde Uganda o mundo inteiro,
E dita o imenso céu, o verdadeiro
Caminho feito além e já de cor,
O tanto que pudesse bem melhor
Ousando da esperança um jardineiro,
Dos homens sobre a Terra, o ser primeiro
Trazendo como esposa o dom maior.
A vida se fazendo neste instante
Da deusa com um homem se garante
E traça este final matriarcal,
A divindade mostra em tal cenário
O rumo sem igual itinerário
Gestando outro momento sem igual.

15

Namwanga no Zaire deus supremo
Domina toda a Terra e muito além
Traçando o quanto possa e já contém
Num rumo muito além do quanto extremo,
O todo se anuncia e neste instante
Suprema divindade se expressando
Num tempo muitas vezes duro ou brando
E nisto cada passo se garante,
Marcante sensação do ser e crer
O rumo desenhando em divindade
O quanto se anuncia e além invade
Gerando com certeza cada ser,
Assim a vida molda esta nobreza
E nela a mais sublime realeza.

16

Loas Rada dominam cada passo
São guardiões da moral e dos costumes
E quando noutro muito ainda rumes
E dita o que pudera noutro traço,

Marcando o quanto possa mesmo escasso
Trazer ao fim de tudo estes perfumes
Tramando muito além nos altos cumes
O sonho que deveras quero e faço,

Vencendo os meus temores ancestrais
Ditando o que sentisse e muito mais
No voudu haitiano se desenha

A sorte mais audaz que já contenha
O todo que pretendo a cada instante
E o quanto se queria me agigante.

17

Wuni se associando na harmonia
Em positividade o quanto possa
Marcando a mesma história, enquanto endossa
O quanto tantas vezes se queria,
Vencendo o que perdera e não teria,
A luta se desenha e mesmo nossa
Do todo anunciado aonde apossa
Gerando no final esta utopia,
O deus a cada instante sincroniza
E dita o que virá em mansa brisa
Gestando com ternura um novo passo,
E tendo a sensação de plenitude
Enquanto a vida às vezes desilude
O rumo mais vibrante, anseio e traço.

18

Abassi o criador de todo o mundo
Segundo a dimensão Efik trazendo
Em Suas mãos enquanto assim prevendo
Traduzo este caminho mais profundo,

Com Asai esta esposa desejada,
Dois humanos filhos Ele teve,
Porém o quanto pôde aquém reteve
Da fúria do prazer anunciada,

Mas desobedecido, então puniu
Com morte a geração que assim criara,
E neste caminhar sobre a seara

Do olhar de quem nascera enfim partiu,
E os netos doravante são mortais,
Histórias repetidas; desiguais?
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
Leituras
960
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.