Aqui, aonde desce até mim,
o meu eu acontecido,
não sou mais que aparecido,
do que vai de mim até mim.
Se me conheço, sou espanto,
como um rio sem ter correr…
águas paradas, do meu ser,
que no cais, deixo entretanto.
Construo barcos à semelhança
de outros barcos, na maresia –
nasce o sol ou cai o dia,
meus barcos sem esperança.
Galgar ondas, ir na espuma
do mar; ser pleno movimento,
um braço em anuimento,
baixando a mão até à escuma.
Mas irreal eu sou, proscrito!
no pensamento e na Razão.
O que verso – será emoção?
Ah!, nunca por nunca, contrito!
Em sonhos me sonhei outros
«eus», não o que vos escreve,
pareciam uma resenha breve,
e eram todos, pouco doutos.
Julguei que assim estava bem,
àquele que vos apresenta,
em cores, da cor da magenta,
e não muda a vida de ninguém.
Mas, se sou aqui, aparecido,
meu ser terá alguma nobreza
(meus pais, com certeza!),
e hei-de fiar, outro ser nascido.
Entanto vou por aí a sonhar,
enquanto a imaginação quiser –
se está guardado a quem houver
sonhar, abre-se de par em par.
Jorge Humberto
18/01/11