Sigo uma viagem sem fim
nem sequer apeadeiro –
levo na noite um luzeiro,
que mostre partes de mim.
Uma perna um farto braço,
gesticulando impropérios,
derrubando vãos impérios,
com todo o meu embaraço.
Ouço bem perto a corrente,
de um rio bêbado de força –
e olhos de vidro duma corça,
sai do mato, num repente.
Longe vaia o corrediço susto,
que apesar do sol se mostrar,
fraco, fraquinho, a motejar,
inda vai a lua – inchado busto.
Mas eis a horizonte nado sol,
a aquecer-me os esqueletos:
é que não trago documentos,
digo-o baixo, ao lento caracol.
Vagabundo não precisa! Ora!
Nem falta pesará a ninguém!
Poeta é este, aquele, alguém,
coisas banais não são demora.
Assim sigo meu caminho meio
à Natureza e às fontes frescas –
belas moças trazem suas cestas
à cabeça e vejo um fugidio seio.
E é tudo tão natural que eu me
encho de preceito e de conserto,
cala-se a voz, em lance de acerto,
deixo fluir as coisas… e se… e se.
Começo a namorar uma menina,
recito-lhe fulgurante um poema –
o que procuro não são diademas,
mas o quê desta inquietude felina.
Jorge Humberto
21/01/11