Quando eu a vi, ela trançava os cabelos e cheirava a pitanga. As pernas molhadas, vestido colado, os pelos brilhando, dourados, à luz do dia.
Assim, sentada meio largada, na beira do cais, flertando com o mar, sorrindo pra mim. Assim, meio santa, meio devassa, deusa, criança… Ai, me perco de mim!
Quando eu a vi, ela inundava de mel o verde do mar com a viveza do olhar. E matava de inveja as espumas das ondas que açoitavam as rochas numa fúria sem par.
Quando eu a vi, ela dançava, cigana. Cantava, cigarra. Criatura profana em estado de graça!
Quando eu a vi, fiquei cego às leis deste mundo e levitei - giramundo! - sobre homens e deuses.
Quando eu a vi, um pouco morri, desvairado sofri feito cão moribundo
Quando eu a vi, ela trançava os cabelos e cheirava a pitanga…
E eu me perdi de mim.