Cada passo que dou é mais vago,
Cada vez que inspiro tremo.
Cada sorriso sem afago
Desiludido ao extremo.
Cada memória é pincelada
Com tintas de jamais outra vez,
Cores de vida pintada
Só com dois tons ou três.
Afixo na parede cada lembrança,
Cada momento bem passado,
Atiro uma pedra à esperança
Por me ter de tal forma deixado.
Alimento-me do fumo do vício,
E tento então raciocinar,
Mas o tempo não corre propício
Ao que costumava cronometrar.
Este vazio que se instalou...
Esta falta que me irrequieta...
Qual a seta que trespassou
A leda alma deste poeta?
Falem-me de felicidade,
E vos apontarei o dedo!
Se é que existe tal verdade,
Alguém guarda bem o segredo.
Falem-me então de amor,
E mostrarei o meu medo,
Só quem já sentiu tal dor,
Desnudará o bruxedo.
Contem-me histórias de embalar,
Tão doces que adormeço...
Estive até agora a tentar,
Mas a dormir, não apareço.
Instalo no dia umas reticências
Assinalando a probabilidade.
Mas envolto em várias fragrâncias,
Sou derrotado pela realidade.
Quando poderei retratar-me tranquilo?
Quando perderei a aflição?
Penso em mim, nela, nisto e naquilo,
Mas pense agora ou ontem, no que pense,
Sempre permanece a questão.
"Even though i walk through the valley of the shadow of death, i will fear no evil..."