Desligou o carro e hesitou por alguns instantes. Já o avistara, sentado nos degraus da entrada da casa, no escuro, sozinho. Saltou, enfim. Fechou a porta do carro, devagar. Não tinha por onde passar, ele bem sabia onde esperá-la, só não sabia se ela voltaria aquela noite ou ficaria com o outro. Ela se aproximou lentamente, os dois se encaravam. E ele a olhou como antes, como anos atrás, quando aquele fogo proibido se acendeu e destruiu tudo à sua volta. Ela, então, sentiu medo e júbilo, confusa e excitada pela idéia de reviver, de incendiar tudo outra vez. Que se dane isso tudo! Deram-se as mãos, não precisaram falar nada. Ela abraçou sua cabeça e ele desabou em seu colo, chorando. Sua boca procurou a dela e sentiram o mesmo gosto de antes. E foi como se os anos não tivessem passado, como se fossem os dois adolescentes descobrindo a vida, a luxúria, a lascívia, a paixão. Mas amavam-se agora. Um preço alto a pagar.
Ela se desvencilhou e subiu para o seu quarto. Ele ficou novamente sozinho, com o cheiro da mulher amada a lhe atormentar e a alma dilacerada pela culpa e pelo desejo.
Em sua cama, olhando para o teto, ela esperou. Ouviu os passos do primo, sentiu-o parado à sua porta. Mas ele prosseguiu. Foi em direção ao quarto de hóspedes, onde sua esposa dormia, ao lado do berço do recém nascido.
A ela nada restou a fazer além de enterrar a cabeça no travesseiro e chorar a saudade do que não viveu.