Doí-me a alma de tanto clima de maldade. O meu espírito revolucionário foi-se, as minhas letras foram-se. Já nada do que escrevo faz sentido. A tristeza é como um apêndice da minha alma. Nunca conseguirei separar-me dela.
Em corredores vejo casais. Uma dúzia talvez. Dentro do meu grupo de amigos surgem uns, ao mesmo tempo. Sinto-me só. Olho-me ao espelho, em casa e vejo luz. Olho-me na rua e vejo escuridão.
Não consigo mais lutar contra o mundo. Sinto esgotei todas as forças. Sinto que perdi o que um dia foi meu.
Gostava tanto de agora, após escrever este texto. A morte está em mim. Lutei e luto contra o mundo que se acha superior. Luto contra aqueles que pensam que são reis das ruas e das avenidas, que julgam governar cidades e países.
Queria pintar o meu próprio retrato da minha vida. Tentar usar cores normais. Normal...
Mas o que é ser-se normal? Será ser igual a todos? Será demonstrar a minha tristeza?
Em mim disparam, matam-me. Mas eu acordo e estou vivo... talvez a solução não seja essa.
Mas eu não vejo mais solução. Os caminhos estão vedados à minha passagem. Constroem-se revoluções para me derrubar.
Podem conseguir. Podem até matar-me de tristeza. Mas sei que não irão conseguir, pois irei sempre viver...
Pedro Carregal