SEMANA
Segunda:
A morte espreita, a cada canto da rua –
Caveira branca, luzidia –, vem dizer,
Que o sol se pôs, e a noite será sua.
Terça:
E o sonho não acaba, e a vida é imensa,
De raivas, dor, e de folia,
E a lágrima corre intensa,
Até que ao rio nasça o dia.
Quarta:
De lua prenhe, e urros no ar...
As bruxas dançam, a coruja pia,
E o menino junto à cama, a rezar,
Pede baixinho, que lhe concedam novo dia.
Quinta:
É o dia do meu espanto,
De calma e observação.
E absorto, no puro encanto,
Sento-me tranquilo, a olhar o vão.
Sexta:
É noite de festa... Vinhos, e fado...
E à luz da vela, o olhar fatal,
Recorda outras, e são passado,
De notas arrancadas à corda metal.
Sábado:
De mim já pouco resta,
Flor silvestre, a definhar.
E morro entre o pó, a meio a giesta,
Onde a alma será vingar.
Domingo:
Domingo... Que dizer, do Domingo?
Mendigo sem calor,
Que pede, e traz por caridade,
A falsa virtude a solidariedade,
Num prato frio, e sem amor?
Jorge Humberto
In Mosaico
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Segunda:
A morte espreita, a cada canto da rua –
Caveira branca, luzidia –, vem dizer,
Que o sol se pôs, e a noite será sua.
Terça:
E o sonho não acaba, e a vida é imensa,
De raivas, dor, e de folia,
E a lágrima corre intensa,
Até que ao rio nasça o dia.
Quarta:
De lua prenhe, e urros no ar...
As bruxas dançam, a coruja pia,
E o menino junto à cama, a rezar,
Pede baixinho, que lhe concedam novo dia.
Quinta:
É o dia do meu espanto,
De calma e observação.
E absorto, no puro encanto,
Sento-me tranquilo, a olhar o vão.
Sexta:
É noite de festa... Vinhos, e fado...
E à luz da vela, o olhar fatal,
Recorda outras, e são passado,
De notas arrancadas à corda metal.
Sábado:
De mim já pouco resta,
Flor silvestre, a definhar.
E morro entre o pó, a meio a giesta,
Onde a alma será vingar.
Domingo:
Domingo... Que dizer, do Domingo?
Mendigo sem calor,
Que pede, e traz por caridade,
A falsa virtude a solidariedade,
Num prato frio, e sem amor?
Jorge Humberto
In Mosaico