Ouça-me... Um vê mais me ouça
Os lampejos da hipocrisia passaram pelo vão da porta
Ouça escapar das mãos a vida mesmo que tardia
Ouça escorrer os conselhos de Jó
Os provérbios de exilados profanos
Poderão sustentar-me de pé?
Ouça-me... Não a mim, mas a cegueira da minha loucura
Os turbilhões nômades que penetraram as veias
A estridente e suave nota, a mais alta pervertida nota ecoar os tímpanos
Não posso parar de ouvi-la
É decadente o estado destes ossos viventes
Você não pode ouvi-la dentro de você
Ela te surpreende de lamentos
Usurpa a tua mente com silêncio ensurdecedor
Mas eu, não posso parar de ouvi-la
Faz parte de mim desde ainda menino
Do convívio com minhas células
Ainda posso rastejar como as serpentes
Desejar como embrião um dia nascer
E formar uma nova luz sem manchas
Eu me descobri tarde demais
As caravanas já haviam passado
Olhe para mim e veja o projeto de quem desce as sepulturas
Desarraigam as raízes da intolerância
Fada-me de esperanças libertinas
Fala-me se consegues entrar nos meus olhos e extrair as dores das minhas córneas
Mais que minha carne está doente os meus pensamentos
Olhe pelo vão da porta e não deixe escapar o vento
Ouça-me por alguns segundos
Não posso desistir da vida
Ela me faz bem, não posso parar de ouvi-la.
Marcelo Henrique Zacarelli
(Poema Surreal)
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
São Paulo, Janeiro de 2011 no dia 12