MARCAS DO PASSADO
(Ivone Carvalho)
Não foi por acaso que nossas vidas se cruzaram. E, com certeza, a ocorrência se deu no momento certo, embora não pareça.
Não fosse assim passaríamos despercebidos um ao outro, já que tudo tendia para isso.
Às vezes questiono a imaturidade que prevaleceu em todos os acontecimentos que determinaram tanto o início como o fim. Imaturidade de ambos, apesar das idades que tínhamos.
Justificativas não faltaram. Para nenhum dos dois. Tanto para o início, como para o fim.
Fim? Terá havido realmente um fim?
Fim gera esquecimento, apagamento da memória.
Determina que nada nem ninguém nos remete ao passado ou à pessoa. Implica a retirada total dos pensamentos, do coração, das emoções, dos sentimentos. Inclui a inexistência de saudade, qualquer tipo de saudade, qualquer lembrança. Implica no esquecimento total e irrestrito, irrevogável, inalienável.
Houvesse o fim e eu não estaria aqui, agora, registrando os meus pensamentos, os meus sentimentos, a minha saudade, a minha marca.
Impossível estabelecer a existência de um final quando a nossa mente se depara, não raramente, dispersa, perdida no espaço e no tempo, recordando, salvando os bons momentos dentre os destroços que amarguraram o nosso coração.
Indubitável a continuidade quando nos flagramos saudosos, conversando com as estrelas, com o luar ou apenas com nós mesmos. Ou, pior ainda, quando nos descobrimos dialogando telepaticamente com o ser ausente.
Namastê!
Não há fim quando não houve começo. Tampouco há fim quando laços aparentemente inexplicáveis unem as pessoas. Laços que marcaram momentos, palavras e atitudes intensas, tantas vezes desregradas, injustificadas, incompreendidas, desfocadas de qualquer razão, oriundas tão somente de sentimentos intensos, talvez extremos, que fogem ao racional mas tão compreendidos se observados apenas com a emoção, com o coração, com a alma.
Marcas de um passado recente se comparado à eternidade da vida, mas quem sabe se não corresponde a um passado distante, vivido em outras épocas, em outras vidas.
Afinal, há laços que são eternos...
SP, 11/01/11