Jerusalém, Jerusalém, és hoje o corpo do próprio homem
carregas no teu seio a praga da escuridão.
Todo o facho se consome e só tu não te iluminas;
perdida foste, desgarrada és,
a vagar alienada, foges ao perdão.
Jerusalém, Jerusalém, quão seduzida estás,
compras e te vendes ao consumo
mergulha-te cada vez mais
em sandices orgíacas, em materialismos infernais.
Fechas as portas a ti abertas
ris e debochas do sagrado:
apressa-te e cuida-te Jerusalém!
Em breve para ti os portões estarão cerrados
A blasfêmia mais vil gruda-te à boca como o visgo
A perfídia te invade ignoras o mais tênue amor.
Jerusalém Jerusalém, assim foi, assim será
em teu ser danado que na insanidade persiste
só a permanente e lacinante dor
do estilete delgado conhecerás.
Acorda Jerusalém ! Desperta neste ocaso do dia
banha-te nas últimas réstias de luz:
conquista a legitimidade de ser filha do Pai
Que a Ele pouco importa
que do inficentésimo instante,
obreira de última hora, sejais.
Jerusalém, Jerusalém
neste último instante
vislumbre a possibilidade da paz
torna-te ao teu caminho e não peques mais.